segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Fragmentos de falas

  Longe de traduzir todas as falas do seminário Diálogo entre Saberes, anotei algumas e estou repartindo com vocês. Provavelmente não serei totalmente fiel ao que foi dito, mas tentei.  

"Uma história se faz superando barreiras e muitas fronteiras. Esta é a história de uma gente fronteiriça que faz na vida e da vida, um espaço sem fronteiras." Euripedes Funes - UFC (autógrafo no livro 'História e Memória das três fronteiras).
    "O problema da Universidade não é a autoridade da academia, mas o seu autoritarismo."Euripedes Funes - UFC.
     "É preciso levar em conta as diversas histórias e seus diferentes contextos."Euripedes Funes - UFC.
      "Estou muito feliz de compartilhar destas experiências. Não tenho conhecimento acadêmico, tudo o que eu sei é através da observação da natureza e com a cultura do nosso povo, dos nossos mitos, da nossa religião. A lua nasce de frente e desce de costas. O sol, estamos com a iluminação por cima, aquele chapeuzinho que está lá em cima nos iluminando. Pra quem está no mundo espiritual, não tem distância, tudo está bem pertinho. Na internet você também pode ver o mundo bem pertinho, e é bem importante ver o que está acontecendo em outros países, pra ver que as coisas do mundo se acabam." (...)"Nós não queremos que os outros se tornem Ashaninkas, mas que reconheçam que temos qualidade de vida." (...) "A nossa riqueza não é material, mas cultural." Benki Ashanika - Coordenador do Iorenka Atami (espaço de saber na lingua Ashaninka)
"A gente tem que estudar a forma de entender quem a gente é, quem o outro é. A gente, dentro da floresta, vê muito mais do que vocês imaginam, o que está acontecendo aí pelo mundo." Francisco Ashaninka
     " O meu livro já está quase pronto. Nele conto histórias que os mais velhos me contaram para que as crianças e jovens possam conhecer." (...)"Fiquei contente de poder passar um pouco dos meus sentimentos como indígena e gostaria que este diálogo não parasse por aqui." Francisca Arara - Representante da Organização de Professores Indigenas do Acre.
"Hoje o desafio para os povos indígenas é aprender a fazer gestão sustentável de seus territórios" Fabricio Bianchini - CPI/Ac - Comissão Pró-Indio do Acre

     "Nós da academia temos imensa dificuldade de lidar com a cultura do outro, a cultura acadêmica é completamente engessada." Eurípides Funes - UFC
      "O Kaxinawá poderia ser uma língua franca no curso superior de formação de professores indigenas da UFAC." (...) "São Gabriel da Cachoeira é o único municipio brasileiro que tem mais de uma língua oficial, ou seja, tornou oficial a língua dos povos indigenas que são a maioria dos habitantes daquele município" Manoel Estébio - Professor da UFAC - Curso de Formação de Professores Indigenas
  "Existe uma preocupação maior com a sustentabilidade econômica e produtiva do que com a sustentabilidade social e cultural" Júlio Barbosa / CNS-Conselho Nacional dos Seringueiros

"Temos que manejar a floresta em todas as potencialidades que ela tem, mas não pensando em enricar, trabalhar pensando na comunidade."  Nilson Mendes - Coperfloresta
     "Um problema atual é que muitos professores das escolas nos seringais não conseguem ver além das paredes da sala de aula".(...)  " O seringueiro aprendia a ler nas latas de óleo." Ademir Pereira - Seringueiro e professor do projeto seringueiro.
   "A educação para o seringueiro foi um meio para não ser enganado na medida e no valor. Para nós (classe média) é um meio de nos tornarmos doutores em 'alpinismo social'. Adelaide Gonçalves Pereira - UFC.  
    "Existe alguns lugares no meio da floresta que não chega médico e nenhum outro profissional da saúde. As mulheres têm somente a assistência da parteira." (...) "A parteira é uma conhecedora das rezas e das plantas medicinais da floresta." (...) "Para ser uma parteira fina é preciso ter feito pelo menos dez partos sem perder nenhuma criança e nenhuma mulher." Zenaide - Parteira do Juruá.
  "No Brasil a pobreza tem cor."(...) "Dizem que a carne preta é mais barata no mercado." (...) "O brasileiro acha que não é rascista." - Almerinda Cunha - Professora e Coordenadora Geral do Fórum Étnico-Racial do Acre.
   "O Programa 'Mãos Femininas na Floresta', desenvolvido pela Rede Acreana de Mulheres e Homens, está ajudando as mulheres a adquirir independência econômica, muitas delas pra sair de situações de violência doméstica." - Amine Carvalho - Coordenadora do Programa 'Mãos Femininas na Floresta'.
    "O Toinho Alves fala sobre a sustentabilidade ambiental, cultural, econômica, politica e social. Eu quero escrever um livro sobre a sustentabilidade ética." Marcos Afonso - Jornalista e moderador da Sociedade de Philosophia.

  "Tenho uma boa notícia e uma ruim ao mesmo tempo. (Não entendo porque brasileiro tem mania de defender seu candidato falando mal do candidato adversário). A boa notícia é que o Caetano Veloso vai votar na minha candidata (Marina Silva). A ruim é que ele chamou o Lula de analfabeto."  (...) "Quem vai defender o direito de quem não quer ter na escrita a forma privilegiada de espressão?? Quem vai defender aqueles que querem continuar se expressando pelos desenhos e privilegiando a oralidade como forma de comunicação e expressão?? Quem vai defender aqueles que preferem se tratar com um Pajé  ao invés de se tratar com os médicos?? (...) "na floresta você rompe com todas as hierarquias construídas. Lá você inverte todo o sistema de autoridade." (...)Antonio Alves - Jornalista

  "Pode botar aí. Não posso deixar de votar nela. É por demais forte, simbolicamente para eu não me abalar. Marina é Lula e é Obama ao mesmo tempo. Ela é meio preta, é uma cabocla, é inteligente como o Obama, não é analfabeta como o Lula que não sabe falar, é cafona falando, grosseiro. Ela fala bem." Caetano Veloso

   "É muito engraçado porque tem gente que acha que a inteligência está ligada à quantidade de anos de escolaridade que você tem. Não tem nada mais burro que isso". Lula

  "Tenho uma relação afetiva de mais de 30 anos com o presidente Lula. A visão que tenho dele é permeada por essa relação de respeito e de companheirismo" (...) "Como venho de uma trajetória de alguém que estudou com muita dificuldade, me sinto feliz pela fresta pela qual passei, que foi o Mobral (programa de alfabetização de adultos criado durante a ditadura militar), o supletivo, o primeiro e o segundo graus, tendo feito uma faculdade e duas especializações. Mas sei que nós temos várias formas de aprender e de ensinar. Existem os processos formais e informais. Por isso, não concordo com a ideia de que o presidente seja um analfabeto." (...) "Conversei com o Caetano para agradecer o apoio dele." (...) "Às vezes as pessoas não veem a frase seguinte." Marina Silva 

   "Encontre suas respostas construídas com base na tolerância e na escuta do outro." (...) "da parte dos índios: que o Estado respeite a construção pedagógica pensada por eles!" (...) "Não tenham medo de ser ridículos." Marcos Montyzuma - UFSC.

   "Estabelecer o diálogo é mesmo um grande desafio. Só é possível haver diferença se houver semelhança. Eu preciso de um referencial comparativo pra dizer que o outro é diferente de mim. O diálogo só é possível na medida que eu estabeleço a semelhança." (...) "As pessoas narram na tentativa de organizar o caos-mundo."(...) Lembrando Micheli Perrot: "existem os excluídos da história." Kenia Rios - UFC 

PS. O seminário foi totalmente filmado e resultará numa publicação e num vídeo.

Veja mais em:
http://www.bibliotecadafloresta.ac.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=774:saboresesaberesdamacaxeira&catid=17:notas&Itemid=217

http://www.pagina20.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=10225&Itemid=29


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