Tudo começou com um trágico
episódio ocorrido em 1989 no Canadá. Um homem jovem entrou armado em uma sala
de aula de uma escola politécnica de Montreal, ordenou que os homens se
retirassem e em seguida atirou e matou quatorze mulheres que estavam na sala e
nos corredores do prédio. Ao mesmo tempo ele gritava: “vocês são todas
feministas”. Após os assassinatos ele
suicidou-se e foi encontrada em seu bolso uma carta na qual o jovem dizia não
suportar mulheres estudando um curso tradicionalmente para homens.
Este episódio, que foi um ato de
violência extrema baseada em gênero, ficou conhecido como “Massacre de
Montreal” e gerou amplo debate no Canadá sobre os homens serem ou não
naturalmente violentos. Neste cenário um
grupo de homens decidiu se organizar para dizer que não eram naturalmente violentos
e não aceitavam a violência contra a mulher. Assim nasceu a Campanha do Laço
Branco – Homens Pelo Fim da Violência Contra a Mulher – com o lema: Jamais
cometer um ato de violência contra as mulheres e não fechar os olhos frente a
esta violência.
A campanha do Laço Branco chegou ao
Brasil em 1999 com algumas ações isoladas no Rio de Janeiro, Recife e Brasília
desenvolvidas pelos Instituto PAPAI, Instituto Promundo e Instituto NOOS. No começo do ano de 2002 um folder da
campanha chegou ao Acre, sem sabermos exatamente como, e motivou a Rede Acreana
de Mulheres e Homens a lançar aqui a nobre campanha. Naquela época já sabíamos
que as ações de empoderamento e autoestima com grupos de mulheres não eram
suficientes, pois estas quando retornavam para suas casas ou comunidades se
deparavam com homens que não haviam passado por um processo de reflexão entendendo,
então, a intenção da mulher de requerer seus direitos como uma afronta, um
insulto, o que em alguns casos gerava/motivava atitudes violentas contra elas.
Mesmo com esta contestação, que
nesta época era restrita, havia muita resistência de instituições financiadoras
e grupos feministas em destinar recursos orientados para o enfrentamento à
violência contra a mulher a ações focadas nos homens, por serem os recursos,
muitas vezes, parcos e serem os homens os autores deste tipo de violência.
Desta forma a estratégia foi
estabelecer parcerias locais com instituições públicas, privadas e sociais numa
somatória de recursos materiais, financeiros e humanos, respectivamente. Assim
os anos de2003 a 2005 foram marcados por abundantes ações das quais explicitarei
as mais relevantes.
Distribuição e amarração de fitas,
tipo senhor do bom fim, nos braços dos homens, ocasião em que acordávamos com eles
o seu compromisso com a campanha e a importância da fitinha em seu braço, que
devia ser instrumento de trabalho e carinho e nunca de violência;
Palestras em eventos alusivos aos
direitos das mulheres e pelo fim da violência onde expúnhamos
as causas dos comportamentos violentos dos homens: as suas formas de
socialização tradicional em que a violência é aceita e às vezes incentivada
como forma de resolução de conflitos, aprendida e reproduzida em brincadeiras infantis,
nos relacionamentos com os pares na adolescência, em práticas esportivas, ao
mesmo tempo em que atitudes e sensações como o medo, o cuidado de si e do
outro, o carinho e choro são reprovadas.
Oficinas reflexivas para
adolescentes e jovens com temáticas como sexualidade, violência, drogas, entre
outras, nas quais era posto em xeque os comportamentos hegemonicamente
machistas e seus efeitos destrutivos e autodestrutivos como, por exemplo,
dirigir carro em alta velocidade ou ter relações sexuais sem o uso do
preservativo.
As duas primeiras ações citadas
acima têm o mérito de informar e promover reflexão em homens e mulheres sobre
formas alternativas de comportamento baseadas na equidade de gênero. A terceira
tem função de mudar ou prevenir atitudes violentas dos jovens contra mulheres e
outros homens.
É importante dar ênfase a uma
estratégia que nós não desenvolvemos nesse período. Trata-se dos grupos
reflexivos de gênero com homens autores de violência contra a mulher, formados
por demanda espontânea ou sistema judicial, que através de oficinas reflexivas
consegue ressocializá-los com números ínfimos de reincidência.
Juntas as três estratégias formam o
tripé fundamental da Campanha Laço Branco que visa a erradicação da violência
contra a mulher e de gênero, tendo o homem
como protagonista desse processo.
A Campanha do Laço Branco ficou
inerte no Acre nos anos de 2006 a 2008. A partir do ano seguinte temos
desenvolvido ações esporádicas, em parte por uma promessa não cumprida de um
ministério. Nesta semana durante nossas ações recebi muitos pedidos exaltados para
levarmos a Campanha para escolas, comunidades e instituições. Isso me motivou a
intensificar as ações em busca da erradicação da violência contra a mulher e
como uma campanha se faz, sobretudo, com divulgação, estou enviando essa
história de luta social ao lugar certo.
Cleib Lubiana de Araújo
Coordenador Estadual
Campanha do Laço Branco