quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

A chegada


Eu estava dormindo e acordei quando alguém me cutucou dizendo: Acorda! Chegamos no Acre. A primeira lembrança é que estavamos parados no posto de fiscalização, por muitos conhecido como 'corrente'. Naquela época, em frente ao posto, existia um matadouro  e era rodeado por muitos urubus. Ficamos pouco tempo ali e seguimos para Senador Guiomard onde paramos para algumas compras. Naquele tempo a rua principal não era asfaltada e não tinha calçada. O mato que crescia na beira da rua, dava a impressão  de que a ela era um caminho próprio da zona rural e não da área urbana. Logo estavamos rodeados de garotos que carregavam caixas de isopor com refresco e bacias de quibes para vender. Pelos comentários, não era muito comum o que viam. Diziam: que é isso?? Uma casa andando?? Depois dessa parada seguimos para nosso destino final: a colônia Bom Jesus, à cinco quilômetros de distância na BR 317. Ela foi uma das colônias dos japoneses,  vendida para um acreano descendente de cearenses de quem a compramos.
O caminhão estacionou debaixo de um pé de mangueira em frente a casa de pernas muito altas. As pernas da casa eram tão altas que boa parte da mudança ficou embaixo da casa. Lá dormimos a primeira noite. Lembro bem da lua clara como eu nunca tinha visto antes. O mato alto em redor da casa assustava um pouco. Antes de sairmos do Paraná ouviamos muitas estórias de que no Acre haviam índios e animais ferozes.
Ficamos morando assim por muito tempo, encima eram os quartos e embaixo cozinha e sala. Até que meu pai construiu a nova casa, ele é carpinteiro. Negociou na serraria toras de madeira em troca de tábuas serradas.
Passamos alguns apertos, que foram diminuindo com o tempo. Quando meu pai veio comprar a colônia (em outubro), deixou plantada uma roça de arroz . Ele voltou pra buscar a gente e a mudança e deixou a plantação por conta. Quando chegamos os animais e pássaros tinham comido tudo. Tinhamos trazido milho e feijão. Era nossa refeição básica. Uma de minhas tarefas era moer o milho numa pequena máquina manual. Mas logo aprendemos a comer jáca, manga e goiaba que tinha  em abundância na colônia. Banana, mamão e castanha também não faltava. Depois descobrimos pés de ingá, graviola, cupuaçu e araçá. Assim fomos nos adaptando. Amoras e pêssegos, como aqueles que  tinham feito goiaba  e manga no sítio lá no Paraná, nem sonhar. Hummm(saudades!!). A criação de galinhas,porcos e a vaca pro leite ainda não era uma realidade. Comiamos então cutias, pacas e nambus, geralmente caçados no entardecer. O porco do mato era resultado das caçadas de domingo. Traíras e carás eram  frutos das pescarias nos açudes dos vizinhos. Além disso comiamos muito mocotó e bucho  de boi que eram doados num matadouro das redondezas.
E chovia, nossa como chovia!!! Que terra pra chover é o Acre. Madeira seca pro fogão de lenha era sempre um problema, até que nos acostumamos a armazenar com antecedência.
E assim fomos aprendendo a chamar pernilongo de carapanã, porrrta de porta dentre outras coisas que nem lembro mais.  
     

3 comentários:

  1. Oi Marisa,Tudo bom? ^^ espero que sim,olha apartir de agora estou te seguindo tá espero que goste do meu novo post eu sinceramente não achei tão bom quanto os outros mas foi o que escolhi para retomar o blog.Muito obrigado pelos comentários foram decisivos para meu retorno ^^ ainda não tive tempo para ler seus post mas muito em breve vou estar lendo-os e postando meus comentários mas desde já achei seu blog muito lindo,infelizmente não sei fazer o mesmo com o meu,mas vou tentar futuramente.Muito Obrigado mais uma vez e tenha um ótimo dia.

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  2. Obrigado pela visita e pelos elogios, Astronauta de Mármore.Gosto de imagens.Tive ajudas e sempre procuro dar o melhor de mim em tudo que faço. Não se assuste com minhas bobeiras quando ler meus posts. Torço pra que a inspiração seja generosa contigo!!! Também vou ficar te espiando sempre.

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  3. Obrigado.Eu tambêm estarei sempre por aqui ^^.

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