quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Para ganhar um Ano Novo


"Receita de Ano Novo"


PPara você ganhar um belíssimo Ano Novo
cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação como todo o tempo já vivido
(mal vivido ou talvez sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser,
novo até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha
ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?).
 

Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
 

Para ganhar um ano-novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
 

É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.



(Carlos Drummond de Andrade)

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

É Natal!!



Feliz Natal

  Nossa Senhora, com o Menino Jesus em seus braços, resolveu descer à Terra e visitar um mosteiro. Orgulhosos, todos os padres fizeram uma grande fila, e cada um chegava diante da Virgem para prestar sua homenagem. Um declamou belos poemas, outro mostrou suas iluminuras para a Bíblia, um terceiro disse o nome de todos os santos. E assim por diante, monge após monge, homenageou Nossa Senhora e o Menino Jesus.
No último lugar da fila, havia um padre, o mais humilde do convento, que nunca havia aprendido os sábios textos da época. Seus pais eram pessoas simples, que trabalhavam num velho circo das redondezas, e tudo que lhe haviam ensinado era atirar bolas para cima e fazer alguns malabarismos.
Quando chegou sua vez, os outros padres quiseram encerrar as homenagens, porque o antigo malabarista não tinha nada de importante para dizer, e podia desmoralizar a imagem do convento. Entretanto, no fundo do seu coração, também ele sentia uma imensa necessidade de dar alguma coisa de si para Jesus e a Virgem.

Envergonhado, sentindo o olhar reprovador de seus irmãos, ele tirou algumas laranjas do bolso e começou a jogá-las para cima, fazendo malabarismos, que era a única coisa que sabia fazer.

Foi só neste instante que o Menino Jesus sorriu, e começou a bater palmas no colo de Nossa Senhora. E foi para ele que a Virgem estendeu os braços, deixando que segurasse um pouco o menino.
(Trecho extraído do livro O Alquimista, de Paulo Coelho)




segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Rememorando Chico Mendes


Mensagem escrita por Chico Mendes aos jovens do futuro:

Atenção jovens do futuro: 6 de setembro do ano de 2120, aniversário do 1° centenário da revolução socialista mundial, que unificou todos os povos do planeta em um só ideal e num só pensamento de unidade socialista, e que pôs fim a todos os inimigos da nova sociedade. Aqui fica somente a lembrança de um triste passado de dor, sofrimento e morte.
Desculpem, eu estava sonhando quando escrevi estes acontecimentos que eu mesmo não verei, mas tenho o prazer de ter sonhado.



sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Assertividade e poder


    Aprendi com uma psicóloga amiga minha(a Kátia Lenz) que nos diálogos sobre e com muitas emoções ficamos menos assertivos. Ultimamente tenho me esforçado bastante pra dar conta de tantos sentimentos e emoções que me mobilizam e necessitam ser elaborados para conseguir a assertividade necessária para escrever. Um pequeno sopro de assertividade e reparto com vocês uma reflexão de norte sobre as coisas deste mundo: 
    "Nada mudará na sociedade se os mecanismos de poder que funcionam fora, abaixo e ao lado dos aparelhos de Estado, ao nível mais elementar no cotidiano, não forem modificados" (Foucault).


segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Imaculada Concepção


Um filete de água cristalina
que brota de dentro da terra
e escorre por entre as folhas caídas das árvores
que sombreiam as barrancas do igarapé
como lágrimas que brotam dos olhos
nas dores do parto de gentes,
idéias, lugares, sentidos...
Matam a sede.
Alimentam a vida.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Maria da Penha

Gostei muito de ouvir a Maria da Penha na voz da Alcione.

Vejam a letra:

Composição: Paulinho Resende e Evandro Lima
 
Comigo não, violão
Na cara que mamãe beijou
Zé Ruela nenhum bota a mão
Se tentar me bater
Vai se arrepender
Eu tenho cabelo na venta
E o que venta lá, venta cá
Sou brasileira, guerreira
Não tô de bobeira
Não pague pra ver
Porque vai ficar quente a chapa
Você não vai ter sossego na vida, seu moço
Se me der um tapa
Da dona "Maria da Penha"
Você não escapa
O bicho pegou, não tem mais a banca
De dar cesta básica, amor
Vacilou, tá na tranca
Respeito, afinal,é bom e eu gosto
Saia do meu pé
Ou eu te mando a lei na lata, seu mané
Bater em mulher é onda de otário
Não gosta do artigo, meu bem
Sai logo do armário
Não vem que eu não sou
Mulher de ficar escutando esculacho
Aqui o buraco é mais embaixo
A nossa paixão já foi tarde
Cantou pra subir, Deus a tenha
Se der mais um passo
Eu te passo a "Maria da Penha"
Você quer voltar pro meu mundo
Mas eu já troquei minha senha
Dá linha, malandro
Que eu te mando a "Maria da Penha"
Não quer se dar mal, se contenha
Sou fogo onde você é lenha
Não manda o seu casco
Que eu te tasco a "Maria da Penha"
Se quer um conselho, não venha
Com essa arrogância ferrenha
Vai dar com a cara
Bem na mão da "Maria da Penha".

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Violência contra a mulher, um problema de saúde pública

A Carta Maior traz mais dados e informações. Copiei para os leitores do Blog refletirem sobre essa triste realidade.  A autora do texto é Andréa Fachel Leal.

Direitos Humanos| 27/11/2009 

Um grande empecilho, por muito tempo, para a formulação e execução de programas e políticas que enfrentem o problema da violência contra mulheres é justamente a crença arraigada de que a violência no âmbito doméstico contra mulheres ou meninas era um problema da ordem do privado e familiar. Este problema, no Brasil, pode ser visto na expressão popular “em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher”. A violência contra a mulher é, na verdade, um problema de saúde pública. No Brasil, uma em cada cinco mulheres (20%) já sofreu algum tipo de violência física, sexual ou outro abuso praticado por um homem.
Desde 1999, a Organização das Nações Unidas (ONU) proclamou que 25 de Novembro é o Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres.

Que importância tem essa data? Por que um dia especial?

É bom lembrar que esse é um problema de muitas pessoas. As mulheres constituem pelo menos metade da população mundial. Em algumas faixas etárias, como a dos idosos, são mais da metade das pessoas. Em todo o mundo, as mulheres têm maior expectativa de vida do que os homens. As mulheres sobrevivem aos homens, mas não podemos concluir que as mulheres tenham melhores condições de saúde do que eles.

Apesar de tantas mulheres no planeta, elas foram apenas muito recentemente reconhecidas como sujeitos plenos de direitos: na Conferência Mundial sobre Direitos Humanos, ocorrida em Viena em 1993, declarou-se que os direitos das mulheres são direitos humanos. Acabaram-se as fronteiras entre o espaço público e o espaço privado como resultado, por um lado, de uma forte atuação do movimento organizado de mulheres, e por outro, das atrocidades cometidas na Guerra da antiga Iuguslávia, onde o estupro sistemático e em massa de mulheres foi empregado como estratégia de guerra. A violência doméstica e o estupro, crimes cometidos majoritariamente contra mulheres, foram declarados como crimes contra os direitos da pessoa humana.

Na definição da Convenção de Belém do Pará (Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência Contra a Mulher, adotada pela Organização dos Estados Americanos, OEA, em 1994), a violência contra a mulher é “qualquer ato ou conduta baseada no gênero, que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto na esfera pública como na esfera privada”.

A violência contra a mulher é um problema de saúde pública. É necessário que estudantes (e profissionais já atuantes) na área da saúde sejam instrumentalizados e capacitados a atenderem as mulheres que chegarem aos serviços de saúde, vítimas de violência. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), “as conseqüências do abuso são profundas, indo além da saúde e da felicidade individual e afetando o bem-estar de comunidades inteiras”. A violência de gênero é um problema que afeta a saúde física e mental das mulheres, e que tem consequências econômicas e sociais.

É importante salientar que a violência contra mulheres ocorre num contexto específico dado por relações de gênero. Não é por acaso que as mulheres são as maiores vítimas. Não é tampouco porque as mulheres naturalmente sejam mais frágeis ou submissas. A violência contra as mulheres ocorre no contexto social e histórico em que as mulheres são discriminadas, tendo menor acesso à educação, a recursos materiais e simbólicos e a poder, tanto no âmbito privado quanto no público.

Deve-se enfatizar que um grande empecilho, por muito tempo, para a formulação e execução de programas e políticas que enfrentem o problema da violência contra mulheres é justamente a crença arraigada de que a violência no âmbito doméstico contra mulheres ou meninas era um problema da ordem do privado e familiar. Este problema, no Brasil, pode ser visto na expressão popular “em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher”.

A lei promulgada no Brasil que trata especificamente sobre a violência contra a mulher, conhecida como a Lei Maria da Penha, é recente: data de 2006 (Lei 11.340, 7 de agosto de 2006). A partir da Lei Maria da Penha, foram criados Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher nos estados,pelos Tribunais, com o respaldo de recomendação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) de 2007 (Recomendação Nº 9, de 06 de março de 2007 do CNJ).

Vejamos alguns dados importantes sobre a violência contra mulheres, da Organização Mundial de Saúde (OMS), das Nações Unidas (UNFPA) e do Brasil:

* Todos os anos, mais de 1,6 milhões de pessoas morrem no mundo, vítimas de violência. Para cada pessoa que morre vítima da violência, muitas outras sofrem, sendo incapacitadas ou sofrendo por probelmas físicos, sexuais, reprodutivos ou de saúde mental. No mundo todo, a violência é uma das principais causas de mortalidade para pessoas com idade entre 15 e 44 anos. Isto significa que mais de 4400 pessoas morrem diariamente, vítimas de violência.

* No mundo todo, a violência praticada contra mulheres envolve uma série de violações aos seus direitos humanos: tráfico de mulheres e de meninas, estupro, abuso físico, abuso sexual de mulheres e de crianças e também práticas tradicionais que implicam problemas permanentes para a sua saúde sexual e reprodutiva de meninas.

* Uma das formas mais comuns de violência contra mulheres é a violência praticada pelo parceiro íntimo. Isto signifca que as mulheres sofrem violência dos maridos, namorados ou companheiros – atuais ou passados. Outros homens que também mantêm uma relação íntima ou próxima com as mulheres e que muitas vezes são os seus agressores incluem pais, irmãos, padrastos. O espaço doméstico, da casa, por isso mesmo, pode ser considerado um dos espaços mais perigosos para meninas e mulheres.

* As consequências da violência para a saúde das mulheres podem ser diretas ou de longo prazo. Incluem:

- danos e feridas por violência física ou sexual; morte (incluindo o suicídio e a mortalidade materna, resultado de abortos inseguros);

- contaminação por infecções sexualmente transmissíveis e HIV/AIDS;

- gravidez indesejada;

- problemas de saúde mental (depressão, stress, problemas de sono, problemas de alimentação, problemas emocionais, uso e abuso de substâncias psicoativas e álcool);

- problemas físicos de médio e longo prazo (dor de cabeça, dor lombar, dor abdominal, fibromialgia, problemas gastrointestinais, problemas de locomoção e mobilidade).

* Muitas das mulheres que recorrem aos serviços de saúde, com reclamações de enxaquecas, gastrites, dores difusas e outros problemas, vivem situações de violência dentro de suas próprias casas – é extremamente importante que profissionais de saúde sejam capacitados para identificar, atender e tratar pacientes que se apresentam com sintomas que podem estar relacionados a abuso e agressão.

* A dimensão mais trágica da violência contra as mulheres são os assassinatos. De cada duas duas mulheres que morrem vítimas de homicídio no mundo, uma delas é morta pelo seu parceiro íntimo (40 a 70%), homens, em geral no contexto de uma relação abusiva.

* Uma forma específica de violência contra mulheres é o abuso sexual. Uma em cada quatro mulheres do mundo sofrem abuso sexual, perpetrado por um parceiro íntimo, ao longo de suas vidas.

* A prevalência de abuso físico ou sexual sofrido ao longo da vida por mulheres varia de 15% a 71% mundialmente.

* Na América Latina e Caribe, a violência doméstica atinge entre 25% a 50% das mulheres.

* As causas externas são a terceira causa de mortalidade no Brasil como um todo, o que aponta para a violência como um grave problema de saúde pública. A violência em geral pode ser exercida por diferentes agentes (por exemplo, policiais), contra diversas populações (o racismo é um exemplo de violência contra uma determinada população com base na cor da pele ou etnia) e pode ocorrer em muitos espaços (como a escola ou o espaço doméstico).

* No Brasil, uma em cada cinco mulheres (20%) já sofreu algum tipo de violência física, sexual ou outro abuso praticado por um homem.

Quanto às consequências econômicas e sociais da violência contra mulheres, segundo dados do Banco Mundial (BM) e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BIRD):

* Um em cada 5 dias de falta ao trabalho no mundo é causado pela violência sofrida pelas mulheres dentro de suas casas.

* A cada 5 anos, a mulher perde 1 ano de vida saudável se ela sofre violência doméstica.

* As mulheres com idade entre 15 e 44 anos perdem mais anos de vida saudável (“disability- adjusted life year" ou DALY) em função do estupro e da violência doméstica do que em razão de cancer de mama, cancer de colo de útero, problemas relacionados ao parto, doenças coronárias, AIDS, doenças respiratórias, acidentes de automóveis ou a guerra (World Development Report of the World Bank, 1993). O estupro e a violência doméstica são causas importantes de incapacidade e morte de mulheres em idade produtiva.

* Mulheres vítimas da violência podem sofrer com isolamento social, incapacidade para trabalhar, ficarem sem remuneração ou com menor remuneração, incapacidade para participar em atividades na comunidade e terem sua capacidade de cuidar de si mesmas e de seus filhos diminuída. Uma mulher que sofre violência doméstica geralmente ganha menos do que aquela que não vive em situação de violência.

* No Canadá, um estudo estimou que os custos da violência contra as mulheres superam 1 bilhão de dólares canadenses por ano em serviços, incluindo polícia, sistema de justiça criminal, aconselhamento e capacitação.

* Nos Estados Unidos, um levantamento estimou o custo com a violência contra as mulheres entre US$ 5 bilhões e US$ 10 bilhões ao ano.

* Segundo o Banco Mundial, nos países em desenvolvimento, estima-se que entre 5% a 16% de anos de vida saudável são perdidos pelas mulheres em idade reprodutiva como resultado da violência doméstica.

* Um estudo do Banco Interamericano de Desenvolvimento estimou que o custo total da violência doméstica oscila entre 1,6% e 2% do PIB de um país.

A violência pode ser física, psicológica, moral, sexual, patrimonial, institucional, social, econômica, política ou estatal. A violência física é definida como ação ou omissão que coloque em risco ou cause dano à integridade física de uma pessoa. A psicológica, como ação ou omissão destinada a degradar ou controlar as ações, comportamentos, crenças e decisões de outra pessoa por meio de intimidação, manipulação, ameaça direta ou indireta, humilhação, isolamento ou qualquer outra conduta que implique prejuízo à saúde psicológica, à autodeterminação ou ao desenvolvimento pessoal. A violência moral é aquela destinada a caluniar, difamar ou injuriar a honra ou a reputação de uma pessoa.

Violência sexual é o termo que se aplica a casos de estupro; abuso sexual denomina a violência sexual praticada principalmente contra crianças e adolescentes, por adultos. O assédio sexual é um ato de poder, onde uma pessoa se aproveita da condição de estar em posição superior no trabalho (ou escola, ou igreja, etc) para obrigar outra pessoa a aceitar suas propostas sexuais, mediante constante ameaça de demissão, rebaixamento salarial ou outra forma de perseguição; na maioria das vezes, ocorre por parte de homens contra mulheres. A violência patrimonial é qualquer ato de violência que implique dano, perda, subtração, destruição ou retenção de objetos, documentos pessoais, bens e valores.

A violência institucional é todo tipo de violência motivada por desigualdades (de gênero, étnico-raciais, econômicas etc.) predominantes em diferentes sociedades. Essas desigualdades se formalizam e institucionalizam nas diferentes organizações privadas e aparelhos estatais, como também nos diferentes grupos que constituem essas sociedades.

Qual a especificidade afinal da violência contra a mulher?

Há vários tipos ou formas de violência contra as mulheres. As mulheres podem sofrer violência física, psicológica, moral, sexual, patrimonial, institucional, entre outras. Para a Organização Mundial de Saúde são atos de violência:

* Estapear, sacudir, bater com o punho ou com objetos, estrangular, queimar, chutar, ameaçar com faca ou revólver, ferir com armas ou objetos e, finalmente, matar.

* Coerção sexual através de ameaças, intimidação ou uso da força física; forçar atos sexuais não desejados, com outras pessoas ou na frente de outras pessoas.

* Ciúme excessivo, controle das atividades da mulher, agressão verbal, destruição da propriedade, perseguição, ameaças, depreciação e humilhação.

* Violência de gênero – violência sofrida pelo fato de se ser mulher, sem distinção de raça, classe social, religião, idade ou qualquer outra condição, produto de um sistema social que subordina o sexo feminino. Envolve uma relação de poder, onde o homem é dominante e agressivo e a mulher deve estar em posição de submissão e ser dócil; os homens buscam controlar as mulheres no que diz respeito aos seus desejos, opiniões e corpos (inclusive a sua liberdade de ir e vir).

Violência contra a mulher é qualquer conduta – ação ou omissão – de discriminação, agressão ou coerção, ocasionada pelo simples fato de a vítima ser mulher e que cause dano, morte, constrangimento, limitação, sofrimento físico, sexual, moral, psicológico, social, político ou econômico ou perda patrimonial. Essa violência pode acontecer tanto em espaços públicos como privados.

Por fim, é preciso mencionar duas formas de violência que se definem pelo espaço em que ocorrem ou pelos agentes que as praticam – a violência doméstica e a intrafamiliar.

Violência doméstica – forma de violência definida pelo espaço em que ocorre. Violência que ocorre em casa, no ambiente doméstico. Portanto, a violência doméstica pode ocorrer nas relações entre as pessoas da família. Esta denominação mascara o fato de que independente da faixa etária das pessoas que sofrem violência física ou verbal, as mulheres (crianças, adultas e idosas) são as principais vítimas na violência doméstica. O lar é um espaço extremamente perigoso para as mulheres. A violência e as ameaças de violência limitam as mulheres na sua capacidade de negociar o sexo seguro.

Violência intrafamiliar – forma de violência definida pelas relações violentas que ocorrem entre membros da própria família (pai, mãe, filhos, marido, esposa, sogro/a, padrasto, madrasta, etc.). Entre as vítimas da violência intrafamiliar estão mulheres, crianças, idosos e deficientes. Na maioria das vezes, essa forma de violência ocorre no espaço privado. Inclui abuso físico, sexual e psicológico, a negligência e o abandono. A violência conjugal é uma forma de violência intrafamiliar: é a violência nas relações de casais (ou ex-cônjuges). A crítica a essa terminologia está em que também esconde o fato de que a principal vítima dessa violência é a mulher.

Estudos organizados pelas Nações Unidas revelam que 98,4% das vítimas de violência intrafamiliar na Bolívia e 85% das vítimas no Chile são mulheres.

A violência física, psicológica, sexual, moral, patrimonial, doméstica, intrafamiliar, entre outras, são diferentes práticas que podem ser enquadradas como formas de violência de gênero. A violência é uma violação de direitos humanos das mulheres que atinge pessoas de as classes, grupos étnicos e faixas etárias.

Fontes consultadas:

Brasil. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), especialmente dados sobre a população e indicadores de saúde (cf. http://ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/indic_sociosaude/2009/indicsaude.pdf)

Brasil. Ministério da Saúde do Brasil. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Análise de Situação em Saúde. Saúde Brasil 2007. Uma análise da situação de saúde. Brasília, Ministério da Saúde: 2008.

Campbell JC. Health consequences of intimate partner violence. Lancet, 359: 1331–36, 2002.

Estados Unidos da América. United States Department of Justice. Office on Violence Against Women. http://www.ovw.usdoj.gov

Fundo das Nações Unidas para as Populações. UNFPA: Violence againts girls and women: a public health priority. http://web.unfpa.org/intercenter/violence/index.htm

Garcia-Moreno C, Jansen HAFM, Ellsbert M, Watts CH. Prevalence of intimate partner violence: findings from the WHO multi-country study on women’s health and domestic violence. Lancet, 368: 1260-1269, 2006.

International Conference on Population and Development (ICPD), Cairo, 1994.

Nações Unidas. Convention on the Elimination of All Forms of Discrimination Against Women. United Nations General Assembly, 1979.

Organização Mundial de Saúde. Guidelines for medico-legal care for victims of sexual violence. Gender and Women’s Health, Family and Community Health. Injuries and Violence Prevention, Noncommunicable Diseases and Mental Health. World Health Organization: Geneva, 2003. Disponível online no site da OMS (http://www.who.int)

Organização Mundial de Saúde. WHO Multi-country Study on Women’s Health and Domestic Violence against Women. Initial results on prevalence, health outcomes and women’s responses. Initial results on prevalence, health outcomes and women’s responses. World Health Organization, Geneva: 2005.

Organização Mundial de Saúde. Women and Health. Today’s Evidence, Tomorrow’s Agenda. World Health Organization: Geneva, 2009. Disponível online no site da OMS (http://www.who.int)

Organização Mundial de Saúde. World Report on Violence and Health. Edited by Etienne G. Krug, Linda L. Dahlberg, James A. Mercy, Anthony B. Zwi and Rafael Lozano. World Health Organization: Geneva, 2002. Disponível online no site da OMS (http://www.who.int)

REDE Interagencial de Informação para a Saúde. Indicadores Básicos para a Saúde no Brasil: Conceitos e Aplicações. Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS): 2008.

Rio Grande do Sul. Fundação de Economia e Estatística (FEE), especialmente estatísticas de população (cf. http://www.fee.tche.br/sitefee/pt/content/estatisticas/pg_populacao.php)

UN Fourth World Conference on Women, Beijing, 1995.


Para saber mais:

Agência Patrícia Galvão - http://www.agenciapatriciagalvao.org.br

AGENDE - Ações em Gênero, Cidadania e Desenvolvimento. http://www.agende.org.br/

Anis - Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero. http://www.anis.org.br/

Articulação de Mulheres Brasileiras. http://www.articulacaodemulheres.org.br/

Brasil. Presidência da República. Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres. http://www.presidencia.gov.br/estrutura_presidencia/sepm/

Católicas pelo Direito de Decidir. http://catolicasonline.org.br

CEPIA - Cidadania Estudo Pesquisa Informação e Ação. http://cepia.org.br

CFEMEA - Centro Feminista de Estudos e Assessoria. http://www.cfemea.org.br/

Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde - http://www.mulheres.org.br/

CRIOLA. http://www.criola.org.br/

Gelédes Instituto da Mulher Negra. http://www.geledes.org.br/

International Women’s Health Coalition - http://www.iwhc.org/index.php

Maria Mulher - Organização de Mulheres Negras. http://www.mariamulher.org.br/

Rede Feminista de Saúde - http://www.redesaude.org.br/

S.O.S. Corpo: Instituto Feminista para a Democracia. http://www.soscorpo.org.br/

Saúde da Mulher - http://portal.saude.gov.br/portal/saude/area.cfm?id_area=152

Secretaria Especial dePolíticas para Mulheres - http://www.presidencia.gov.br/estrutura_presidencia/sepm/

Teles MAA, Melo M. O que é Violência contra a Mulher? Coleção Primeiros Passos, 314. São Paulo: Brasiliense, 2003.

Themis - Assessoria Jurídica e Estudos de Gênero. http://www.themis.org.br

Andréa Fachel Leal é professora do curso de Medicina e do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Universidade Luterana do Brasil (ULBRA) Contato: DEA.LEAL@GMAIL.COM

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Las Hermanas Mirabal

Entrei na Cozinha da Matilde (ver ao lado o Blog da Letícia Massula) pra tomar um copo d'agua e lá, entre aromas e sabores, encontrei essa história que estou trazendo pra dividir com vocês:  


Há exatos 49 anos, no dia 25 de novembro de 1960, três irmãs da República Dominicana foram brutalmente assassinadas pela ditadura de Rafael Leonidas Trujillo, uma das mais violentas da América Latina. Pátria, Minerva e Maria Tereza Mirabal (Las Mariposas, como eram conhecidas) eram mulheres à frente de seu tempo  e como tal, decidiram não se calar frente às atrocidades que estavam sendo cometidas em seu país, envolveram-se com os movimentos clandestinos e começaram a militar pelo fim da ditadura.
Foram presas e torturadas em várias ocasiões, mas em nenhum momento calaram e acabaram tornando-se uma grande pedra no sapato de Trujillo, que decidiu acabar com suas vidas simulando um acidente com as três quando iam visitar seus maridos na prisão. Las Mariposas foram emboscadas e levadas para uma plantação próxima onde foram apunhaladas e estranguladas juntamente com o motorista que conduzia o veículo em que estavam. Trujillo acreditou que havia eliminado um grande problema, mas a morte das Mirabal causou uma grande comoção no país e levou o povo dominicano a se somar na luta pelos ideais democráticos das Mariposas. Um ano depois Trujillo foi assassinado e a ditadura caiu.
Anos depois, no Primeiro Encontro Feminista Latino-Americano e Caribenho de 1981, realizado em Bogotá, Colômbia, a data do assassinato das Mirabal foi proposta como dia Latino-Americano e Caribenho de luta contra a violência à mulher. Em 1999, a Assembléia geral da ONU declarou que esta data passaria ser lembrada como o Dia Internacional da Eliminação da Violência contra a Mulher, justa homenagem ao sacrifício de Pátria, Miverva e Maria Tereza.
E é justamente esta data, 25 de novembro, que abre a Campanha 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres, desenvolvida internacionalmente pelo Center for Women’s Global Leadership e que no Brasil é desenvolvida pela Agende, Ações em Gênero com ampla parceria dos movimentos de mulheres, feminista e de direitos humanos, cuja proposta é pautar a questão da violência contra as mulheres e garantir a adoção de políticas públicas por pate do governo e solidarieadade por parte da sociedade a um problema que atinge as mulheres em todo o mundo.
Números e dados que fazem pensar:
Desde 1995, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) vem medindo o Índice de Desenvolvimento de Gênero (IDG), que avalia as desigualdades entre homens e mulheres nos países e a constatação foi que “nenhuma sociedade trata tão bem suas mulheres como trata seus homens”.
Profissionais de saúde afirmam que enfermidades crônicas como asma, epilepsia, diabetes, artrite, hipertensão e doenças coronarianas são exacerbadas ou precariamente controladas em mulheres que sofrem violência.
Estudos da Unaids, Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/ AIDS, apontam que as mulheres vítimas de violência estão mais suscetíveis a contraírem o vírus HIV. A violência e o medo limitam o poder da mulher de negociar o sexo seguro, tanto com o parceiro quanto com um estranho.
Dados da Organização Mundial de Saúde citados no relatório anual da Anistia Internacional, o qual foi divulgado no lançamento da Campanha “Está Em Suas Mãos: Pare a Violência contra as Mulheres”, mostram que cerca de 70% das mulheres assassinadas no mundo foram mortas por seus maridos.
O relatório da Anistia Internacional traz ainda um dado divulgado pelo Conselho Europeu, segundo o qual a violência doméstica é a principal causa de morte e deficiências entre mulheres de 16 a 44 anos, e mata mais do que câncer e acidentes de trânsito.
No Brasil, a pesquisa da Fundação Perseu Abramo do ano 2000, intitulada A Mulher Brasileira nos Espaços Público e Privado, estima que 2,1 milhões de mulheres são espancadas por ano no País; 175 mil por mês, 5,8 mil por dia, 243 por hora, 4 por minuto, uma a cada 15 segundos.
Segundo o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), uma em cada cinco faltas ao trabalho no mundo é causada pela violência sofrida pelas mulheres dentro de suas casas. E a cada cinco anos, a mulher que sofre violência doméstica perde um ano de vida saudável.


PS- pra saber mais sobre a história das Irmãs Mirabal, livro e filme: No tempo das Borboletas de Julia Alvarez.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Quem inaugura a violência?


Hoje, 25 de novembro, é Dia Internacional de luta pela prevenção e erradicação de todas as formas de Violência Contra a Mulher‎. 

Uma vida sem violência é um  direito de todas as mulheres!!!!


    A partir de hoje até 10 de dezembro,  dia do aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos trarei aqui estórias e reflexões sobre todas as formas de violência e opressão, resistência e luta pela paz.
  Trago, pra início de conversa, uma reflexão de Paulo Freire sobre uma pergunta que acredito que devemos  nos fazer sempre que nos deparamos com uma situação de violência: Quem Inaugura a violência?
Vozes — O Sr. considera que a questão da violência ou da não­-violência para a promoção das mudanças sócio­econômico­políticas continua na ordem do dia?
Paulo Freire — Vou responder de uma maneira que não é evasiva. É o que penso, pondo de lado a minha real ojeriza pela violência. (...)Toda vez que me falam em violência, penso que a violência não é uma categoria metafísica. Não cabe a mim apanhar a violência com uma pinça, no ar, e dizer: "Aqui está a essência da violência". Para mim, a violência é uma categoria histórica. Toda vez que penso na violência, me pergunto: "Violência de quem contra quem?" (...)
Agora mesmo estive no Nordeste, descansando, e vi coisas terríveis. Vi famílias almoçando nas latas de lixo. E não é possível negar isso porque é algo concreto, está lá, quem quiser pode ir ver. E acho isso uma profunda violência. Coloquei esta questão da violência há alguns anos na "Pedagogia do Oprimido". Para mim, quando a gente fala da violência faz um pouco de cavilação: nós só consideramos a violência quando ela parte do oprimido, quando ela é uma resposta que o oprimido dá a uma violência institucionalizada, como diz dom Hélder. É nesse momento que a gente se revolta contra a violência. Quem inaugura o desamor não é o desamado, mas é quem desama. Quem inaugura a violência não é o violentado, é quem violenta. E neste sentido gostaria de dizer, quando se fala em luta de classes, em ficar contra a luta de classes, eu só posso rir, porque essa não é uma questão para ficar contra ou a favor. Isto é algo para constatar, em primeiro lugar. Se quiser tire o nome de luta de classes, que é mais brabo e diga conflitos de classes, conflitos de interesses. E isso existe. Inclusive não foi Marx que inventou isso. Ele mesmo diz numa de suas cartas que os economistas burgueses tinham constatado a luta de classes antes dele. Como educador, eu não nego nem fujo aos conflitos. É impossível negar os conflitos. Diria mais: o conflito é a parteira da consciência. Meu sonho — que eu acho que é possível – é o seguinte: encontrar os caminhos de transformação social com um gasto menor. Quanto menos gasto social, tanto melhor. Mas eu compreendo a existência do conflito, da luta, inclusive o conflito é gerador.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Fragmentos de falas

  Longe de traduzir todas as falas do seminário Diálogo entre Saberes, anotei algumas e estou repartindo com vocês. Provavelmente não serei totalmente fiel ao que foi dito, mas tentei.  

"Uma história se faz superando barreiras e muitas fronteiras. Esta é a história de uma gente fronteiriça que faz na vida e da vida, um espaço sem fronteiras." Euripedes Funes - UFC (autógrafo no livro 'História e Memória das três fronteiras).
    "O problema da Universidade não é a autoridade da academia, mas o seu autoritarismo."Euripedes Funes - UFC.
     "É preciso levar em conta as diversas histórias e seus diferentes contextos."Euripedes Funes - UFC.
      "Estou muito feliz de compartilhar destas experiências. Não tenho conhecimento acadêmico, tudo o que eu sei é através da observação da natureza e com a cultura do nosso povo, dos nossos mitos, da nossa religião. A lua nasce de frente e desce de costas. O sol, estamos com a iluminação por cima, aquele chapeuzinho que está lá em cima nos iluminando. Pra quem está no mundo espiritual, não tem distância, tudo está bem pertinho. Na internet você também pode ver o mundo bem pertinho, e é bem importante ver o que está acontecendo em outros países, pra ver que as coisas do mundo se acabam." (...)"Nós não queremos que os outros se tornem Ashaninkas, mas que reconheçam que temos qualidade de vida." (...) "A nossa riqueza não é material, mas cultural." Benki Ashanika - Coordenador do Iorenka Atami (espaço de saber na lingua Ashaninka)
"A gente tem que estudar a forma de entender quem a gente é, quem o outro é. A gente, dentro da floresta, vê muito mais do que vocês imaginam, o que está acontecendo aí pelo mundo." Francisco Ashaninka
     " O meu livro já está quase pronto. Nele conto histórias que os mais velhos me contaram para que as crianças e jovens possam conhecer." (...)"Fiquei contente de poder passar um pouco dos meus sentimentos como indígena e gostaria que este diálogo não parasse por aqui." Francisca Arara - Representante da Organização de Professores Indigenas do Acre.
"Hoje o desafio para os povos indígenas é aprender a fazer gestão sustentável de seus territórios" Fabricio Bianchini - CPI/Ac - Comissão Pró-Indio do Acre

     "Nós da academia temos imensa dificuldade de lidar com a cultura do outro, a cultura acadêmica é completamente engessada." Eurípides Funes - UFC
      "O Kaxinawá poderia ser uma língua franca no curso superior de formação de professores indigenas da UFAC." (...) "São Gabriel da Cachoeira é o único municipio brasileiro que tem mais de uma língua oficial, ou seja, tornou oficial a língua dos povos indigenas que são a maioria dos habitantes daquele município" Manoel Estébio - Professor da UFAC - Curso de Formação de Professores Indigenas
  "Existe uma preocupação maior com a sustentabilidade econômica e produtiva do que com a sustentabilidade social e cultural" Júlio Barbosa / CNS-Conselho Nacional dos Seringueiros

"Temos que manejar a floresta em todas as potencialidades que ela tem, mas não pensando em enricar, trabalhar pensando na comunidade."  Nilson Mendes - Coperfloresta
     "Um problema atual é que muitos professores das escolas nos seringais não conseguem ver além das paredes da sala de aula".(...)  " O seringueiro aprendia a ler nas latas de óleo." Ademir Pereira - Seringueiro e professor do projeto seringueiro.
   "A educação para o seringueiro foi um meio para não ser enganado na medida e no valor. Para nós (classe média) é um meio de nos tornarmos doutores em 'alpinismo social'. Adelaide Gonçalves Pereira - UFC.  
    "Existe alguns lugares no meio da floresta que não chega médico e nenhum outro profissional da saúde. As mulheres têm somente a assistência da parteira." (...) "A parteira é uma conhecedora das rezas e das plantas medicinais da floresta." (...) "Para ser uma parteira fina é preciso ter feito pelo menos dez partos sem perder nenhuma criança e nenhuma mulher." Zenaide - Parteira do Juruá.
  "No Brasil a pobreza tem cor."(...) "Dizem que a carne preta é mais barata no mercado." (...) "O brasileiro acha que não é rascista." - Almerinda Cunha - Professora e Coordenadora Geral do Fórum Étnico-Racial do Acre.
   "O Programa 'Mãos Femininas na Floresta', desenvolvido pela Rede Acreana de Mulheres e Homens, está ajudando as mulheres a adquirir independência econômica, muitas delas pra sair de situações de violência doméstica." - Amine Carvalho - Coordenadora do Programa 'Mãos Femininas na Floresta'.
    "O Toinho Alves fala sobre a sustentabilidade ambiental, cultural, econômica, politica e social. Eu quero escrever um livro sobre a sustentabilidade ética." Marcos Afonso - Jornalista e moderador da Sociedade de Philosophia.

  "Tenho uma boa notícia e uma ruim ao mesmo tempo. (Não entendo porque brasileiro tem mania de defender seu candidato falando mal do candidato adversário). A boa notícia é que o Caetano Veloso vai votar na minha candidata (Marina Silva). A ruim é que ele chamou o Lula de analfabeto."  (...) "Quem vai defender o direito de quem não quer ter na escrita a forma privilegiada de espressão?? Quem vai defender aqueles que querem continuar se expressando pelos desenhos e privilegiando a oralidade como forma de comunicação e expressão?? Quem vai defender aqueles que preferem se tratar com um Pajé  ao invés de se tratar com os médicos?? (...) "na floresta você rompe com todas as hierarquias construídas. Lá você inverte todo o sistema de autoridade." (...)Antonio Alves - Jornalista

  "Pode botar aí. Não posso deixar de votar nela. É por demais forte, simbolicamente para eu não me abalar. Marina é Lula e é Obama ao mesmo tempo. Ela é meio preta, é uma cabocla, é inteligente como o Obama, não é analfabeta como o Lula que não sabe falar, é cafona falando, grosseiro. Ela fala bem." Caetano Veloso

   "É muito engraçado porque tem gente que acha que a inteligência está ligada à quantidade de anos de escolaridade que você tem. Não tem nada mais burro que isso". Lula

  "Tenho uma relação afetiva de mais de 30 anos com o presidente Lula. A visão que tenho dele é permeada por essa relação de respeito e de companheirismo" (...) "Como venho de uma trajetória de alguém que estudou com muita dificuldade, me sinto feliz pela fresta pela qual passei, que foi o Mobral (programa de alfabetização de adultos criado durante a ditadura militar), o supletivo, o primeiro e o segundo graus, tendo feito uma faculdade e duas especializações. Mas sei que nós temos várias formas de aprender e de ensinar. Existem os processos formais e informais. Por isso, não concordo com a ideia de que o presidente seja um analfabeto." (...) "Conversei com o Caetano para agradecer o apoio dele." (...) "Às vezes as pessoas não veem a frase seguinte." Marina Silva 

   "Encontre suas respostas construídas com base na tolerância e na escuta do outro." (...) "da parte dos índios: que o Estado respeite a construção pedagógica pensada por eles!" (...) "Não tenham medo de ser ridículos." Marcos Montyzuma - UFSC.

   "Estabelecer o diálogo é mesmo um grande desafio. Só é possível haver diferença se houver semelhança. Eu preciso de um referencial comparativo pra dizer que o outro é diferente de mim. O diálogo só é possível na medida que eu estabeleço a semelhança." (...) "As pessoas narram na tentativa de organizar o caos-mundo."(...) Lembrando Micheli Perrot: "existem os excluídos da história." Kenia Rios - UFC 

PS. O seminário foi totalmente filmado e resultará numa publicação e num vídeo.

Veja mais em:
http://www.bibliotecadafloresta.ac.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=774:saboresesaberesdamacaxeira&catid=17:notas&Itemid=217

http://www.pagina20.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=10225&Itemid=29


quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Diálogo entre aparências e essências



         Gosto da Triste Figura de Dom Quixote.  Um gladiador das "causas perdidas". Por trás de sua "loucura" existem muitas verdades sobre a triste tragédia humana.






quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Outros diálogos entre Saberes & Sabores


     Quando eu era criança gostava muito de textos como muitas falas. Achava que eles eram mais interessamtes, mais cheios de vida e ajudavam a imaginar melhor os personagens.
      Quando cresci descobri que existem muitos diálogos no silêncio.
      Que a ausência de falas não é a ausência de diálogo.
      Que existem muitas maneiras de falar a mesma coisa, com palavras ou sem palavras.
      Quando vejo uma cena como esta fico imaginando: O que será que proseiam estes Seres??? 



quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Na Biblioteca da Floresta....


Dentre diversas outras atividades que realizo na Biblioteca da Floresta está a organização do seminário abaixo para qual estão tod@s convidad@s.





Para visualizar clique na imagem.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

As lágrimas da Lua


    Sempre fui uma pessoa curiosa. Sempre procurei nas  gavetas, baús, atrás das cortinas, embaixo dos tapetes, atrás das portas e demais cantinhos  esquecidos do universo a Heroína  de todas as histórias. Aquela que os falsos mestres insistem em esconder enquanto nos contam suas mentiras.
   Alguns vestígios dela encontrei num mito antigo sobre a lua, que estava guardado em um velho baú. Ele nos conta que:                                                        
    "Todas as noites, a Senhora Lua reúne todas as lembranças jogadas  fora e todos os sonhos esquecidos da humanidade, guardando-os em sua taça de prata até o despontar da aurora. A seguir, aos primeiros albores, continua a história, todos os sonhos esquecidos e todas as lembranças desprezadas são devolvidos à Terra como seiva da  Lua ou orvalho. Misturado às "lágrimas da lua", o orvalho tem poderes mágicos de nutrir, curar e retemperar a vida sobre a Terra.Graças ao desvelo compassivo da Mãe Lua , nada de valor se perde para o ser humano".(Extraido do Livro Jung e o Tarô de Sallie Nichols).   
  
Esses saberes antigos ajudam a mover meus passos e alimentam meu espírito para sempre eu cultivar uma esperança.


quinta-feira, 15 de outubro de 2009

A heroína e o Mestre Tempo


     Todas as histórias têm sempre heróis, heroinas, vilãos e vilãs. Outro dia, garimpando atrás de umas jóias preciosas encontrei a seguinte pérola:

 “O herói de minha história, aquele que amo de toda minha alma, aquele que tentei pintar em toda sua beleza, aquele que foi, que é e que sempre será belo – é a verdade.” L. Tolstoi  
Hoje, dia dos Mestres, saúdo todos eles com carinho, mas quero prestar minhas homenagens à um especial: o Mestre Tempo que vem revelando aos poucos todos os 'heróis' de nossas histórias.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Contar histórias


Já faz algum tempo que resolvi criar um blog.  Um blog pra contar e recontar histórias.

Histórias que vivi, que assisti, que me contaram ou que li em algum lugar.

Contar histórias sempre está presente na vida das pessoas, da sociedade e do mundo.

É uma necessidade, desde os primórdios ou desde sempre, assim como a de lutar pela sobrevivência, pela liberdade, pela felicidade, pelo amor, pelo saber, dentre outras coisas que se busca.


 Ainda nas cavernas, quando não tinha sido inventada a escrita, as pessoas contavam as histórias de suas guerras e caçadas atráves de desenhos. Depois criaram metáforas que ainda hoje são recontadas de diversas formas.
Seja através da rebuscada, e muitas vezes hermética, linguagem acadêmica ou da pirotecnia cinematográfica e ficcional com toda sua sofisticação.

Sobre o que, como e sobre quem contar sempre gera polêmica. Muitas histórias também são contadas sobre essas polêmicas e acabam gerando mais polêmicas.
Mas, além de contar, quero também expressar reflexões e debater, à partir de opiniões diversas, sobre porquê, para que e como contar histórias.

Se Sherazade contava pra se manter viva, muitas contam pra ninar seus filhos. Alguns contam pra ensinar suas lições aprendidas, outros pra mostrar o seu valor. Muitos contam pelo simples prazer de contar, de partilhar. Outros contam para 'descontar' o que foi 'mal contado'.

Histórias longas ou curtas. Que aconteceram há muito, muito tempo, há algumas horas atrás, ou que ainda estão acontecendo.


   Histórias em várias linguas e formas de expressão.De poucos, de uma só pessoa, de muitos, ou de tod@s.


E até de quem está, há uns 500 anos ouvindo tudo em silêncio como aquela árvore que conheci um dia desses.


E assim contando entender um pouco como é a vida e com fios de palavras tecer e bordar alguns sentidos dela.