quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Quem inaugura a violência?


Hoje, 25 de novembro, é Dia Internacional de luta pela prevenção e erradicação de todas as formas de Violência Contra a Mulher‎. 

Uma vida sem violência é um  direito de todas as mulheres!!!!


    A partir de hoje até 10 de dezembro,  dia do aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos trarei aqui estórias e reflexões sobre todas as formas de violência e opressão, resistência e luta pela paz.
  Trago, pra início de conversa, uma reflexão de Paulo Freire sobre uma pergunta que acredito que devemos  nos fazer sempre que nos deparamos com uma situação de violência: Quem Inaugura a violência?
Vozes — O Sr. considera que a questão da violência ou da não­-violência para a promoção das mudanças sócio­econômico­políticas continua na ordem do dia?
Paulo Freire — Vou responder de uma maneira que não é evasiva. É o que penso, pondo de lado a minha real ojeriza pela violência. (...)Toda vez que me falam em violência, penso que a violência não é uma categoria metafísica. Não cabe a mim apanhar a violência com uma pinça, no ar, e dizer: "Aqui está a essência da violência". Para mim, a violência é uma categoria histórica. Toda vez que penso na violência, me pergunto: "Violência de quem contra quem?" (...)
Agora mesmo estive no Nordeste, descansando, e vi coisas terríveis. Vi famílias almoçando nas latas de lixo. E não é possível negar isso porque é algo concreto, está lá, quem quiser pode ir ver. E acho isso uma profunda violência. Coloquei esta questão da violência há alguns anos na "Pedagogia do Oprimido". Para mim, quando a gente fala da violência faz um pouco de cavilação: nós só consideramos a violência quando ela parte do oprimido, quando ela é uma resposta que o oprimido dá a uma violência institucionalizada, como diz dom Hélder. É nesse momento que a gente se revolta contra a violência. Quem inaugura o desamor não é o desamado, mas é quem desama. Quem inaugura a violência não é o violentado, é quem violenta. E neste sentido gostaria de dizer, quando se fala em luta de classes, em ficar contra a luta de classes, eu só posso rir, porque essa não é uma questão para ficar contra ou a favor. Isto é algo para constatar, em primeiro lugar. Se quiser tire o nome de luta de classes, que é mais brabo e diga conflitos de classes, conflitos de interesses. E isso existe. Inclusive não foi Marx que inventou isso. Ele mesmo diz numa de suas cartas que os economistas burgueses tinham constatado a luta de classes antes dele. Como educador, eu não nego nem fujo aos conflitos. É impossível negar os conflitos. Diria mais: o conflito é a parteira da consciência. Meu sonho — que eu acho que é possível – é o seguinte: encontrar os caminhos de transformação social com um gasto menor. Quanto menos gasto social, tanto melhor. Mas eu compreendo a existência do conflito, da luta, inclusive o conflito é gerador.

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