terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Multiuniverso da nudez



"E penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e com os pés
E com o nariz e com a boca.
(...)
O essencial é saber ver,
Saber ver sem estar a pensar,
Saber ver quando se vê,
E nem pensar quando se vê
Nem ver quando se pensa.
Mas isso (tristes de nós, que trazemos a alma vestida!),
Isso exige um estudo profundo,
Uma aprendizagem de desaprender."

                                                                                                                                   FERNANDO PESSOA

sábado, 17 de novembro de 2012

Solidão Paradoxal


A solidão é uma porta estreita
 
onde cada um adentra só.
 
Pensei em mandar enlarguece-la
 
para que dois solitários por ela atravessassem de mãos dadas.

 

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Pelos olhos

O tempo escorre pelos olhos
desvelando enganos,
revelando verdades,
trazendo saudades.
O tempo escorre pelos olhos.


quarta-feira, 17 de outubro de 2012

sábado, 6 de outubro de 2012

O poder da beleza ocultando o machismo


Com os meus apenas 53 anos de “quilômetros rodados” e um tênue conhecimento sobre a vida e as relações de gênero estabelecidas em nossa sociedade, mais uma vez me vejo obrigada a comentar sobre o poder da beleza e a dominação do homem, mesmo após as tantas vitórias feministas.
Estando próxima a uma mulher que foi mãe recentemente, ouvi dela o comentário de uma obstetra que havia lhe recomendado o parto cesariana. Segundo a obstetra, o parto normal deixa sequelas físicas que interferem na relação matrimonial; em outras palavras, ela disse que após o parto a mulher já não é a mesma e que isso afeta de forma negativa o desejo sexual do marido pela mulher. Assim a profissional apela para o recurso cirúrgico que, a meu ver, só deveria ocorrer para salvar as vidas da mãe e do filho ou outra impossibilidade para o parto normal.   
Essa situação nada mais é do que a reafirmação do machismo pelas próprias mulheres, que, preocupadas em servir ao homem, violentam-se. Dedicam-se horas, malhando em academias; submetem-se a cirurgias, modelando, a partir de uma ótica equivocada, seus corpos com silicone, botoques e enxertos, para agradar o tato de seus homens.
No entanto, meu conhecimento empírico me permite crer que a alma escolhe a alma. Não existe afinidade nas relações entre homens e mulheres sem essa identificação. Se a forma física desse a perenidade aos relacionamentos não haveria tantos desenlaces amorosos e as beldades não seriam deixadas por seus companheiros, que passam a se interessar por uma mulher fora do atual padrão de beleza.
A busca por academias e cirurgias objetiva, em muito - não saberia dizer o quanto - reitero, em muito, a cobrança social para que a fêmea satisfaça o macho; para que a mulher seja bonita para conquistar o homem, modelada para manter a relação, sem importar os traumas cirúrgicos, o exagero no tempo de malhação na academia e até o absurdo da violenta antecipação do nascimento do filho. O fator saúde atualmente, está muito mais associado à beleza padrão que se estabeleceu socialmente do que ao elemento vital que de fato é a saúde, fazendo crer que ser bonita é muito mais importante que ser saudável.
Independente de belos corpos, homens e mulheres estão propensos à situações diversas como, ter um bom ou mau casamento, ter relacionamentos rompidos de maneiras inesperadas, novos amores, ou ainda a vivermos sozinhos, achando muito bom. Assim como ocorre com homens e mulheres, em completa forma física, viverem sós e tristes.
O estado de espírito, a auto-estima, a saúde mental e a completa aceitação do que somos definirão parte dos acontecimentos acima referidos. A outra parte é definida pela dinâmica da vida, independente de nos encontrarmos em forma ou fora dela. A beleza sem dúvida é um elemento associado à felicidade, mas a supervalorização dela em detrimento da saúde  pode conduzir a infelicidade.

                                             Crônica de Eliana Castela

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Memórias de Deus

A gente não separa
as águas dos rios 
que se misturam no mar.
Mas quem é fonte,
quem é rio 
e quem é mar
sabe separar.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Num canto secreto

Num canto secreto d'alma
 cala sua dor
Num canto secreto d'alma
fala de amor
Num canto secreto d'alma
o sonho já realizou.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Sky and Flowers

"Always be my flower and I'll always be a heaven spilled at his feet"

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Filme Antigo


Ele era um jovem idealista e sonhador como esses jovens que existem em todas as sociedades e tempos. O incomodava o mundo maquinado. Queria muda-lo. Nas veias, na mente e na alma tinha muito da crítica chapliana aos tempos modernos. O maquinismo e a insensibilidade eram vilãos na maioria de suas guerras.
Ele a conheceu e encantou-se com aqueles encantamentos que ninguém define bem de onde veem. Quando a olhava a via encantada também.  Ela tinha sensibilidades, como ele.
Venceram muitas batalhas juntos, mas um dia ele não a conheceu mais.  Ela começou a cultivar algumas sensibilidades que ele não alcançava, nem entendia.
Separaram-se.
Ele foi reconhecido como herói das sensibilidades. Recebeu muitas medalhas, troféus e homenagens.  Em pedra sua sensibilidade histórica era contada.
 Altos bustos em pedra lançavam enormes sombras às sensibilidades dela e na maquinaria envolviam o último amor que cultivava. Assim na escuridão de um casulo respirou seu lugar.
Mas agora chegara enfim a liberdade. Asas cresciam para um voo ao destino: o infinito. 

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Aprendendo com as adversidades

"Quando  meu primo de 14 anos me abusou sexualmente (aos três anos de idade) eu entrei feliz pela cozinha da casa pois teria um bebê igualzinho a minha boneca. Até hoje não sei se meu pai acreditou na minha inocência, na ausência de malícia ou se não. Mas hoje entendo e perdoo a confusão pois aprendi muito sobre a autoimagem."
"Quando um homem bateu em meu rosto deixando ele roxo, eu entendi que ele estava sendo sincero e, naquele momento, ele não estava mecanicamente me "amando". Ele sentia raiva de mim e estava frustrado porque eu era uma mulher  real e não a fantasia que ele tinha imaginado."
"Quando aquele homem casado insistiu pra ter um caso e eu, carente cai, vacilei, fraquejei eu entendi que teria que ama-lo muito para perdoa-lo por ter me oferecido um lugar tão indigno no mundo. Entendi muito também sobre a importância da auto-estima e sobre o meu verdadeiro lugar."
"Quando meu primo de 18 anos me abusou eu tinha oito anos. Apanhei do meu pai. Fiquei com vergões roxos nas pernas. Me senti culpada. Fiquei deprimida. Sofri  muito pois todos tratavam como preguiça. Jurei que para pagar meus pecados e conseguir um lugar no céu eu me tornaria freira. Hoje entendo meus pais. Eles estavam confusos e foi assim que aprenderam."    
"Quando meu pai me disse  que eu não ia prestar eu me senti rejeitada. Até hoje tento provar para ele que eu posso prestar sim."
"Quando meu companheiro me estuprou eu entendi que vivíamos em tempos diferentes. Ele no tempo em que as mulheres tinham 'obrigação de servir ao marido' e eu no tempo em que as mulheres são donas do próprio corpo. Com isso aprendi muito sobre minha sexualidade."
"Quando meu marido me traiu com minhas amigas, eu aprendi que ele não estava preparado para ser um homem casado. Eu o deixei. E aprendi muito sobre casar e levar vida de solteiro."
"Quando meu primeiro namorado, aquele com quem perdi minha virgindade, me contou que, no mesmo tempo em que começara a namorar comigo também começara a namorar outra garota, que ela também tinha perdido sua virgindade com ele, que agora ele queria deixa-la pra ficar só comigo, que ela queria se suicidar, eu o compreendi e fiz que pude pra ajudar a resolver da melhor maneira a situação. Quando um amigo dele me roubou um beijo, mesmo sem eu querer, ele me humilhou, me fez sentir a pior mulher do mundo e terminou comigo. Eu pedi que ele me perdoasse (pelo crime que eu não cometi) e jurei que amaria ele por toda minha vida. Ele voltou só pra me humilhar mais e se vingar.Então eu o deixei."
"Quando meu namorado, na primeira noite que saímos, tentou fazer sexo comigo (eu estava afim mas não estava preparada, naquele dia eu podia ficar grávida) eu  disse não. Ele tentou me estuprar. Prendeu minhas mãos atrás do corpo. Eu mordi seu rosto tentando me defender.Então um grito de terror saiu do meu peito. Ele me largou e eu corri. Eu  nunca entendi muito bem porque os homens não estão preocupados em evitar a gravidez. Penso que é porque aprenderam que isso é coisa de mulher."
Esses são alguns depoimentos de mulheres que sofreram violências diversas em suas vidas. Todas lutam pra superar as sequelas desses maus tratos.
Ps.Todas autorizaram a publicação desses depoimentos.

terça-feira, 5 de junho de 2012

Mensagem Antiga

...novos sentidos.

"O desejo alarga onde dói".


domingo, 27 de maio de 2012

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Diálogos amorosos

Ela: Diga que me ama. Prometa que vai me amar toda a vida.
Ele: Porquê você quer que eu prometa? Te amo agora. Minhas promessas não serão a garantia de que te amarei.
Ela: Se você prometer me sentirei mais confiante.
Ele: Pra quê? Pra se iludir? Você precisa confiar em mim, na minha capacidade de amar sem que eu te faça promessas.
Ela: Não consigo. Pra confiar assim eu preciso conhecer você.
Ele: Eu não me conheço cem por cento, me surpreendo comigo mesmo e sou falível, por isso não sou totalmente confiável.
Ela: Eu também sou assim. Então não somos confiáveis cem por cento. Como então amar e se entregar?
Ele: Não sei. Sei que o amor é como uma plantinha que precisa ser regado todos os dias e adubado sempre pra não morrer.
Ela: Mas as plantinhas também morrem quando completam seu ciclo, mesmo que durem uma vida inteira.
Ele: O ciclos vem e vão como as estações: inverno e verão, outono e primavera, mas um amor pode atravessar todos eles e se renovar a cada ciclo.Além disso existem os mistérios do além que fazem com que o amor transcenda os próprios ciclos.
Ela: Lindo isso que você falou. Mas como se faz isso?
Ele: Não sei, estou aprendendo.
Ela: Vamos aprender juntos?! 

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Tsura


Escrita a partir das histórias contadas pelo índio Luiz Pretinho,durante pesquisa de campo do Grupo de Estudos dos Povos Nativos - GEPON
Um lugar perdido no tempo,
Uma caverna de pedra onde tinha muita gente
Todo mundo estava lá.
Era no tempo das malocas
Os bichos falavam assim como a gente,
Tsura era muito danado
Tinha na sua história tantas outras histórias
Que nunca teriam fim
São histórias de várias vidas de um povo
Que esqueceu o caminho da convivência – Muchalauê
Hoje vive num caminho pra não morrer
Hoje apenas não morreu
Será que vive?

Eliana Ferreira de Castela

sábado, 7 de abril de 2012

Poe[amar]

O pensamento obtuso
da razão objetiva
que enquadra nós e a realidade
em essências que não mudam.
Arde nos olhos,
dói na alma a verdade assim vivida.
E assim está criada a aridez desértica da vida.
A poesia é água, é sonho,
metáforas que não explicam.
Mata a sede.
Desprende amarras e livra.
Leio poemas como quem anda em labirintos,
decifrando sentidos possíveis,
para desvendar a charada.
De lida em lida, o vício se instala.
Não faço poemas como quem busca rimas.
Poeamando sou dona da bola e da jogatina.

quarta-feira, 28 de março de 2012

segunda-feira, 26 de março de 2012

Garimpando

Dignidade e respeito?
Ninguém me dá.
Arranco a unha,
no cotidiano da vida.
Na luta de confronto
com os padrões cristalizados.
Suor, lágrimas e sangue se misturam no embate.
Eu busco como quem escava uma rocha à mão
atrás de uma pedra rara.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Flor de Esperança


Quero trocar...

Quero trocar todas as homenagens que recebo no dia internacional da mulher (muitas vezes falsidades e hipocrisias) por atitudes cotidianas de transformação de condutas e valores machistas nas relações interpessoais, profissionais e de convivência em geral. Trocá-las também por vida digna e gozo de direitos em pé de igualdade com os homens sem precisar me transformar em um deles, preservando minha diferença. Substituí-las por segurança pra ir e vir, pra desfrutar de meus direitos, sem que minha condição de gênero seja motivo de risco social, de risco de violência. Ter, em lugar delas, o reconhecimento pelos meus esforços, que muitas vezes é dobrado pra alcançar os mesmos resultados que meus colegas homens. Quero também a igualdade na avaliação de nossos erros por parte de todos aqueles que geralmente são mais tolerantes com "eles" do que com "elas". Quero trocar também as homenagens ao heroísmo com que suportamos as injustiças por mais justiça em minha vida e na vida de todas as mulheres.  Agradeço o carinho sincero de tod@s nesse dia, mas prefiro assim.

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Amor à primeira vista

Quando ela o viu a primeira vez, já faz tanto tempo, pensou: -Quero um homem gentil como ele pra mim.
O tempo se passou e ela concluiu: -Não existe ninguém igual à ele, nenhuma pessoa pode ser igual à outra. Mas sua ética inconsciente não permitira que o desejasse logo de inicio. Quando o conhecera ele era comprometido. Dias mais tarde o compromisso se desfez e ela começou a pensar que o 'igual' bem que podia ser ele próprio. Mas ele nem a percebeu, ou se percebeu não demonstrou.
Novos compromissos vieram. Em um deles ela até pensou em interferir, pois avistava pedras em seu caminho, no entanto, apenas deu passagem pois o amava assim livre.
Tempos depois, quando o viu sofrer, sentiu-se até culpada. Podia ter interferido, o prendido com uma coleira como se faz com os cachorros, assim poderia trazê-lo junto à sí e protegê-lo de sí próprio.
Mas amava vê-lo cortando os céus, num vôo livre. Fez de tudo pra se aproximar, curar suas feridas, alerta-lo de alguns riscos que se corre neste mundo. Pensava até em aprender a voar como ele e acompanha-lo pra evitar que se metesse em novas encrencas, mas tudo era tão dificil.
Rogava aos Ventos Benéficos que o guardassem nos caminhos da vida e cada dia mais se aperfeiçoava nas artes de defesa. Lutaria pelo seu amado com todas suas forças. Moveria céus e terras pra afastar qualquer uma que pudesse feri-lo.Acreditava em sua vitória.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Vestido de seda

Eu lembro daqueles dias. Eu queria pegar meu barquinho atravessar o rio, comprar alguns metros de seda,costurar um vestido pra mim e ser feliz assim.
Mas você ...você não deixou. Você queria atravessar as águas em busca de um lugar chamado felicidade. Um lugar que nunca existiu.
Na época comentei: -Terei que te amar muito pra te perdoar por tudo isso. Você não entendeu bem, nem eu tinha a dimensão exata do que estava dizendo.
Hoje pego meu barquinho, atravesso o rio, compro tecidos variados, costuro meus vestidos e sou feliz assim. Você, que nunca encontrou um lugar chamado felicidade, ainda tenta me impedir. Duvida que eu seja feliz  e ainda acredita que chegará lá.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Perspectivas

É tudo uma questão de ótica, de percepção.
Isso me assusta.
Talvez pela solidão do olhar,
ou mesmo pela fugacidade dos encontros.
Talvez pela eternidade dos desencontros
ou cosntância dos confrontos.
Gosto de imaginar
pra perder o medo de olhar do alto.
Estudar possibilidades
Analisar a textura segura do lugar.
Quando você me abraça
eu tiro os meus pés do chão.
Presa em seu abraço
crio asas para,
em liberdade, voar.