Morreu a Alzerina. Mas quem era a Alzerina? Era uma dessas pessoas que vagam e divagam pelas ruas, e pela vida por falta de saúde mental. Dizem que ela era uma professora, construiu sua família, trabalhava, mas depois de ser surrada pelo marido durante um resguardo perdeu sua saúde mental. Mas quem conheceu sabe das verdades e sabedorias ditas por ela em meio à sua loucura. Aquelas que só os loucos dizem.
Ela me fazia lembrar de minha bisavó. Minhas tias, minha mãe, minha vó e suas irmãs se revezavam para cuidar dela que viveu até os 96 anos. Convivi, portanto, algumas vezes com ela. Tinha o mesmo problema que a Alzerina e vivia uma situação parecida. Diziam que foi uma quebra resguardo também. Os motivos ninguém afirmava com certeza. Algumas vezes ouvi que ela tinha andado à cavalo naquele período. Outras vezes ouvi um relato que me desperta indignação até hoje.
Diziam que ela não engravidava todos os anos e os vizinhos começaram a comentar que ela usava anticoncepcionais. Naquela época essa era uma prática condenada por todos, especialmente pela igreja que regulava os costumes. Somente prostitutas e mulheres desonestas é que usavam anticoncepcionais. Especialmente nas regiões do interior e Santa Catarina onde vivia minha bisavó.
Minha bisavó foi à igreja se confessar pois era católica. O padre perguntou sobre o assunto e ela negou que usava anticoncepcionais. No sermão, diante de todos ele retomou o assunto afirmando que além de pecar ela negava o pecado. Depois do ocorrido ela adoeceu. Mas assim como Alzerina ela também dizia suas verdades e sabedorias, aquelas que ninguém dizia. Contam que minha bisavó se zangava e brigava com seu pai para que ele não matasse os índios. Ela afirmava que estes eram gente, tinham alma e que o que ele fazia era um crime e um pecado (crime legitimado pela mesma igreja que condenava os anticoncepcionais, pois era ela que dava o veredicto: 'os índios não são gente, são animais'). O pai de minha bisavó era 'bugreiro' no interior de Santa Catarina, ou seja, ela 'limpava' a área matando índios (que eram chamados de bugres) naquela região para que outros ocupassem o território.
Hoje vemos a noticia do Papa fazendo caridade ao 'permitir' que as prostitutas usem camisinha. Quanta hipocrisia!!!
Fazer esse registro, nesse momento, aqui neste blog, faz parte da campanha: "16 dias de ativismo e luta contra a violência que atinge as mulheres".
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