sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Las Hermanas Mirabal

Entrei na Cozinha da Matilde (ver ao lado o Blog da Letícia Massula) pra tomar um copo d'agua e lá, entre aromas e sabores, encontrei essa história que estou trazendo pra dividir com vocês:  


Há exatos 49 anos, no dia 25 de novembro de 1960, três irmãs da República Dominicana foram brutalmente assassinadas pela ditadura de Rafael Leonidas Trujillo, uma das mais violentas da América Latina. Pátria, Minerva e Maria Tereza Mirabal (Las Mariposas, como eram conhecidas) eram mulheres à frente de seu tempo  e como tal, decidiram não se calar frente às atrocidades que estavam sendo cometidas em seu país, envolveram-se com os movimentos clandestinos e começaram a militar pelo fim da ditadura.
Foram presas e torturadas em várias ocasiões, mas em nenhum momento calaram e acabaram tornando-se uma grande pedra no sapato de Trujillo, que decidiu acabar com suas vidas simulando um acidente com as três quando iam visitar seus maridos na prisão. Las Mariposas foram emboscadas e levadas para uma plantação próxima onde foram apunhaladas e estranguladas juntamente com o motorista que conduzia o veículo em que estavam. Trujillo acreditou que havia eliminado um grande problema, mas a morte das Mirabal causou uma grande comoção no país e levou o povo dominicano a se somar na luta pelos ideais democráticos das Mariposas. Um ano depois Trujillo foi assassinado e a ditadura caiu.
Anos depois, no Primeiro Encontro Feminista Latino-Americano e Caribenho de 1981, realizado em Bogotá, Colômbia, a data do assassinato das Mirabal foi proposta como dia Latino-Americano e Caribenho de luta contra a violência à mulher. Em 1999, a Assembléia geral da ONU declarou que esta data passaria ser lembrada como o Dia Internacional da Eliminação da Violência contra a Mulher, justa homenagem ao sacrifício de Pátria, Miverva e Maria Tereza.
E é justamente esta data, 25 de novembro, que abre a Campanha 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres, desenvolvida internacionalmente pelo Center for Women’s Global Leadership e que no Brasil é desenvolvida pela Agende, Ações em Gênero com ampla parceria dos movimentos de mulheres, feminista e de direitos humanos, cuja proposta é pautar a questão da violência contra as mulheres e garantir a adoção de políticas públicas por pate do governo e solidarieadade por parte da sociedade a um problema que atinge as mulheres em todo o mundo.
Números e dados que fazem pensar:
Desde 1995, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) vem medindo o Índice de Desenvolvimento de Gênero (IDG), que avalia as desigualdades entre homens e mulheres nos países e a constatação foi que “nenhuma sociedade trata tão bem suas mulheres como trata seus homens”.
Profissionais de saúde afirmam que enfermidades crônicas como asma, epilepsia, diabetes, artrite, hipertensão e doenças coronarianas são exacerbadas ou precariamente controladas em mulheres que sofrem violência.
Estudos da Unaids, Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/ AIDS, apontam que as mulheres vítimas de violência estão mais suscetíveis a contraírem o vírus HIV. A violência e o medo limitam o poder da mulher de negociar o sexo seguro, tanto com o parceiro quanto com um estranho.
Dados da Organização Mundial de Saúde citados no relatório anual da Anistia Internacional, o qual foi divulgado no lançamento da Campanha “Está Em Suas Mãos: Pare a Violência contra as Mulheres”, mostram que cerca de 70% das mulheres assassinadas no mundo foram mortas por seus maridos.
O relatório da Anistia Internacional traz ainda um dado divulgado pelo Conselho Europeu, segundo o qual a violência doméstica é a principal causa de morte e deficiências entre mulheres de 16 a 44 anos, e mata mais do que câncer e acidentes de trânsito.
No Brasil, a pesquisa da Fundação Perseu Abramo do ano 2000, intitulada A Mulher Brasileira nos Espaços Público e Privado, estima que 2,1 milhões de mulheres são espancadas por ano no País; 175 mil por mês, 5,8 mil por dia, 243 por hora, 4 por minuto, uma a cada 15 segundos.
Segundo o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), uma em cada cinco faltas ao trabalho no mundo é causada pela violência sofrida pelas mulheres dentro de suas casas. E a cada cinco anos, a mulher que sofre violência doméstica perde um ano de vida saudável.


PS- pra saber mais sobre a história das Irmãs Mirabal, livro e filme: No tempo das Borboletas de Julia Alvarez.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Quem inaugura a violência?


Hoje, 25 de novembro, é Dia Internacional de luta pela prevenção e erradicação de todas as formas de Violência Contra a Mulher‎. 

Uma vida sem violência é um  direito de todas as mulheres!!!!


    A partir de hoje até 10 de dezembro,  dia do aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos trarei aqui estórias e reflexões sobre todas as formas de violência e opressão, resistência e luta pela paz.
  Trago, pra início de conversa, uma reflexão de Paulo Freire sobre uma pergunta que acredito que devemos  nos fazer sempre que nos deparamos com uma situação de violência: Quem Inaugura a violência?
Vozes — O Sr. considera que a questão da violência ou da não­-violência para a promoção das mudanças sócio­econômico­políticas continua na ordem do dia?
Paulo Freire — Vou responder de uma maneira que não é evasiva. É o que penso, pondo de lado a minha real ojeriza pela violência. (...)Toda vez que me falam em violência, penso que a violência não é uma categoria metafísica. Não cabe a mim apanhar a violência com uma pinça, no ar, e dizer: "Aqui está a essência da violência". Para mim, a violência é uma categoria histórica. Toda vez que penso na violência, me pergunto: "Violência de quem contra quem?" (...)
Agora mesmo estive no Nordeste, descansando, e vi coisas terríveis. Vi famílias almoçando nas latas de lixo. E não é possível negar isso porque é algo concreto, está lá, quem quiser pode ir ver. E acho isso uma profunda violência. Coloquei esta questão da violência há alguns anos na "Pedagogia do Oprimido". Para mim, quando a gente fala da violência faz um pouco de cavilação: nós só consideramos a violência quando ela parte do oprimido, quando ela é uma resposta que o oprimido dá a uma violência institucionalizada, como diz dom Hélder. É nesse momento que a gente se revolta contra a violência. Quem inaugura o desamor não é o desamado, mas é quem desama. Quem inaugura a violência não é o violentado, é quem violenta. E neste sentido gostaria de dizer, quando se fala em luta de classes, em ficar contra a luta de classes, eu só posso rir, porque essa não é uma questão para ficar contra ou a favor. Isto é algo para constatar, em primeiro lugar. Se quiser tire o nome de luta de classes, que é mais brabo e diga conflitos de classes, conflitos de interesses. E isso existe. Inclusive não foi Marx que inventou isso. Ele mesmo diz numa de suas cartas que os economistas burgueses tinham constatado a luta de classes antes dele. Como educador, eu não nego nem fujo aos conflitos. É impossível negar os conflitos. Diria mais: o conflito é a parteira da consciência. Meu sonho — que eu acho que é possível – é o seguinte: encontrar os caminhos de transformação social com um gasto menor. Quanto menos gasto social, tanto melhor. Mas eu compreendo a existência do conflito, da luta, inclusive o conflito é gerador.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Fragmentos de falas

  Longe de traduzir todas as falas do seminário Diálogo entre Saberes, anotei algumas e estou repartindo com vocês. Provavelmente não serei totalmente fiel ao que foi dito, mas tentei.  

"Uma história se faz superando barreiras e muitas fronteiras. Esta é a história de uma gente fronteiriça que faz na vida e da vida, um espaço sem fronteiras." Euripedes Funes - UFC (autógrafo no livro 'História e Memória das três fronteiras).
    "O problema da Universidade não é a autoridade da academia, mas o seu autoritarismo."Euripedes Funes - UFC.
     "É preciso levar em conta as diversas histórias e seus diferentes contextos."Euripedes Funes - UFC.
      "Estou muito feliz de compartilhar destas experiências. Não tenho conhecimento acadêmico, tudo o que eu sei é através da observação da natureza e com a cultura do nosso povo, dos nossos mitos, da nossa religião. A lua nasce de frente e desce de costas. O sol, estamos com a iluminação por cima, aquele chapeuzinho que está lá em cima nos iluminando. Pra quem está no mundo espiritual, não tem distância, tudo está bem pertinho. Na internet você também pode ver o mundo bem pertinho, e é bem importante ver o que está acontecendo em outros países, pra ver que as coisas do mundo se acabam." (...)"Nós não queremos que os outros se tornem Ashaninkas, mas que reconheçam que temos qualidade de vida." (...) "A nossa riqueza não é material, mas cultural." Benki Ashanika - Coordenador do Iorenka Atami (espaço de saber na lingua Ashaninka)
"A gente tem que estudar a forma de entender quem a gente é, quem o outro é. A gente, dentro da floresta, vê muito mais do que vocês imaginam, o que está acontecendo aí pelo mundo." Francisco Ashaninka
     " O meu livro já está quase pronto. Nele conto histórias que os mais velhos me contaram para que as crianças e jovens possam conhecer." (...)"Fiquei contente de poder passar um pouco dos meus sentimentos como indígena e gostaria que este diálogo não parasse por aqui." Francisca Arara - Representante da Organização de Professores Indigenas do Acre.
"Hoje o desafio para os povos indígenas é aprender a fazer gestão sustentável de seus territórios" Fabricio Bianchini - CPI/Ac - Comissão Pró-Indio do Acre

     "Nós da academia temos imensa dificuldade de lidar com a cultura do outro, a cultura acadêmica é completamente engessada." Eurípides Funes - UFC
      "O Kaxinawá poderia ser uma língua franca no curso superior de formação de professores indigenas da UFAC." (...) "São Gabriel da Cachoeira é o único municipio brasileiro que tem mais de uma língua oficial, ou seja, tornou oficial a língua dos povos indigenas que são a maioria dos habitantes daquele município" Manoel Estébio - Professor da UFAC - Curso de Formação de Professores Indigenas
  "Existe uma preocupação maior com a sustentabilidade econômica e produtiva do que com a sustentabilidade social e cultural" Júlio Barbosa / CNS-Conselho Nacional dos Seringueiros

"Temos que manejar a floresta em todas as potencialidades que ela tem, mas não pensando em enricar, trabalhar pensando na comunidade."  Nilson Mendes - Coperfloresta
     "Um problema atual é que muitos professores das escolas nos seringais não conseguem ver além das paredes da sala de aula".(...)  " O seringueiro aprendia a ler nas latas de óleo." Ademir Pereira - Seringueiro e professor do projeto seringueiro.
   "A educação para o seringueiro foi um meio para não ser enganado na medida e no valor. Para nós (classe média) é um meio de nos tornarmos doutores em 'alpinismo social'. Adelaide Gonçalves Pereira - UFC.  
    "Existe alguns lugares no meio da floresta que não chega médico e nenhum outro profissional da saúde. As mulheres têm somente a assistência da parteira." (...) "A parteira é uma conhecedora das rezas e das plantas medicinais da floresta." (...) "Para ser uma parteira fina é preciso ter feito pelo menos dez partos sem perder nenhuma criança e nenhuma mulher." Zenaide - Parteira do Juruá.
  "No Brasil a pobreza tem cor."(...) "Dizem que a carne preta é mais barata no mercado." (...) "O brasileiro acha que não é rascista." - Almerinda Cunha - Professora e Coordenadora Geral do Fórum Étnico-Racial do Acre.
   "O Programa 'Mãos Femininas na Floresta', desenvolvido pela Rede Acreana de Mulheres e Homens, está ajudando as mulheres a adquirir independência econômica, muitas delas pra sair de situações de violência doméstica." - Amine Carvalho - Coordenadora do Programa 'Mãos Femininas na Floresta'.
    "O Toinho Alves fala sobre a sustentabilidade ambiental, cultural, econômica, politica e social. Eu quero escrever um livro sobre a sustentabilidade ética." Marcos Afonso - Jornalista e moderador da Sociedade de Philosophia.

  "Tenho uma boa notícia e uma ruim ao mesmo tempo. (Não entendo porque brasileiro tem mania de defender seu candidato falando mal do candidato adversário). A boa notícia é que o Caetano Veloso vai votar na minha candidata (Marina Silva). A ruim é que ele chamou o Lula de analfabeto."  (...) "Quem vai defender o direito de quem não quer ter na escrita a forma privilegiada de espressão?? Quem vai defender aqueles que querem continuar se expressando pelos desenhos e privilegiando a oralidade como forma de comunicação e expressão?? Quem vai defender aqueles que preferem se tratar com um Pajé  ao invés de se tratar com os médicos?? (...) "na floresta você rompe com todas as hierarquias construídas. Lá você inverte todo o sistema de autoridade." (...)Antonio Alves - Jornalista

  "Pode botar aí. Não posso deixar de votar nela. É por demais forte, simbolicamente para eu não me abalar. Marina é Lula e é Obama ao mesmo tempo. Ela é meio preta, é uma cabocla, é inteligente como o Obama, não é analfabeta como o Lula que não sabe falar, é cafona falando, grosseiro. Ela fala bem." Caetano Veloso

   "É muito engraçado porque tem gente que acha que a inteligência está ligada à quantidade de anos de escolaridade que você tem. Não tem nada mais burro que isso". Lula

  "Tenho uma relação afetiva de mais de 30 anos com o presidente Lula. A visão que tenho dele é permeada por essa relação de respeito e de companheirismo" (...) "Como venho de uma trajetória de alguém que estudou com muita dificuldade, me sinto feliz pela fresta pela qual passei, que foi o Mobral (programa de alfabetização de adultos criado durante a ditadura militar), o supletivo, o primeiro e o segundo graus, tendo feito uma faculdade e duas especializações. Mas sei que nós temos várias formas de aprender e de ensinar. Existem os processos formais e informais. Por isso, não concordo com a ideia de que o presidente seja um analfabeto." (...) "Conversei com o Caetano para agradecer o apoio dele." (...) "Às vezes as pessoas não veem a frase seguinte." Marina Silva 

   "Encontre suas respostas construídas com base na tolerância e na escuta do outro." (...) "da parte dos índios: que o Estado respeite a construção pedagógica pensada por eles!" (...) "Não tenham medo de ser ridículos." Marcos Montyzuma - UFSC.

   "Estabelecer o diálogo é mesmo um grande desafio. Só é possível haver diferença se houver semelhança. Eu preciso de um referencial comparativo pra dizer que o outro é diferente de mim. O diálogo só é possível na medida que eu estabeleço a semelhança." (...) "As pessoas narram na tentativa de organizar o caos-mundo."(...) Lembrando Micheli Perrot: "existem os excluídos da história." Kenia Rios - UFC 

PS. O seminário foi totalmente filmado e resultará numa publicação e num vídeo.

Veja mais em:
http://www.bibliotecadafloresta.ac.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=774:saboresesaberesdamacaxeira&catid=17:notas&Itemid=217

http://www.pagina20.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=10225&Itemid=29


quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Diálogo entre aparências e essências



         Gosto da Triste Figura de Dom Quixote.  Um gladiador das "causas perdidas". Por trás de sua "loucura" existem muitas verdades sobre a triste tragédia humana.






quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Outros diálogos entre Saberes & Sabores


     Quando eu era criança gostava muito de textos como muitas falas. Achava que eles eram mais interessamtes, mais cheios de vida e ajudavam a imaginar melhor os personagens.
      Quando cresci descobri que existem muitos diálogos no silêncio.
      Que a ausência de falas não é a ausência de diálogo.
      Que existem muitas maneiras de falar a mesma coisa, com palavras ou sem palavras.
      Quando vejo uma cena como esta fico imaginando: O que será que proseiam estes Seres???