Com os meus apenas 53 anos de
“quilômetros rodados” e um tênue conhecimento sobre a vida e as relações de
gênero estabelecidas em nossa sociedade, mais uma vez me vejo obrigada a
comentar sobre o poder da beleza e a dominação do homem, mesmo após as tantas
vitórias feministas.
Estando próxima a uma mulher que foi
mãe recentemente, ouvi dela o comentário de uma obstetra que havia lhe
recomendado o parto cesariana.
Segundo a obstetra, o parto normal deixa sequelas físicas que interferem na
relação matrimonial; em outras palavras, ela disse que após o parto a mulher já
não é a mesma e que isso afeta de forma negativa o desejo sexual do marido pela
mulher. Assim a profissional apela para o recurso cirúrgico que, a meu ver, só
deveria ocorrer para salvar as vidas da mãe e do filho ou outra impossibilidade
para o parto normal.
Essa situação nada mais é do que a
reafirmação do machismo pelas próprias mulheres, que, preocupadas em servir ao
homem, violentam-se. Dedicam-se horas, malhando em
academias; submetem-se a cirurgias, modelando, a
partir de uma ótica equivocada, seus corpos com silicone, botoques e enxertos,
para agradar o tato de seus homens.
No entanto, meu conhecimento empírico
me permite crer que a alma escolhe a alma. Não existe afinidade nas relações entre homens e
mulheres sem essa identificação. Se a forma física desse a perenidade aos
relacionamentos não haveria tantos desenlaces amorosos e as beldades não seriam
deixadas por seus companheiros, que passam a se interessar por uma mulher fora
do atual padrão de beleza.
A busca por academias e cirurgias
objetiva, em muito - não saberia dizer o quanto - reitero, em muito, a cobrança social para que a fêmea satisfaça o macho;
para que a mulher seja bonita para conquistar o homem, modelada para manter a
relação, sem importar os traumas cirúrgicos, o exagero no tempo de malhação na
academia e até o absurdo da violenta antecipação do nascimento do filho. O
fator saúde atualmente, está muito mais associado à beleza padrão que se
estabeleceu socialmente do que ao elemento vital que de fato é a saúde, fazendo
crer que ser bonita é muito mais importante que ser saudável.
Independente de belos corpos, homens
e mulheres estão propensos à situações diversas como, ter um bom ou mau
casamento, ter relacionamentos rompidos de maneiras inesperadas, novos amores,
ou ainda a vivermos sozinhos, achando muito bom. Assim
como ocorre com homens e mulheres, em completa forma física, viverem sós e tristes.
O estado de espírito, a auto-estima,
a saúde mental e a completa aceitação do que somos definirão parte dos
acontecimentos acima referidos. A outra parte é definida pela dinâmica da vida,
independente de nos encontrarmos em forma ou fora dela. A beleza sem dúvida é um
elemento associado à felicidade, mas a supervalorização dela em detrimento da
saúde pode conduzir a infelicidade.
Crônica de Eliana Castela