quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Gratidão

Mais um ano se vai.
As melhores palavras que me fazem companhia  nesse tempo são ligadas à gratidão.
Em geral agradecemos somente as coisas boas, as alegrias. Mas descobri que é muito importante agradecer todas as coisas, que aconteceram, que fizemos, que fizeram sejam elas boas ou ruins. Nas dificuldades e tristezas descobrimos nossas forças e fraquezas. Aprendemos quem somos. Nas alegrias, nos acertos, nas coisas boas que fizemos e conquistamos revelemos ao mundo quem somos. Enfim, obrigado por tudo. 

Alguns pensamentos para inspirar gratidão:

"A gratidão de quem recebe um benefício é bem menor que o prazzer daquele de quem o faz."
Machado de Assis  
 
"As pessoas felizes lembram o passado com gratidão, alegram-se com o presente e encaram o futuro sem medo." Epicuro
 
"Não cobres tributos de gratidão."  Chico Xavier
 
"Os homens apressam-se mais a retribuir um dano do que um benefício, porque a gratidão é um peso e a vingança, um prazer." Tácito
 
"A gratidão é um fruto de grande cultura; não se encontra entre gente vulgar." Samuel Johnson
 
"Não há no mundo exagero mais belo que a gratidão." Jean de La Bruyère
 
"Aos incapazes de gratidão nunca faltam pretextos para não a ter." Gustave Flaubert
 
"A gratidão é o único tesouro dos humildes." William Shakespeare
 
"A gratidão é a virtude das almas nobres." Esopo

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Fragmentos de sonhos sacrificados

Ando pelas ruas de minha cidade e pelas esquinas de minha memória.
Encontro fragmentos de sonhos perdidos realizados, mas não são os sonhos sonhados.
Lamento pelos restos deixados pelas traças, lamento pela vida não vivida.
Colho flores e frutos do sacrifício.
Vou só por este caminho.

sábado, 27 de novembro de 2010

Mulheres loucas por amor

Morreu a Alzerina. Mas quem era a Alzerina? Era uma dessas pessoas que vagam e divagam pelas ruas, e pela vida por falta de saúde mental. Dizem que ela era uma professora, construiu sua família, trabalhava, mas depois de ser surrada pelo marido durante um resguardo perdeu sua saúde mental. Mas quem conheceu sabe das verdades e sabedorias ditas por ela em meio à sua loucura. Aquelas que só os loucos dizem.
Ela me fazia lembrar de minha bisavó. Minhas tias, minha mãe, minha vó e suas irmãs se revezavam para cuidar dela que viveu até os 96 anos. Convivi, portanto, algumas vezes com ela. Tinha o mesmo problema que a Alzerina e vivia uma situação parecida. Diziam que foi uma quebra resguardo também. Os motivos ninguém afirmava com certeza. Algumas vezes ouvi que ela tinha andado à cavalo naquele período. Outras vezes ouvi um relato que me desperta indignação até hoje.
Diziam que ela não engravidava todos os anos e os vizinhos começaram a comentar que ela usava anticoncepcionais. Naquela época essa era uma prática condenada por todos, especialmente pela igreja que regulava os costumes. Somente prostitutas e mulheres desonestas é que usavam anticoncepcionais.  Especialmente nas regiões do interior e Santa Catarina onde vivia minha bisavó.
Minha bisavó foi à igreja se confessar pois era católica. O padre perguntou sobre o assunto e ela negou que usava anticoncepcionais. No sermão, diante de todos ele retomou o assunto afirmando que além de pecar ela negava o pecado. Depois do ocorrido ela adoeceu. Mas assim como Alzerina ela também dizia suas verdades e sabedorias, aquelas que ninguém dizia. Contam que minha bisavó se zangava e brigava com seu pai para que ele não matasse os índios. Ela afirmava que estes eram gente, tinham alma e que o que ele fazia era um crime e um pecado (crime legitimado pela mesma igreja que condenava os anticoncepcionais, pois era ela que dava o veredicto: 'os índios não são gente, são animais'). O pai de minha bisavó era 'bugreiro' no interior de Santa Catarina, ou seja, ela 'limpava' a área matando índios (que eram chamados de bugres) naquela região para que outros ocupassem o território.
Hoje vemos a noticia do Papa fazendo caridade ao 'permitir' que as prostitutas usem camisinha. Quanta hipocrisia!!!
Fazer esse registro, nesse momento, aqui neste blog, faz parte da campanha: "16 dias de ativismo e luta contra a violência que atinge as mulheres".  
     

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Destino

...chego na fonte de limpidas águas.Lavo meus olhos cansados de chorar.
Olho para mim, olho ao meu redor, olho para quem encontro em meu caminho.
Assim de olhos lavados em limpas águas posso finalmente construir o meu destino.

Lembranças e memória.

Lembranças são como  gotas que batem em meu rosto
e conchas trazidas pelas  ondas que quebram na praia,
Vindas do oceano que é a memória.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Conversações

Seu olhar me fala
do prazer de ali estar
do  querer continuar junto.
Seu olhar cala.
Cala dúvidas, medos e incertezas.
Cala tristezas e inseguranças.
Seu sorriso convida
para a alegria do encontro.
Seu silêncio abre espaço  para o verbo do contrário,
Para o lugar da desesperança.
Insisto, reluto.
Guardo seu olhar,
seu sorriso,
sua voz ,
na lembrança.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Se quiseres...

Vais comigo pra onde eu for...se quiseres assim.
Este vazio em nós terá fim.
Tento explicar até mesmo pra mim.
Viajo no tempo em busca das raizes deste amor.
E reafirmo o que já sei:
Este não é um amor de converter, nem de louvar.
Quando da primeira vez te vi...percebi que nada eu poderia fazer
A não ser  te amar.
Um amor assim, sem razões pra começar,
Razões não terá para ter fim.
Que fazer então, senão amar?!!

terça-feira, 9 de novembro de 2010

O CASAMENTO DE GOVERNO


Equipes & governos
Marcos Fernando

Escolher uma equipe de governo é tão delicado qto escolher um bom casamento. A escolha acertada evitará futuras dores de cabeça. Pode ouvir-se muitas pessoas mas a decisão é pessoal. Se o time for vencedor mt talentos individuais serão reconhecidos mas se for o contrario o técnico vai ser o grande responsabilizado.
Montar um bom governo se assemelha em mt com montar um bom time para vencer o campeonato. Tem q se levar em conta o resultado a ser obtido e o estilo de futebol q se quer jogar. A meu ver os jogadores estrelas, q se julgam mais importantes q o time precisa ser evitados para evitar constrangimentos. Governar é um esporte coletivo. Os “jogadores “ precisam está em profunda sintonia com o “técnico” e o técnico precisa ter plena confiança nos escalados. A equipe precisa está disposta a suar a camisa pra fazer bonito. Abrir mão de interesses e vaidades pessoais em nome de um objetivo maior. É preciso evitar a ingenuidade  e amadorismo dos iniciantes além da arrogância e a soberba dos veteranos. 

   Ao ler este artigo do meu amigo Marcos Fernando fiquei pensando em  comentar  no seu blog (http://balaiodaarte.blogspot.com/), mas o comentário ficou com cara de post e resolvi publica-lo aqui:
      Marcos, em primeiro lugar, se você casar com quem joga no mesmo time fica difícil dar certo pra quem não é homossexual (ou você está propondo que todos sejamos homossexuais?? rs rs rs).
   Mas você não foi totalmente infeliz ao fazer essa proposição. Essa representação/comparação é bastante comum no PT, na FPA e no Governo à muito tempo. Foi muito útil no começo quando o PT e a FPA não era 'ninguém'. Para resistir e se fortalacer era preciso criar esse clima.
    Mas hoje as coisas mudaram muito. É bastante difícil definir a nova realidade e descrever todas as mudanças. Os desafios, portanto, são outros.
      Hoje, tanto o PT, a FPA e o governo, se quiserem continuar indo bem, precisam  contar  com jogadores de esportes coletivos e de esportes individuais(existem pessoas que produzem bem sozinhas e existem aquelas que produzem bem em grupo).Um bom lider ou um bom governante (governante do futuro) tem que gerir, liderar a diversidade, incentivar a tolerância  e buscar a sustentabilidade que só é possível ampliando o espaço para as diferentes habilidades, visões, formas e estratégias de trabalhar.    
      Sejamos realistas, desconfianças e vaidades sempre existiram. Nunca existirá um governo de puros. Portanto pra montar uma boa equipe é bom partir dessa realidade. Se fosse eu a governante iria querer muitas estrelas na minha equipe(sabe aquela expressão?: 'quanto mais estrelas mais iluminado meu caminho', ou aquela outra ' se sua estrela não brilha não tente apagar a minha'). O desafio é esse: governar e liderar estrelas.
      Depois que ficou muito forte essa idéia de time, o câncer que hoje corrói o PT e a FPA (no Acre e no Brasil também) ganhou a dimensão que hoje ameaça sua existência. O fisiologismo que cresce à olhos vistos, o cordão do puxa-saco que cada vez aumenta mais  se fortalece muito quando se trabalha com  a idéia de time (pense nisso!).
     Existia no PT uma boa dúzia de lavadeiras (dessas que levam a trouxa para a beira do igarapé e com um bom porrete batem com muita força até tirar a sujeira daquelas roupas mais grossas). Muitas foram expulsas, outras intimidadas e outras sem saber o que fazer desistiram. 
       Uma boa equipe precisa das lavadeiras, pois do contrário chega-se ao fim do governo e tem tanta roupa suja acumulada atrás das portas, tanta sujeira debaixo do tapete que ninguém aguenta a fedentina.
       Houve um tempo que criou-se um clima de que bons são somente os propositivos. Os críticos deviam ser banidos. Fortaleceu-se tanto os espaços dos propositivos que hoje tem um monte de gente com uma malinha cheia de receitas prontas, remédios pra todas as doenças e  poucos com capacidade crítica e autocritica. A realidade é dinâmica  e quando alguém aparece fazendo críticas é logo isolado como se estivesse com alguma doença contagiosa. O governo precisa de gente que tenha ouvido bom e muita criatividade pra dar respostas à dinamicidade da realidade e àquelas questões que não estão no scrip ou na malinha das proposições.
     Acredito até que em cada secretaria ou ministério o governo deveria ter duas equipes: uma para elaborar as ações e intervenções e outra pra elaborar as críticas. Mas não críticas frágeis e superficiais, aquelas boas mesmo (usar a estratégia das vacinas).   
      Outra coisa, os governantes precisam entender bem como funcionam as relações de interdependência que é a relação entre individuos ou grupos independentes. O mau funcionamento de muitos espaços públicos deve-se às formas centralizadoras de gestão  onde tudo emperra por conta de uma dependência entre comandantes e comandados.
         Mas não adiante se iludir muito. O 'time' já está 90% definido em compromisssos com  apoiadores desde o início da campanha(que por sinal começou à mais de quatro anos) . Mas palpitar e exercitar o diálogo sempre é bom.           
       
       

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Uma sombra no topo da escada

   É assim que vejo a nova presidente do Brasil. Isso me causa um desconforto como mulher que sou. Não. Não estou desfazendo do valor que ela tem. Pelo contrário. Admiro essas plantas que crescem na sombra. Mas sabem como é aquela história: 'narciso acha feio o que não é espelho'. Tenho mais tendência a me identificar com os girassóis. Sempre me incomodei muito com essa mulheres boazinhas que agradam o chefinho, porque nunca fui uma delas. Isso sempre me custou muito caro. Depois de rolar escada abaixo inumeras vezes, lambendo as feridas já jurei mudar e aprender com as princesas boazinhas que sempre são salvas por um bom principe no cavalo branco. Mas quando vejo já estou lá, cricri e incomodada.
   O último desconforto que me inspira essa escrita foi o primeiro discurso da presidenta eleita. Os maiores aplausos vieram quando ela falou no Lula. Os presentes até cantaram Lula-lá nesse momento em que deveriam cantar Dilma-lá. Se fosse eu iria me sentir humilhada e teria jogado o microfone na cabeça dos ouvintes (vejam como sou). Mas ela não, cantou junto e até ajudou a aplaudir.
         Mas um dia eu aprendo! 

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

A cartomante

    À cerca de uns vinte anos atrás eu e mais duas amigas ( a Filó e a Eliete)  fomos à uma cartomante. Queriamos saber de nosso futuro como muitas jovens fazem hoje.
   Ela embaralhou as cartas, pediu que a Filó cortasse e distribuiu sobre a mesa algumas delas. Foi virando uma à uma e concluiu dizendo: 'você vai morar e trabalhar longe daqui'. Hoje a Filó mora no Nordeste. Depois pôs as cartas para a Eliete e fez a previsão: 'vejo um companheiro com que você viverá sua vida'. A Eliete, que então era separada, depois de algum tempo se casou e foi viver com seu companheiro lá no Conjunto Universitário.
    Chegou a minha vez. Ela embaralhou, pediu que eu cortasse e depois foi virando as cartas. Quando chegou na última, antes de virar a carta ela a espiou e olhou para mim, espiou a segunda vez e tornou a olhar para mim e quando ela estava espiando a terceira vez eu já estava achando que algo grave aconteceria. E então num tom quase fatalista ela disse: 'quem quer seguir nos caminhos de Deus não encontra facilidade nessa vida'.
    Essas lembranças derepente me ocorreram e logo vieram outras. Uma de minha infância quando eu tinha por volta de quatro anos. Eu não ia para a escola ainda. Minha irmã mais velha já se alfabetizava. Eu estava foleando uma cartilha que ela usava. Na cartilha tinha um desenho de um diabozinho, todo vermelho com chifrinhos e rabinho e uma carinha de garoto travesso. Olhei para os lados e percebi que ninguém me observava e então disse à ele em tom de segredo: sabe diabozinho, sei que você só faz maldades por que acha que ninguém gosta de você. Mas eu vou te dizer uma coisa: não faça mais maldades pois eu gosto de você.      
   Já nessa época eu acreditava (talvez ingenuamente , mas talvez  nem tanto) que o meu amor poderia converter até o diabozinho.
    Depois quando cresci descobri uma lenda chinesa que fala de uma princesa moradora das nuvens. De lá ela observava na terra uma tragédia, onde um furioso Dragão sempre saia  de sua escura caverna e devorava crianças que brincavam numa praia. Triste e comovida com as familias que sofriam desceu das nuvens e casou-se com o Dragão. Enfeitou sua caverna com muitas flores, tornou-o feliz e então à patir daquele momento ele não devorou mais nenhuma criancinha.
    Mas até hoje ainda me pergunto: O amor é uma estratégia de transformação do mundo que os sábios usam ou é uma maneira ingênua de se relacionar??

sábado, 16 de outubro de 2010

Um dia você aprende...

Depois de algum tempo você aprende a diferença, a sutil diferença, entre dar a mão e acorrentar uma alma.


E você aprende que amar não significa apoiar-se, que companhia nem sempre significa segurança, e começa a aprender que beijos não são contratos, e que presentes não são promessas.

Começa a aceitar suas derrotas com a cabeça erguida e olhos adiante, com a graça de um adulto e não com a tristeza de uma criança; aprende a construir todas as suas estradas no hoje, porque o terreno do amanhã é incerto demais para os planos, e o futuro tem o costume de cair em meio ao vão.

Depois de um tempo você aprende que o sol queima se ficar exposto por muito tempo, e aprende que não importa o quanto você se importe, algumas pessoas simplesmente não se importam… aceita que não importa quão boa seja uma pessoa, ela vai ferí-lo de vez em quando e você precisa perdoá-la por isso.

Aprende que falar pode aliviar dores emocionais, e descobre que se leva anos para se construir confiança e apenas segundos para destruí-la, e que você pode fazer coisas em um instante, das quais se arrependerá pelo resto da vida; aprende que verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distâncias, e o que importa não é o que você tem na vida, mas quem você tem na vida, e que bons amigos são a família que nos permitiram escolher.

Aprende que não temos que mudar de amigos se compreendemos que eles mudam; percebe que seu melhor amigo e você podem fazer qualquer coisa, ou nada, e terem bons momentos juntos.

Descobre que as pessoas com quem você mais se importa na vida são tomadas de você muito depressa, por isso sempre devemos deixar as pessoas que amamos com palavras amorosas; pode ser a última vez que as vejamos.

Aprende que as circunstâncias e os ambientes tem influência sobre nós, mas nós somos responsáveis por nós mesmos.

Começa a aprender que não se deve compará-los com os outros, mas com o melhor que pode ser.

Descobre que se leva muito tempo para se tornar a pessoa que quer ser, e que o tempo é curto.

Aprende que não importa onde já chegou, mas onde se está indo, mas se você não sabe para onde está indo qualquer lugar serve.

Aprende que ou você controla seus atos ou eles o controlarão, e que ser flexível não significa ser fraco ou não ter personalidade, pois não importa quão delicada e frágil seja uma situação, sempre existem dois lados.

Aprende que heróis são pessoas que fizeram o que era necessário fazer, enfrentando as conseqüências. Aprende que paciência requer muita prática.

Descobre que algumas vezes a pessoa que você espera que o chute quando você cai é uma das poucas que o ajudam a levantar-se; aprende que maturidade tem mais a ver com os tipos de experiência que se teve e o que você aprendeu com elas do que com quantos aniversários você celebrou; aprende que há mais dos seus pais em você do que você supunha; aprende que nunca se deve dizer a uma criança que sonhos são bobagens; poucas coisas são tão humilhantes… e seria uma tragédia se ela acreditasse nisso.

Aprende que quando se está com raiva se tem o direito de estar com raiva, mas isso não te dá o direito de ser cruel.

Descobre que só porque alguém não o ama do jeito que você quer que ame não significa que esse alguém não o ama com tudo o que pode, pois existem pessoas que nos amam, mas simplesmente não sabem como demonstrar ou viver isso. Aprende que nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém; algumas vezes você tem que aprender a perdoar-se a si mesmo.

Aprende que com a mesma severidade com que julga, você será em algum momento condenado.

Aprende que não importa em quantos pedaços seu coração foi partido, o mundo não pára para que você o conserte.

Aprende que o tempo não é algo que possa voltar para trás, portanto, plante seu jardim e decore sua alma ao invés de esperar que alguém lhe traga flores, e você aprende que realmente pode suportar… que realmente é forte e que pode ir muito mais longe depois de pensar que não se pode mais.

Descobre que realmente a vida tem valor e que você tem valor diante da vida! Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o bem que poderíamos conquistar, se não fosse o medo de tentar.

William Shakespeare

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Surpresa

   Ao notar sua presença (ELE) meu coração dispara(que bom! me sinto viva). No instante seguinte meu esforço é: contenha-se, não se expresse de forma inconveniente e que venha a criar situações vexatórias e constrangimentos.
  Fico a pensar que todas as pessoas são como postes. Todos eles são importantes numa rede elétrica. Mas porque meu coração acha de inventar significados especiais para alguns postes(ou pessoas) e bater mais veementemente por elas?
   Isso tudo cria uma tensão quase insuportável entre mim e ELE (meu coração). 

   Essa tensão faz doer de forma tão intensa que as lágrimas brotam dos olhos. Não vou mais ligar pra ELE, esquecê-lo. Mas de vez em quando ELE me pega desprevenida.
  Aí, vem aquela coisa toda: já tem a crise social, a crise econômica, a crise política, a crise ambiental e agora a existencial também?!!
  Coração, coração, você bem que podia dar uma trégua!!!

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Conflitos e Paz

  Para muitos a paz é ausência de conflitos. Mas depois de muito tempo descobri que a paz somente existe quando os conflitos  são aceitos, vividos como uma expressão da diversidade de opiniões, idéias, culturas, formas de vida, etc... A paz é sim fruto da justiça. A justiça não existe quando quando negamos os conflitos. Quando alguém cede negando a si mesmo direitos ou então negando  sua própria natureza para alcançar a paz não há justiça e portanto não haverá paz.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Ser contra

  
   Há algum tempo atrás aprendi uma lição importante da vida: não devemos ser contra as pessoas, mas contra as coisas erradas feitas pelas pessoas. 
  Parece  simples e fácil viver assim, colocar em prática. Mas é um dos maiores desafios que já enfrentei. 

...

sexta-feira, 16 de julho de 2010

PÊNDULO

Te vejo oscilar
Entre a sombra e a luz
Entre a tristeza e a alegria
Entre a dor e a felicidade
Entre a coragem e o medo
Entre a esperança e o desespero
Entre o cansaço e a leveza
Entre ir e ficar

Se pudesse te segurava 
No destino que mereces. 

terça-feira, 22 de junho de 2010

São João

O Balão vai subindo
Vem vindo a garoa
O Céu é tão lindo
E a Noite é tão boa
São João, São João
Acende a fogueira do meu coração.

...do meu, do teu, do coração de todo mundo e aquece de fraternidade e amor  a humanidade.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Ter ou não ter namorado? Eis a questão


Está chegando o dia dos namorados. Para inspirar quem tem e quem não tem vou postar uma poesia do Carlos Drummond de Andrade:
Quem não tem namorado é alguém que tirou férias não remuneradas de si mesmo. Namorado é a mais difícil das conquistas. Difícil porque namorado de verdade é muito raro. Necessita de adivinhação, de pele, saliva, lágrima, nuvem, quindim, brisa ou filosofia.
Paquera, gabiru, flerte, caso, transa, envolvimento, até paixão, é fácil. Mas namorado, é muito difícil.
Namorado não precisa ser o mais bonito, mas ser aquele a quem se quer proteger e quando se chega ao lado dele a gente treme, sua frio e quase desmaia pedindo proteção. A proteção dele não precisa ser parruda, decidida; ou bandoleira: basta um olhar de compreensão ou mesmo aflição.
Quem não tem namorado não é quem não tem um amor: é quem não sabe o gosto de namorar. Se você tem três pretendentes, dois paqueras, um envolvimento e dois amantes; mesmo assim pode não ter nenhum namorado.
Não tem namorado quem não sabe o gosto da chuva, cinema sessão das duas, medo do pai, sanduíche de padaria ou drible no trabalho. Não tem namorado quem transa sem carinho, quem se acaricia sem vontade de virar sorvete ou lagartixa e quem ama sem alegria. Não tem namorado quem faz pactos de amor com a infelicidade. Namorar é fazer pactos com a felicidade ainda que rápida, escondida, fugidia ou impossível de durar..
Não tem namorado quem não sabe o valor de mãos dadas; de carinho escondido na hora em que passa o filme; de flor catada no muro e entregue de repente; de poesia de Fernando Pessoa, Vinícius de Moraes ou Chico Buarque lida bem devagar; de gargalhada, quando fala junto ou descobre a meia rasgada; de ânsia enorme de viajar junto para a Escócia ou mesmo de metrô, bonde, nuvem, cavalo alado, tapete mágico ou foguete interplanetário.
Não tem namorado quem não gosta de dormir agarrado, fazer sesta abraçado, fazer compra junto. Não tem namorado quem não gosta de falar do próprio amor, nem de ficar horas e horas olhando o mistério do outro dentro dos olhos dele, abobalhados de alegria pela lucidez do amor. Não tem namorado quem não redescobre a criança própria e a do amado e sai com ela para parques, fliperamas, beiras d'água, show do Milton Nascimento, bosques enluarados, ruas de sonhos ou musical da Metro.
Não tem namorado quem não tem música secreta com ele, quem não dedica livros, quem não recorta artigos, quem não se chateia com o fato de seu bem ser paquerado. Não tem namorado quem ama sem gostar,, quem gosta sem curtir; quem curte sem aprofundar. Não tem namorado quem nunca sentiu o gosto de ser lembrado de repente no fim de semana, na madrugada ou meio-dia do dia de sol em plena praia cheia de rivais. Não tem namorado quem ama sem se dedicar,- quem namora sem brincar,- quem vive cheio de obrigações; quem faz sexo sem esperar o outro ir junto com ele.
Não tem namorado quem confunde solidão com o ficar sozinho e em paz. Não tem namorado quem não fala sozinho, não ri de si mesmo e quem tem medo de ser afetivo.

Se você não tem namorado porque não descobriu que o amor é alegre e você vive pensando duzentos quilos de grilos e de medos, ponha a saia mais leve, aquela de chita e passeie de mãos dadas com o ar. Enfeite-se com margaridas e ternuras e escove a alma com leves fricções de esperança. De alma escovada e coração estouvado, saia do quintal de si mesmo e descubra o próprio jardim. Acorde com gosto de caqui e sorria lírios para quem passe debaixo de sua janela.
Ponha intenções de quermesse em seus olhos e beba licor de contos de fada. Ande como se o chão estivesse repleto de sons de flauta e do céu descesse uma névoa de borboletas, cada qual trazendo uma pérola falante a dizer frases sutis e palavras de galanteria. Se você não tem namorado é porque ainda não enlouqueceu aquele pouquinho necessário a fazer a vida parar e de repente parecer que faz sentido.
Enlou-cresça.


segunda-feira, 7 de junho de 2010

Tecendo o fio do tempo

Vou tecendo o fio do tempo
à espera de manhãs livres
quando pudermos passear de mãos dadas
pelos jardins da vida
e baixinho eu dizer em seu ouvido
as palavras de amor que precisas ouvir. 

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Tempo

Houve um tempo em que eu escrevia poesia. Em 1991 escrevi esta:

Ah! tempo...
Te ver fluindo pelos dedos
como água cristalina e corrente.
Te ganhar,
te sentir perdido.
Te esperar
como se espera o natal.
Te planejar.
Te desperdiçar.
Ser tua dona,,
ser tua escrava.
Te perder sem querer viver
ou te viver perdendo?
Te odiar por me submeteres.
Te amar por me prometeres.
Cansar por não te ver passar.
Sonhar que pudesses parar em algum momento....
e ser eterna,
ou então...viver só um momento.
Ah! tempo...
Sonho em te domar....
Como se pudesse domar o vento.
 
    

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Afinal, o que querem as mulheres ???

Blog de malu53 :'Contos e Sonhos', Rei Arthur - O que querem as mulheres?A

O jovem Rei Arthur foi surpreendido pelo monarca do reino vizinho enquanto caçava furtivamente num bosque. O Rei poderia tê-lo matado no ato, pois era o castigo para quem violasse as leis da propriedade, contudo se comoveu ante a juventude e a simpatia de Arthur e lhe ofereceu a liberdade, desde que no prazo de um ano trouxesse a resposta a uma pergunta difícil. 

A pergunta era: O que querem as mulheres? Semelhante pergunta deixaria perplexo até o mais sábio, e ao jovem Arthur lhe pareceu impossível de respondê-la. 

Contudo aquilo era melhor do que a morte, de modo que regressou a seu reino e começou a interrogar as pessoas: a princesa, a rainha, as prostitutas, os monges, os sábios, o bobo da corte, em suma, a todos e ninguém soube dar uma resposta convincente. 

Porém todos o aconselharam a consultar a velha bruxa, porque somente ela saberia a resposta. O preço seria alto, já que a velha bruxa era famosa em todo o reino pelo exorbitante preço cobrado pelos seus serviços. 

Chegou o último dia do ano acordado e Arthur não teve mais remédio senão recorrer a feiticeira. Ela aceitou dar-lhe uma resposta satisfatória, com uma condição: primeiro aceitaria o preço. Ela queria casar-se com Gawain, o cavaleiro mais nobre da mesa redonda e o mais intimo amigo do Rei Arthur! 

O jovem Arthur a olhou horrorizado: era feíssima, tinha um só dente, desprendia um fedor que causava náuseas até a um cachorro, fazia ruídos obscenos... nunca havia topado com uma criatura tão repugnante. 

Acovardou-se diante da perspectiva de pedir a um amigo de toda a sua vida para assumir essa carga terrível. 

Não obstante, ao inteirar-se do pacto proposto, Gawain afirmou que não era um sacrifício excessivo em troca da vida de seu melhor amigo e a preservação da Mesa Redonda. 

Anunciadas as bodas, a velha bruxa, com sua sabedoria infernal, disse: O que realmente as mulheres querem é Serem Soberanas de suas próprias vidas!! 

Todos souberam no mesmo instante que a feiticeira havia dito uma grande verdade e que o jovem Rei Arthur estaria salvo. 

Assim foi, ao ouvir a resposta, o monarca vizinho lhe devolveu a liberdade. Porém que bodas tristes foram aquelas.....toda a corte assistiu e ninguém sentiu mais desgarrado entre o alívio e a angústia, que o próprio Arthur. Gawain, se mostrou cortês, gentil e respeitoso. 

A velha bruxa usou de seus piores hábitos, comeu sem usar talheres, emitiu ruídos e um mau cheiro espantoso. Chegou a noite de núpcias. 

Quando Gawain, já preparado para ir para a cama, aguardava sua esposa, ela apareceu como a mais linda e charmosa mulher que um homem poderia imaginar! Gawain ficou estupefato e lhe perguntou o que havia acontecido. 

A jovem lhe respondeu com um sorriso doce, que como havia sido cortês com ela, a metade do tempo se apresentaria horrível e outra metade com o aspecto de uma linda donzela. 

Então ela lhe perguntou qual ele preferiria para o dia e qual para a noite. Que pergunta cruel...Gawain se apressou em fazer cálculos... 

Poderia ter uma jovem adorável durante o dia para exibir a seus amigos e a noite na privacidade de seu quarto uma bruxa espantosa ou quem sabe ter de dia uma bruxa e uma jovem linda nos momentos íntimos de sua vida conjugal. 

Vocês, o que teriam preferido? ... O que teriam escolhido?????A escolha que fez Gawain está, mais adiante, porém, antes tome a sua decisão. ATENÇÃO É MUITO IMPORTANTE QUE VOCÊ SEJA SINCERO.

O nobre Gawain respondeu que a deixaria escolher por si mesma. Ao ouvir a resposta, ela anunciou que seria uma linda jovem de dia e de noite, porque ele a havia respeitado e permitido ser SOBERANA DE SUA PRÓPRIA VIDA. 

MORAL DA HISTÓRIA... Não importa se a mulher é bonita ou feia ... no fundo ela é sempre uma bruxa ou uma fada... ela se transformará de acordo com a forma que você a tratar...

terça-feira, 18 de maio de 2010

18 de Maio: dia de enfrentamento ao abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes

   O primeiro passo dessa luta é entender a diferença entre abuso e exploração sexual. Porquê? Porque como todo problema social exige um entendimento preciso para uma interveção também precisa.
    Quando se fala em abuso refere-se à todas as violências sexuais que uma criança ou adolescente sofre no ambiente familiar, escolar e comunitário e que não envolve a exploração comercial. Já quando se fala em exploração sexual estamos falando do que antigamente era chamada de prostituição infantil.  Não se trata de uma mera questão de  terminologia. Crianças e  adolecentes  não se prostituem pois tal fato só ocorreria como opção, escolha consciente, o que não é o caso. Crianças e adolescentes em fase peculiar de desenvolvimente (como é preceito do ECA) não estão  aptas ou preparadas a decidir ou escolher à respeito de tal assunto.
     Outro aspecto a entender à respeito dessa questão é que nesses casos existem tanto a violência interpessoal , como a violência social e estrutural que vitima crianças e adolescentes. Para cada uma dessas situações as intervenções também são diferentes.
    Em geral busca-se a a criminalização do agressor numa  situação de violência interpessoal, mas pouco se fala das outras intervenções tão necessárias que sem elas a revitimização sempre acaba ocorrendo ou a prevenção não ocorre.
     O atendimento às crianças e adolescentes bem como às suas familias é tão importante como a criminalização dos agressores, pois reduz a revitimização e as sequelas. Ela precisa ser feita com qualidade.
   Quando se fala em exploração sexual, as intervenções adiquirem outros sentidos. Os grupos sociais vulneráveis à esse tipo de violência precisam de politicas públicas diversas que diminuam suas vulnerabilidades. Questões sócio-econômicas, culturais, étnicas e raciais são fatores que contribuem com essa vulnerabilização. Toda intervenção que fortaleça a identidade desses grupos, contribui previnindo essas situações. Familias, grupos e comunidades que recuperam ou preservam a ética do cuidado e que são socialmente valorizados não diminuem 'seu preço' na luta pela sobrevivência, expondo filhos e filhas (muitas vezes vendendo mesmo) aos grupos não tão éticos assim (turistas, elite mal resolvida na sua sexualidade e que prefere compar sexo com crianças e adolescentes à tratar seus desvios, aliciadores, dentre outros).
     A interveção integral seja na prevenção ou no tratamento dos casos ocorridos deve ser uma meta a ser alcançada por todos que querem contribuir com a solução desse problema. Faça sua parte.       
  

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Contradição


Maçã de lata
Livro de prata
Tesoura de algodão.
No mundo a contradição
Que a arte retrata.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Não resistir ao novo é....

Dentre outras coisas:

1 - O comando de greve  e os professores  reconhecerem a luta do governo e dos gestores da educação e todas as inovações por ele construída nos últimos anos;

2 - O comando de greve, os professores, o governo e os gestores da educação pararem de competir em torno de um discurso competente ( uma 'boa imagem) para bem passar junto à população ( muitas vezes tentando manipula-la). Ambos terem uma postura ética com a população;


3 - Ter uma postura ética é:
                                            O governo não negar o direito legítimo à greve dos professores e não desconsiderar suas legítimas reivindicações tentando convecer a população e manipula-la contra os grevistas;

                                            Os grevistas não jogarem a população contra o governo como se este não estivesse lutando por melhorias na educação;

4 -  O governo parar de contabilizar os feitos e contabilizar também o que falta fazer (que é mmmuuuiito) bem como seu potencial de realização e levar tudo para a mesa de negociação;

terça-feira, 11 de maio de 2010

Por que tanta resistência ao novo??

De nada adianta o discurso competente
  se a ação pedagógica é impermeável
                          à mudanças.
                         (Freire,1999)

quarta-feira, 5 de maio de 2010

A moça tecelã

Lendo esse conto de  Marina Colasanti perdi alguns medos de viver.

Acordava ainda no escuro, como se ouvisse o sol chegando atrás das beiradas da noite. E logo sentava-se ao tear.

Linha clara, para começar o dia. Delicado traço cor da luz, que ela ia passando entre os fios estendidos, enquanto lá fora a claridade da manhã desenhava o horizonte.
Depois lãs mais vivas, quentes lãs iam tecendo hora a hora, em longo tapete que nunca acabava.

Se era forte demais o sol, e no jardim pendiam as pétalas, a moça colocava na lançadeira grossos fios cinzentos  do algodão  mais felpudo. Em breve, na penumbra trazida pelas nuvens, escolhia um fio de prata, que em pontos longos rebordava sobre o tecido. Leve, a chuva vinha cumprimentá-la à janela.

Mas se durante muitos dias o vento e o frio brigavam com as folhas e espantavam os pássaros, bastava a moça tecer com seus belos fios dourados, para que o sol voltasse a acalmar a natureza.

Assim, jogando a lançadeira de um lado para outro e batendo os grandes pentes do tear para frente e para trás, a moça passava os seus dias.

Nada lhe faltava. Na hora da fome tecia um lindo peixe, com cuidado de escamas. E eis que o peixe estava na mesa, pronto para ser comido. Se sede vinha, suave era a lã cor de leite que entremeava o tapete. E à noite, depois de lançar seu fio de escuridão, dormia tranqüila.

Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.

Mas tecendo e tecendo, ela própria trouxe o tempo em que se sentiu sozinha, e pela primeira vez pensou em como seria bom ter um marido ao lado.

Não esperou o dia seguinte. Com capricho de quem tenta uma coisa nunca conhecida, começou a entremear no tapete as lãs e as cores que lhe dariam companhia. E aos poucos seu desejo foi aparecendo, chapéu emplumado, rosto barbado, corpo aprumado, sapato engraxado. Estava justamente acabando de entremear o último fio da ponto dos sapatos, quando bateram à porta.

Nem precisou abrir. O moço meteu a mão na maçaneta, tirou o chapéu de pluma, e foi entrando em sua vida.

Aquela noite, deitada no ombro dele, a moça pensou nos lindos filhos que teceria para aumentar ainda mais a sua felicidade.

E feliz foi, durante algum tempo. Mas se o homem tinha pensado em filhos, logo os esqueceu. Porque tinha descoberto o poder do tear, em nada mais pensou a não ser nas coisas todas que ele poderia lhe dar.

— Uma casa melhor é necessária — disse para a mulher. E parecia justo, agora que eram dois. Exigiu que escolhesse as mais belas lãs cor de tijolo, fios verdes para os batentes, e pressa para a casa acontecer.

Mas pronta a casa, já não lhe pareceu suficiente.

— Para que ter casa, se podemos ter palácio? — perguntou. Sem querer resposta imediatamente ordenou que fosse de pedra com arremates em prata.


Dias e dias, semanas e meses trabalhou a moça tecendo tetos e portas, e pátios e escadas, e salas e poços. A neve caía lá fora, e ela não tinha tempo para chamar o sol. A noite chegava, e ela não tinha tempo para arrematar o dia. Tecia e entristecia, enquanto sem parar batiam os pentes acompanhando o ritmo da lançadeira.

Afinal o palácio ficou pronto. E entre tantos cômodos, o marido escolheu para ela e seu tear o mais alto quarto da mais alta torre.

— É para que ninguém saiba do tapete — ele disse. E antes de trancar a porta à chave, advertiu: — Faltam as estrebarias. E não se esqueça dos cavalos!

Sem descanso tecia a mulher os caprichos do marido, enchendo o palácio de luxos, os cofres de moedas, as salas de criados. Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.

E tecendo, ela própria trouxe o tempo em que sua tristeza lhe pareceu maior que o palácio com todos os seus tesouros. E pela primeira vez pensou em como seria bom estar sozinha de novo.

Só esperou anoitecer. Levantou-se enquanto o marido dormia sonhando com novas exigências. E descalça, para não fazer barulho, subiu a longa escada da torre, sentou-se ao tear.
Desta vez não precisou escolher linha nenhuma. Segurou a lançadeira ao contrário, e jogando-a veloz de um lado para o outro, começou a desfazer seu tecido. Desteceu os cavalos, as carruagens, as estrebarias, os jardins.  Depois desteceu os criados e o palácio e todas as maravilhas que continha. E novamente se viu na sua casa pequena e sorriu para o jardim além da janela.
A noite acabava quando o marido estranhando a cama dura, acordou, e, espantado, olhou em volta.  Não teve tempo de se levantar. Ela já desfazia o desenho escuro dos sapatos, e ele viu seus pés desaparecendo, sumindo as pernas. Rápido, o nada subiu-lhe pelo corpo, tomou o peito aprumado, o emplumado chapéu.
Então, como se ouvisse a chegada do sol, a moça escolheu uma linha clara. E foi passando-a devagar entre os fios, delicado traço de luz, que a manhã repetiu na linha do horizonte.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Assim é a vida...


   As rosas perdem seu perfume, suas pétalas caem... para dar lugar à uma nova rosa.
   Assim é a vida.
  Se no passado me machuquei nos espinhos, hoje a vida oferece novas oportunidades de lidar com os espinhos sem me machucar.




sábado, 17 de abril de 2010

POEMA DE MILAREPA


A pintura dourada se desbota com o tempo,
as lindas flores do campo logo fenecem, os pálidos raios da lua logo se devanecem,
o rio caudaloso dilui-se no mar,
o arroz que cresce no vale logo é colhido,
o filho querido cresce e logo se vai para sempre.

Isto mostra a transitoriedade de todas as coisas. Isto prova a impermanência de todas as coisas. Pense e você tomará consciência.

Estas são as comparações que canto,
espero que você se recorde sempre.
Preocupações e sofrimento sempre existirão, então deixe-os de lado,
e viva segundo esta grande consciência.

segunda-feira, 22 de março de 2010

A Jibóia, Guardiã do Nixi Pae (Ayauaska) entre os Huni Kui(Kaxinawás)


O mito do surgimento da Ayauaska, contado entre os Huni Kui (Kaxinawás) em várias versões, narra a história de um indio caçador e de uma mulher encantada.
Em uma de suas caçadas o indio caçador chega a beira de um lago onde encontrou um pé de jenipapo, fruta muito procurada por diversos animais. Parou, e ficou de tocaia esperando a caça que aparecesse. Depois de um longo tempo apareceu uma anta (awa). Ao invés de comer as frutas, a anta pegou três delas e se dirigiu para o lago onde as jogou para baixo, para cima e no meio. Logo começou a sair muita espuma do meio do lago. No meio da espuma boiou uma mulher clara de cabelos compridos e lisos e muito bonita. Era uma mulher jibóia que subiu para a terra, abraçou, beijou e teve relações com awa.
Na tocaia o homem descobriu o segredo de awa e somente observando apaixonou-se pela mulher encantada.
Quando awa foi embora a mulher sumiu dentro do lago. O caçador então saiu de dentro da tocaia e fez do mesmo jeito que awa. Pegou três frutas, jogou dentro do lago. Demorou pouco tempo e começou a sair a espuma e novamente apareceu uma linda mulher que subiu para o beira do lago.
Encontrando o caçador começaram a conversar. Ele falou, contou que viu tudo que a anta fez e que decidiu fazer o mesmo. Ela disse: - Eu não sou daqui, moro muito longe e perguntou: - Você tem mulher? Ele respondeu: - Tenho. E você tem marido? Ela falou: - Somente um namorado. Então ele pediu: - Vamos namorar? Namoram, fizeram amor e ela gostou muito e não quis mais deixa-lo. Ela chamou ele para morarem juntos e ele aceitou.Foi com ela para a terra da jibóia, debaixo da água, no outro mundo.
Chegando lá foi apresentado aos parentes dela que gostaram muito dele. Morou lá por doze anos e teve três filhos com a jibóia.
Um dia a mulher jibóia começou a preparar cipó para tomar com seu povo. Ele quis saber o que era e ela disse que era um chá para ver coisas bonitas. Então o caçador disse que ia tomar também. Ela disse que era muito forte e ele era muito novo ali e não poderia tomar. Ele insitiu e tomou.
Quando a miração chegou ele viu que seu sogro era uma jibóia e o estava engolindo. Então começou a gritar, e enquanto gritava contava sua vida. Então dentro da miração descobriu que sua mulher era uma jibóia e que ele estava encantado.
Quando a miração acabou ele ficou muito triste e desconfiado. Os parentes da mulher jibóia não ficaram mais gostando dele. Então o caçador descobriu que sua mulher jibóia estava planejando mata-lo e fugiu pra junto de sua antiga família deste lado do mundo. Contou tudo que se passara com ele e ficou morando com seu cunhado.
Depois de um tempo ele voltou a caçar na beira do lago. Seus filhos com a jibóia preocupados com seu desaparecimento passaram a procura-lo e o encontraram na beira do lago e então começaram a engoli-lo. Não conseguiram e chamaram sua mãe. Quando ela estava engolindo ele até a cintura ele começou a gritar chamando seus outros parentes do mundo de cá:
-Venham parentes. As jibóias estão me engolindo!
No final desse mito existem duas versões. Numa delas os parentes conseguem tirar o caçador da jibóia. Ele todo quebrado passa um tempo doente na rede. Diz ao cunhado que quando morrer na sua sepultura nascerá na parte direita um cipó e na esquerda uma árvore. Diz como deve fazer e usar o chá (Ayauaska) dizendo que ele estará dentro dele ensinando. 
Na outra versão, os parentes matam a jibóia. O caçador, então, antes de morrer, pede que os enterrem um a lado do outro. Fala que na sua sepultura nascerá um cipó e na sepultura da jibóia nascerá uma árvore.                                                                                                                     Desenho do Professor Isaias Ibã Sales Kaxinawá
Diz, então: - Tira o cipó, corta um palmo de comprido, bate com um pedaço de pau, tira a casca,bota água junto com a folha da árvore e cantando pode cozinhar por um tempo.   E diz também:  - Quando tomar o chá eu e a Jibóia estaremos dentre dele ensinando e explicando tudo pra você.
Enterraram o caçador e a jibóia. Depois de seis meses, o cunhado foi na sepultura, encontrou o cipó e a árvore. Fez tudo como o caçador havia dito. Mirou muito e viu o futuro, o presente e o passado. 

Os Kenes são ensinos da Jibóia

Os kenes são desenhos geométricos que lembram os a pele da jibóia. São pintados na cerâmica, no corpo e tecidos nas roupas, redes, cestos, bolsas e acessórios. Segundo um dos mitos do povo Huni Kui (Kaxinawás) o kene é um conhecimento das mulheres e vieram de Yube, a jibóia encantada.

Yube é o dono desses desenhos e foi ele quem os deu para meu povo. É a nossa identidade, força e proteção”. (...) São vinte e quatro Kene básicos no corpo da jibóia. Nesses desenhos estão representados vários elementos da natureza. Eu comparo esses Kene com as letras do ABC, que servem pra formar palavras. Cada um deles tem um nome. As mulheres vão combinando esses kene básicos entre si e dando origem a outros kene. (...)
O kene é como um espírito visível dos trabalhos das mulheres. Nós acreditamos que tudo que tem na natureza tem espírito. Na nossa língua chamamos yuxim. Quando uma mulher trabalha com kene ela trabalha com vários yuxim da natureza....da água, do fogo para tingir o algodão, da palha para tecer, do barro para fazer utensílios. O kene é o espírito visível de todas as forças da natureza.
E nós podemos conversar e trabalhar com outros yuxim porque também somos yuxim.”Agostinho Muru Kaxinawá, pesquisador indígena da TI dos rios Breu e Jordão (CPI, OPIAC,S/D)



Texto: Marisa Fontana, historiadora e pós graduanda em psicopedagogia.

Referências bibliograficas:
CUNHA, Manoela Carneiro da, ALMEIDA, Mauro Barbosa de.(Organizadores) Enciclopédia da floresta.São Paulo: Companhia das Letras. 2002. Página 382.
MAIA, Dedê.(Organizadora) Huni Meka: cantos do Nixi Pae. Rio Branco: Comisão Pró-Indio, 2007.
ORGANIZAÇÃO DOS PROFESSORES INDIGENAS DO ACRE/OPIAC. A arte do Kene.Rio Branco. Sem Data.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Aviso da lua que menstrua

 
Moço, cuidado com ela!
Há que se ter cautela com esta gente que menstrua...
Imagine uma cachoeira às avessas:
cada ato que faz, o corpo confessa.
Cuidado, moço
às vezes parece erva, parece hera
cuidado com essa gente que gera
essa gente que se metamorfoseia
metade legível, metade sereia.
Barriga cresce, explode humanidades
e ainda volta pro lugar que é o mesmo lugar
mas é outro lugar, aí é que está:
cada palavra dita, antes de dizer, homem, reflita..
Sua boca maldita não sabe que cada palavra é ingrediente
que vai cair no mesmo planeta panela.
Cuidado com cada letra que manda pra ela!
Tá acostumada a viver por dentro,
transforma fato em elemento
a tudo refoga, ferve, frita
ainda sangra tudo no próximo mês.
Cuidado moço, quando cê pensa que escapou
é que chegou a sua vez!
Porque sou muito sua amiga
é que tô falando na "vera"
conheço cada uma, além de ser uma delas.
Você que saiu da fresta dela
delicada força quando voltar a ela.
Não vá sem ser convidado
ou sem os devidos cortejos..
Às vezes pela ponte de um beijo
já se alcança a "cidade secreta"
a Atlântida perdida.
Outras vezes várias metidas e mais se afasta dela.
Cuidado, moço, por você ter uma cobra entre as pernas
cai na condição de ser displicente
diante da própria serpente
Ela é uma cobra de avental
Não despreze a meditação doméstica
É da poeira do cotidiano
que a mulher extrai filosofando
cozinhando, costurando e você chega com a mão no bolso
 julgando a arte do almoço: Eca!...
Você que não sabe onde está sua cueca?
Ah, meu cão desejado
tão preocupado em rosnar, ladrar e latir
então esquece de morder devagar
esquece de saber curtir, dividir.
E aí quando quer agredir
chama de vaca e galinha.
São duas dignas vizinhas do mundo daqui!
O que você tem pra falar de vaca?
O que você tem eu vou dizer e não se queixe:
VACA é sua mãe. De leite.
Vaca e galinha...
ora, não ofende. Enaltece, elogia:
comparando rainha com rainha
óvulo, ovo e leite
pensando que está agredindo
que tá falando palavrão imundo.
Tá, não, homem.
Tá citando o princípio do mundo! 


Elisa Lucinda 

terça-feira, 9 de março de 2010

Sonhos da Menina


A flor com que a menina sonha
está no sonho?
ou na fronha?

Sonho
risonho:

O vento sozinho
no seu carrinho.

De que tamanho
seria o rebanho?

A vizinha
apanha
a sombrinha
de teia de aranha...

Na lua há um ninho
de passarinho.

A lua com que a menina sonha
é o linho do sonho
ou a lua da fronha?

Cecília Meireles

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Alexandre, o Grande e Diógenes, o Filósofo mendigo


Gosto muito da lendária história de um diálogo entre o Imperador Alexandre e Diógenes o filósofo mendigo.Diz a história que: 

Alexandre, o Grande, que, ao encontrar Diógenes, ter-lhe-ia perguntado o que poderia fazer por ele. Acontece que devido à posição em que se encontrava, Alexandre fazia-lhe sombra. Diógenes, então, olhando para  Alexandre, disse: "Não me tires o que não me podes dar!" (variante: "deixe-me ao meu sol"). Essa resposta impressionou vivamente Alexandre, que, na volta, ouvindo seus oficiais zombarem de Diógenes, disse: "Se eu não fosse Alexandre, queria ser Diógenes."

    Dedico essa história à todos 'imperadores' do momento.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

De Marina pra Marisa, De Marisa Pra Marina


   Marina, passou seu aniversário e eu numa correria grande, lembrei de você apenas em minhas preces.
   Nesse feriado fui limpar um baú onde guardo coisas antigas pra livra-las do cupim e da umidade. Achei essa poesia que fizestes pra nós. Resolvi dedica-la a você pela passagem do seu aniversário. Ela, com certeza, será um bom escudo nesse ano de cabo de guerra. Muitos vão esquecer seu nome ou elogiando demais ou depreciando-a. Nessas horas lembre da poesia e de seu nome verdadeiro.

De Marias, Amélias e Madalenas
Marina Silva

No sofrimento somos Maria,
mãe de um Deus assassinado.
Marias sem alegria,
dor sem futuro ou passado.

Na renúncia somos Amélia, 
de uma triste verdade.
Amélias dem sonho, 
desejo ou vontade.

No preconceito, Madalena,
nas praças apedrejada.
Madalenas: ao pecado
e à culpa predestinadas

Só no amor temos nomes 
E as formas de nossa estima
Velha mãe, jovem formosa.
E, eternamente, menina.


Alma Gêmea


Erre por amor,

Erre pela vida,

Mas não erre

por favor,

a porta de minha'alma.

PS. Essa tirei de uma gaveta. O cupim comeu o resto.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Outros Poemas


Também  diz  Florbela:

Tenho por ti uma paixão

Tão forte tão acrisolada,


Que até adoro a saudade


Quando por ti é causada

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Um pouco de poesia...


"Nunca fui como todos

Nunca tive muitos amigos

Nunca fui favorita

Nunca fui o que meus pais queriam

Nunca tive alguém que amasse

Mas tive somente a mim

A minha absoluta verdade

Meu verdadeiro pensamento

O meu conforto nas horas de sofrimento

não vivo sozinha porque gosto

e sim porque aprendi a ser só..."


Florbela Espanca

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

A P'ssora


"Pessoas simples, em muitos lugares comuns, com pequenos gestos e atitudes .... podem realizar coisas extraordinárias para mudar o mundo" Essa foi uma citação no discurso do prefeito de Rio Branco na ocasião da posse dos novos servidores públicos na última quarta feira. Eu estava lá para ser empossada como professora.
Para ser professora estou me despedindo da Biblioteca da Floresta (com aqueles sentimentos que querem escorrer pelos olhos - criei laços,afetos com gentes deste lugar) .
Mas estou empolgada. Viver o cotidiano de uma escola de ensino fundamental num bairro que apresenta um quadro social bastante adverso é um desafio. Gosto de desafios. Deixam a vida mais vibrante.
No final do ano passado terminei o curso de psicopedagogia. Como psicopedagoga que agora sou vou colocar em prática conceitos e teorias e fazer da minha experiência um laboratório pra realizar um dos maiores prazeres na vida que é aprender o que não sei e ensinar o que sei. Além disso, com certeza  alimentarei alguma esperança de uma ética social aprimorada e desvencilhada dos desvios criados pelos processos civilizatórios que nos fizeram perder a noção da ética ensinada por nossa 'Grande Mãe' natureza.   
 Estou tentando levar a sério o Foucault que diz:
  "Nada mudará a sociedade se os mecanismos de poder que funcionam fora, abaixo, e ao lado dos aparelhos de Estado ao nível mais elementar no cotidiano, não forem modificados."
    Contarei essa história aqui.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Vaso rachado



Uma velha senhora chinesa possuía dois grandes vasos, cada um suspenso na extremidade de uma vara que ela carregava nas costas. Um dos vasos era rachado e o outro era perfeito. Este último estava sempre cheio de água ao fim da longa caminhada da torrente até a casa, enquanto aquele rachado chegava meio vazio.

Por longo tempo a coisa foi em frente assim, com a senhora que chegava em casa com somente um vaso e meio de água. Naturalmente o vaso perfeito era muito orgulhoso do próprio resultado e o pobre vaso rachado tinha vergonha do seu defeito, de conseguir fazer só a metade daquilo que deveria fazer.

Depois de dois anos, refletindo sobre a própria amarga derrota de ser 'rachado', o vaso falou com a senhora durante o caminho: 'Tenho vergonha de mim mesmo, porque esta rachadura que eu tenho me faz perder metade da água durante o caminho até a sua casa...' 

A velhinha sorriu: 'Você reparou que lindas flores tem somente do teu lado do caminho? Eu sempre soube do teu defeito e portanto plantei sementes de flores na beira da estrada do teu lado. E todo dia, enquanto a gente voltava, tu as regavas. Por dois anos pude recolher aquelas belíssimas flores para enfeitar a mesa. Se tu não fosses como és, eu não teria tido aquelas maravilhas na minha casa.'

Reflexões


Assim como a história da Diana, tem a da Geni, da Regina, da Isabella e muitas outras que em outras ocasiões contarei.
  Pesquisas apontam que em torno de 70% das adolescentes e jovens que são exploradas sexualmente nas esquinas do Brasil foram abusadas sexualmente em suas infâncias.
  Outras pesquisas indicam que quase todas as mulheres que são vítimas da violência doméstica praticada por maridos, companheiros, namorados, etc... foram vítimas de maus-tratos diversos na infância comprometedores dos vínculos com a familia de origem.
 A ética social que hoje praticamos é uma vaga lembrança da ética natural perdida com os processos civilizatórios.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Diana


   Continuando minhas reminiscências vou abrir um parentese pra falar de uma   amiga da infância. Na zona rural as amigas geralmente são as irmãs(quando são). Essa é praticamente a única amiga que eu tinha. Tinhamos a mesma idade. Brincavamos juntas. Ela era a filha caçula. Fora adotada por que sua mãe teve somente cinco filhos homens (Deus sabe o que faz).Suspeitavam que seu padrasto era também seu pai e ela filha de uma relação extraconjugal. Na infância fora por ele abusada sexualmente. Na adolescência ele a estuprou. Ela fugiu de casa. Fugiu para o garimpo. Desde então perdemos o contato. Lá casou-se e teve quatro filhos. Um dia, cansada das surras que levava do marido abandonou-o e voltou para os 'seus'. Aqui, entre os 'seus' passou a viver com um moço trabalhador e gentil que se dispôs a ajuda-la a criar as crianças. Na última vez que conversamos ela me disse que ia deixa-lo. Pra ela era fácil fazer sexo uma vez, quando era possível. Mas sempre, somente bêbada ou drogada. Diziam: 'quem nasce torto, não tem jeito mesmo', 'esse é um problema de sangue, se ela fosse do nosso sangue seria diferente'. Depois soube que ela estava internada numa clínica para tratamento de dependentes químicos. Sua mãe orgulhava-se de ter tido sucesso em seu casamento, apesar das dificuldades, enquanto muitas por aí nem conseguem se casar. Essas são estranhas lembranças doridas que me acompanham sempre.


Vaso de porcelana



Certo dia, num mosteiro zen-budista, com a morte do guardião foi preciso encontrar um substituto. O grande Mestre convocou então todos os discípulos para determinar quem seria o novo sentinela. O Mestre, com muita tranqüilidade, falou:

- “Assumirá o posto o primeiro monge que resolver o problema que vou apresentar.”

Então, ele colocou uma mesinha magnífica no centro da enorme sala em que estavam reunidos e, em cima dela, pôs um vaso de porcelana muito raro, com uma rosa amarela de extraordinária beleza a enfeitá-lo e disse apenas:

- “Aqui está o problema!” Todos ficaram olhando a cena. O vaso belíssimo, de valor inestimável, com a maravilhosa flor ao centro. O que representaria? O que fazer? Qual o enigma?



Nesse instante, um dos discípulos sacou a espada, olhou o Mestre, os companheiros, dirigiu-se ao centro da sala e … ZAPT … destruiu tudo, com um só golpe. Tão logo o discípulo retornou ao seu lugar, o Mestre disse:

- “Você será o novo Guardião do Castelo.”

Moral da História: Não importa qual o problema. Nem que seja algo lindíssimo. Se for um problema, precisa ser eliminado. Um problema é um problema. Mesmo que se trate de uma mulher sensacional, um homem maravilhoso ou um grande amor que se acabou. Por mais lindo que seja ou, tenha sido, se não existir mais sentido para ele em sua vida, tem que ser suprimido.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010


Antes de continuar escrevendo memórias vou trazer, pra espantar mau-olhado e inveja  e fazer uma limpeza no ambiente:




UM PÉ DE ARRUDA

FIGAS




SAL GROSSO





CARRANCAS




A MUITOS CRISTAIS







quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

A chegada


Eu estava dormindo e acordei quando alguém me cutucou dizendo: Acorda! Chegamos no Acre. A primeira lembrança é que estavamos parados no posto de fiscalização, por muitos conhecido como 'corrente'. Naquela época, em frente ao posto, existia um matadouro  e era rodeado por muitos urubus. Ficamos pouco tempo ali e seguimos para Senador Guiomard onde paramos para algumas compras. Naquele tempo a rua principal não era asfaltada e não tinha calçada. O mato que crescia na beira da rua, dava a impressão  de que a ela era um caminho próprio da zona rural e não da área urbana. Logo estavamos rodeados de garotos que carregavam caixas de isopor com refresco e bacias de quibes para vender. Pelos comentários, não era muito comum o que viam. Diziam: que é isso?? Uma casa andando?? Depois dessa parada seguimos para nosso destino final: a colônia Bom Jesus, à cinco quilômetros de distância na BR 317. Ela foi uma das colônias dos japoneses,  vendida para um acreano descendente de cearenses de quem a compramos.
O caminhão estacionou debaixo de um pé de mangueira em frente a casa de pernas muito altas. As pernas da casa eram tão altas que boa parte da mudança ficou embaixo da casa. Lá dormimos a primeira noite. Lembro bem da lua clara como eu nunca tinha visto antes. O mato alto em redor da casa assustava um pouco. Antes de sairmos do Paraná ouviamos muitas estórias de que no Acre haviam índios e animais ferozes.
Ficamos morando assim por muito tempo, encima eram os quartos e embaixo cozinha e sala. Até que meu pai construiu a nova casa, ele é carpinteiro. Negociou na serraria toras de madeira em troca de tábuas serradas.
Passamos alguns apertos, que foram diminuindo com o tempo. Quando meu pai veio comprar a colônia (em outubro), deixou plantada uma roça de arroz . Ele voltou pra buscar a gente e a mudança e deixou a plantação por conta. Quando chegamos os animais e pássaros tinham comido tudo. Tinhamos trazido milho e feijão. Era nossa refeição básica. Uma de minhas tarefas era moer o milho numa pequena máquina manual. Mas logo aprendemos a comer jáca, manga e goiaba que tinha  em abundância na colônia. Banana, mamão e castanha também não faltava. Depois descobrimos pés de ingá, graviola, cupuaçu e araçá. Assim fomos nos adaptando. Amoras e pêssegos, como aqueles que  tinham feito goiaba  e manga no sítio lá no Paraná, nem sonhar. Hummm(saudades!!). A criação de galinhas,porcos e a vaca pro leite ainda não era uma realidade. Comiamos então cutias, pacas e nambus, geralmente caçados no entardecer. O porco do mato era resultado das caçadas de domingo. Traíras e carás eram  frutos das pescarias nos açudes dos vizinhos. Além disso comiamos muito mocotó e bucho  de boi que eram doados num matadouro das redondezas.
E chovia, nossa como chovia!!! Que terra pra chover é o Acre. Madeira seca pro fogão de lenha era sempre um problema, até que nos acostumamos a armazenar com antecedência.
E assim fomos aprendendo a chamar pernilongo de carapanã, porrrta de porta dentre outras coisas que nem lembro mais.  
     

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

A viagem


Foram dez dias de viagem. Logo, antes do anoitecer, chegamos à balsa para atravessar o rio Paraná. Um rio tão largo como eu nunca havia visto um. Bem no meio do rio não dava pra ver nenhuma de suas margens. Uma imensidão de água. 
O motorista do caminhão dirigia até de madrugada quando o sono apertava. Então estacionava, geralmente próximo a um posto de gasolina e dormia um pouco. Antes do dia nascer ele retomava a estrada.Na carroceria do caminhão sobre uma pilha de colchões dormiamos, eu meus seis irmãos, meu pai, minha mãe e o irmão da esposa do meu tio. Meu tio, a esposa e o filhinho viajavam na boleia do caminhão.  Ao redor da pilha de colchões estavam armários e guarda roupas, dentre outros móveis sob uma estrutura de madeira coberta por uma lona. A lona  permanecia um pouco levantada e apreciavamos a paisagem que corria na beira da estrada. Quando paravamos para dormir ou iamos passar por algum posto de fiscalização a lona era totalmente abaixada. Ficavamos em silêncio para não sermos descobertos. Era proibido viajar daquela maneira.
A comida era feita  em um fogareiro de duas bocas. Geralmente o motorista que conhecia bem a estrada parava na beira de algum igarapé ou rio. Enquanto minha mãe cozinhava, lavavamos roupas, vasilhas e tomavamos banho. Logo, logo estavamos feito  camarões por causa do sol. Meu pai comprou um saco de bombons de hortelã. Ajudava a diminuir náuseas e vômitos. Depois de algum tempo a sensação de trepidação do motor  entranhava em nossos sentidos que já não sabiamos mais quando ele estava desligado.
Naquela época, até Cuiabá a estrada era asfaltada. De lá pra cá era lama, atoleiros e muito buraco, quando não era poeira.
O caminhão não atolou nenhuma vez. Lembro que por um longo trecho arrastamos um ônibus, que por ser muito baixo não conseguia andar sem atolar.
Nas proximidades de Cacoal existia uma fila de caminhões que aguardavam enquanto um trator os rebocava na travessia de um lamaçal que era impossivel de ser atravessado sem sua ajuda. Descemos e caminhamos alguns quilômetros até a parte urbana da cidade enquanto esperavamos a fila andar. Minha mãe aproveitou pra procurar notícias de alguns de seus primos que moravam naquela cidade.
Finalmente, na tarde do dia dezesseis chegamos ao nosso destino.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Seis de Janeiro


Esta é para mim uma data especial.É o dia dos Santos Reis que aos pés de Jesus deixam seus tesouros.Um dia de festa pra ser sempre lembrado pela cristandade. Na minha história pessoal essa data é também um marco do inicio de uma viagem, assim como os três Reis Magos, em busca do destino. Em 1978, na tarde de 6 de janeiro, encima de um caminhão, numa despedida cheia de lágrimas, deixamos (eu, meus pais e meus irmãos) a vila de nome São Pedro (distrito de Toledo), no Estado em que nasci(Paraná) para atravessar aproximadamente 5.000 km de estrada e chegar nesta terra onde hoje é meu lar. Porque viemos? O que viemos fazer? Como foi a viagem? O que encontramos quando aqui chegamos? Essas e outras histórias irei contando aos poucos.