Estamos vivendo um novo tempo na política com a
criação de um partido de nome Rede Sustentabilidade. http://www.brasilemrede.com.br/Novo
não é só o nome, mas as possibilidades práticas de avançarmos rumo a realização
de alguns sonhos de democracia, ética, dignidade, justiça social e relação
harmoniosa com a natureza, dentre outros que atualmente se encontram somente no
plano das utopias e ideais humanos.
A ideia de Rede nasce principalmente dos
batalhadores pela sustentabilidade ambiental a partir da experiência de
construção de políticas públicas transversais para essa área. No entanto, para
mim, sempre que se fala em Rede, baixa da memória, em certa medida, uma
feminista. Explico o porquê: ao longo da minha vida sempre participei das lutas
pela promoção e garantia dos direitos das mulheres, da harmonia entre os
gêneros, pela superação de realidades de discriminação, preconceito, injustiças
e desigualdades de gênero. Na busca de entender o que leva a essa realidade
costumo manter o foco nas relações de poder, como se constituem e se modificam,
suas questões ontológicas, suas histórias, dentre outras questões relacionadas
a isso.
Ocorre-me sempre que aprendemos relações de poder
desde o útero materno. Lá somos mobilizados pelas sensações oriundas do
estado psicoemocional de nossas mamães. Esse estado é comumente construído a
partir das relações que ela está vivenciando no mundo, particularmente na
geração de um novo ser onde participa sempre o sexo oposto. Esse fato nos
marca nas profundidades de nossa psique nos dando “régua e compasso” para lidar
com as relações de poder no mundo.
Os movimentos de mulheres, as feministas e hoje em
dia a sociedade em geral, percebe que as relações de poder em nossa sociedade
são marcadas por relações baseadas em estruturas verticais e hierárquicas e essas hierarquias em geral favorecem desigualdades diversas entre os seres
humanos e destes para com a natureza. Portanto mudar as estruturas hierárquicas
sempre foi um dos propósitos feministas e dos movimentos de mulheres. As
estruturas de rede sempre foram idealizadas como alternativas ao modelo
hierárquico e por consequência como estruturas adequadas à superação de
desigualdades. Estão sempre presentes nas formas de organização dos próprios
movimentos. Minhas primeiras experiências em pensar e por em prática estruturas
horizontais vem dos movimentos de mulheres. Posteriormente na
construção de políticas públicas em atenção às mulheres em situação de violação
percebemos que atendimento em rede é a estratégia ideal.
A inspiração das mulheres para o feitio das
estruturas de rede nasce de suas lutas e resistências cotidianas, de seus
fazeres sempre na linha do cuidado com crianças, idosos, enfermos e feridos
(enquanto os homens vão para a guerra). Nasce também da experiência singular de
gestar, onde divide seu próprio corpo, suas esperanças e aflições, a sede, a
fome, a saciedade, o prazer, o próprio ar que respira com outro ser. Nessa
experiência aprende outra matemática, onde dividir é igual a somar.
Ao olharmos com profundidade uma situação de
violação em que uma mulher está submetida, percebemos múltiplos fatores gerando
uma agressão física, por exemplo, ou um assédio sexual no trabalho. Diante
disso demanda-se a múltiplas intervenções na erradicação das mesmas, assim a
constituição de redes torna-se uma opção natural nos processos de erradicação
da violação e atuação consequente.
No entanto, a mudança das estruturas por si só não
garantem as mudanças significativas que precisamos. Precisamos nos atentar à
alma, aos valores de quem constitui redes para que elas não se tornem
embalagens modernas de vícios antigos.
Construir redes é reelaborar-se cotidianamente numa
perspectiva sistêmica de pensar e fazer, numa mimese da natureza que assim é.
Mt bom o texto. Profundo sem ser chato. Vlw
ResponderExcluirÉ um desafio permanente para mim ser profunda sem ser chata, em discursos e gestos cotidianos. Que bom que você gostou.
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