quinta-feira, 28 de outubro de 2010

A cartomante

    À cerca de uns vinte anos atrás eu e mais duas amigas ( a Filó e a Eliete)  fomos à uma cartomante. Queriamos saber de nosso futuro como muitas jovens fazem hoje.
   Ela embaralhou as cartas, pediu que a Filó cortasse e distribuiu sobre a mesa algumas delas. Foi virando uma à uma e concluiu dizendo: 'você vai morar e trabalhar longe daqui'. Hoje a Filó mora no Nordeste. Depois pôs as cartas para a Eliete e fez a previsão: 'vejo um companheiro com que você viverá sua vida'. A Eliete, que então era separada, depois de algum tempo se casou e foi viver com seu companheiro lá no Conjunto Universitário.
    Chegou a minha vez. Ela embaralhou, pediu que eu cortasse e depois foi virando as cartas. Quando chegou na última, antes de virar a carta ela a espiou e olhou para mim, espiou a segunda vez e tornou a olhar para mim e quando ela estava espiando a terceira vez eu já estava achando que algo grave aconteceria. E então num tom quase fatalista ela disse: 'quem quer seguir nos caminhos de Deus não encontra facilidade nessa vida'.
    Essas lembranças derepente me ocorreram e logo vieram outras. Uma de minha infância quando eu tinha por volta de quatro anos. Eu não ia para a escola ainda. Minha irmã mais velha já se alfabetizava. Eu estava foleando uma cartilha que ela usava. Na cartilha tinha um desenho de um diabozinho, todo vermelho com chifrinhos e rabinho e uma carinha de garoto travesso. Olhei para os lados e percebi que ninguém me observava e então disse à ele em tom de segredo: sabe diabozinho, sei que você só faz maldades por que acha que ninguém gosta de você. Mas eu vou te dizer uma coisa: não faça mais maldades pois eu gosto de você.      
   Já nessa época eu acreditava (talvez ingenuamente , mas talvez  nem tanto) que o meu amor poderia converter até o diabozinho.
    Depois quando cresci descobri uma lenda chinesa que fala de uma princesa moradora das nuvens. De lá ela observava na terra uma tragédia, onde um furioso Dragão sempre saia  de sua escura caverna e devorava crianças que brincavam numa praia. Triste e comovida com as familias que sofriam desceu das nuvens e casou-se com o Dragão. Enfeitou sua caverna com muitas flores, tornou-o feliz e então à patir daquele momento ele não devorou mais nenhuma criancinha.
    Mas até hoje ainda me pergunto: O amor é uma estratégia de transformação do mundo que os sábios usam ou é uma maneira ingênua de se relacionar??

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