sexta-feira, 22 de março de 2013

Campanha Laço Branco



Tudo começou com um trágico episódio ocorrido em 1989 no Canadá. Um homem jovem entrou armado em uma sala de aula de uma escola politécnica de Montreal, ordenou que os homens se retirassem e em seguida atirou e matou quatorze mulheres que estavam na sala e nos corredores do prédio. Ao mesmo tempo ele gritava: “vocês são todas feministas”.  Após os assassinatos ele suicidou-se e foi encontrada em seu bolso uma carta na qual o jovem dizia não suportar mulheres estudando um curso tradicionalmente para homens.
Este episódio, que foi um ato de violência extrema baseada em gênero, ficou conhecido como “Massacre de Montreal” e gerou amplo debate no Canadá sobre os homens serem ou não naturalmente violentos.  Neste cenário um grupo de homens decidiu se organizar para dizer que não eram naturalmente violentos e não aceitavam a violência contra a mulher. Assim nasceu a Campanha do Laço Branco – Homens Pelo Fim da Violência Contra a Mulher – com o lema: Jamais cometer um ato de violência contra as mulheres e não fechar os olhos frente a esta violência.
A campanha do Laço Branco chegou ao Brasil em 1999 com algumas ações isoladas no Rio de Janeiro, Recife e Brasília desenvolvidas pelos Instituto PAPAI, Instituto Promundo e Instituto NOOS.  No começo do ano de 2002 um folder da campanha chegou ao Acre, sem sabermos exatamente como, e motivou a Rede Acreana de Mulheres e Homens a lançar aqui a nobre campanha. Naquela época já sabíamos que as ações de empoderamento e autoestima com grupos de mulheres não eram suficientes, pois estas quando retornavam para suas casas ou comunidades se deparavam com homens que não haviam passado por um processo de reflexão entendendo, então, a intenção da mulher de requerer seus direitos como uma afronta, um insulto, o que em alguns casos gerava/motivava atitudes violentas contra elas.
Mesmo com esta contestação, que nesta época era restrita, havia muita resistência de instituições financiadoras e grupos feministas em destinar recursos orientados para o enfrentamento à violência contra a mulher a ações focadas nos homens, por serem os recursos, muitas vezes, parcos e serem os homens os autores deste tipo de violência.
Desta forma a estratégia foi estabelecer parcerias locais com instituições públicas, privadas e sociais numa somatória de recursos materiais, financeiros e humanos, respectivamente. Assim os anos de2003 a 2005 foram marcados por abundantes ações das quais explicitarei as mais relevantes.
Distribuição e amarração de fitas, tipo senhor do bom fim, nos braços dos homens, ocasião em que acordávamos com eles o seu compromisso com a campanha e a importância da fitinha em seu braço, que devia ser instrumento de trabalho e carinho e nunca de violência;
Palestras em eventos alusivos aos direitos das mulheres e pelo fim da violência onde expúnhamos as causas dos comportamentos violentos dos homens: as suas formas de socialização tradicional em que a violência é aceita e às vezes incentivada como forma de resolução de conflitos, aprendida e reproduzida em brincadeiras infantis, nos relacionamentos com os pares na adolescência, em práticas esportivas, ao mesmo tempo em que atitudes e sensações como o medo, o cuidado de si e do outro, o carinho e choro são reprovadas.
Oficinas reflexivas para adolescentes e jovens com temáticas como sexualidade, violência, drogas, entre outras, nas quais era posto em xeque os comportamentos hegemonicamente machistas e seus efeitos destrutivos e autodestrutivos como, por exemplo, dirigir carro em alta velocidade ou ter relações sexuais sem o uso do preservativo.
As duas primeiras ações citadas acima têm o mérito de informar e promover reflexão em homens e mulheres sobre formas alternativas de comportamento baseadas na equidade de gênero. A terceira tem função de mudar ou prevenir atitudes violentas dos jovens contra mulheres e outros homens.
É importante dar ênfase a uma estratégia que nós não desenvolvemos nesse período. Trata-se dos grupos reflexivos de gênero com homens autores de violência contra a mulher, formados por demanda espontânea ou sistema judicial, que através de oficinas reflexivas consegue ressocializá-los com números ínfimos de reincidência.  
Juntas as três estratégias formam o tripé fundamental da Campanha Laço Branco que visa a erradicação da violência contra a mulher e de gênero, tendo o homem  como  protagonista desse processo.
A Campanha do Laço Branco ficou inerte no Acre nos anos de 2006 a 2008. A partir do ano seguinte temos desenvolvido ações esporádicas, em parte por uma promessa não cumprida de um ministério. Nesta semana durante nossas ações recebi muitos pedidos exaltados para levarmos a Campanha para escolas, comunidades e instituições. Isso me motivou a intensificar as ações em busca da erradicação da violência contra a mulher e como uma campanha se faz, sobretudo, com divulgação, estou enviando essa história de luta social ao lugar certo.

Cleib Lubiana de Araújo
Coordenador Estadual
Campanha do Laço Branco


2 comentários:

  1. Recomendo a visita ao site da Campanha: www.lacobranco.org.br

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    1. Valeu a dica Benedito. É muito bom sentir que não estamos sozinhas nessa estrada.Agradeço sua visita, volte sempre. A ideia de que é preciso meter a colher sim nas relações entre homens e mulheres, em prol da equidade, derruba o isolamento criado, abre portas e janelas de um novo tempo.

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