Quando eu estava concluido a pós-graduação em psicopedagogia tive que a escrever um artigo científico junto com minha equipe. Decidimos que o nosso tema seria sobre as dificuldades de escrita e leitura.
Enquanto pesquisava o assunto me dei conta que nós também tinhamos as dificuldades que estudavamos nas crianças e então decidi criar este blog pra exercitar e melhorar minhas habilidades.
Desde então venho buscado a melhor maneira de contar histórias. Às vezes flui bem, mas às vezes fica tudo travado.
Recebi recentemente um convite do Movimento Marina Silva do qual faço parte pedindo:
Então, vamos contar nossas histórias, a sua história?
Pensei em como começar? O que dizer? ...São tantas coisas que se passaram...
Agora, chegando o aniversário dela resolvi fazer um esforço pra presentea-la com alguma história.
Tentei lembrar de quando nos conhecemos. Não consegui. As primeiras lembranças foram de quando ela ainda morava na Cidade Nova(bairro de Rio Branco/Ac). Eu integrava o DCE(Diretório Central dos Estudantes) da UFAC(Universidade Federal do Acre) na gestão em que o Fábio(atual esposo de Marina) era presidente. Eles começavam o namoro e eu ajudava o cupido algumas vezes.
Naquele tempo colegas de militância era 'meio que' família.Dividiamos sonhos, inquietações, tarefas, idéias, comida, lazer, preocupações, decisões...
As campanhas era um trabalho árduo e artesanal, desde a construção de bons argumentos pra convencer eleitores até a confecção de placas e panfletos. Os argumentos pra convencer os eleitores deviam falar das qualidades da candidata e nunca dos defeitos do adversário. Uma arte difícil na politica. Devia defender uma sociedade de justiça para todos e não só criticar os governantes e seus malfeitos. Uma crítica deveria ser sempre bem fundamentada, etc..
Quando ela se elegeu vereadora (1988), o PT não tinha quase nenhuma expressão na institucionalidade local. Sua atividade principal era na organização de movimentos sociais.
Ela virou a politica de cabeça pra baixo e lá se foi abrindo as portas pra muitas das conquistas que fizemos nesse espaço.
Tricotavamos sobre nossa condição feminina, nossa espiritualidade, idéias e conceitos, sobre a vida e o projeto politico.
Marina sempre me inspirou muito com sua ética amorosa, sua visão profunda e comprometida e sua prática responsável.
Sua saúde sempre era preocupante. Procuravamos alternativas à medicina tradicional. Pais de santos e rezadores (às vezes às escondidas de nossos companheiros incrédulos). Videntes, cristais, remédios não alopáticos, alimentação, etc...
Depois ela tornou-se Senadora e Ministra e eu fui ficando por aqui sempre torcendo por ela e admirando seu desempenho.
Quando começaram a falar de Marina Presidente, lá no fundinho me sentia feliz por ela ser lembrada, mas pensava vai ser doído e ela não merece passar por isso, não é justo.
Sonhava que o PT debatesse seu nome e com isso qualificasse o debate interno. Mas não era só a amizade por ela que alimentava esse desejo. Era a insatisfação com os rumos que o projeto plolitico do PT vinha (e vem) tomando. Muitas ações entrando em choque com a árdua tarefa de construção e defesa de valores éticos. A compreeensão de que as bandeiras tão caras como a erradicação da pobreza, não combinam com as estratégias politicas do PT. No meu entendimento, pra erradicar a pobreza, é necessário romper com esse 'nacionalismo' da elite brasileira. Coisa que o PT não faz mais. É preciso olhar a nossa história de país colonizado e entender que, pior do que a ditadura militar é a ditadura do colonizador(adotada pela elite nacionalista brasileira e hoje defendida pelo PT). Essa ditadura defende uma economia monocultora e não busca uma economia baseada numa relação harmoniosa com a natureza biodiversa. Não entende que a erradicação da pobreza passa pela valorização de uma tradicão milenar que promove a diversidade sócio-étnica-cultural e sempre manteve uma relação harmoniosa com a natureza.O PT hoje defende hegemonias. Isso entra em choque direto com essa tradição.
Mas o debate interno do PT não aconteceu. Achei carência de democracia. Lamentei.
Recebi convite pra integrar o Movimento Marina Presidente. Todas às vezes que pensava minha cabeça doía, a tensão e o estresse crescia. Mas não era justo pressiona-la, dar à ela mais essa tarefa tão pesada. Resistia. Voltava a me indignar com o PT. Quando ela decidiu aceitar eu entrei no Movimento, mas já não era com a mesma garra daqueles tempos primeiros. A apatia gerada por tantas decepções, pelo sofrimento dela quando saiu do PT... a tensão com os 'companheiros', ...elaborar tudo isso consumia muito da minha energia.
Mas ela foi lá, fez bonito como já era esperado, reacendeu a capacidade de sonhar e ajudou a construir algumas coisas pra serem ditas às crianças e aos jovens. Disse algumas coisas que andavam entaladas na garganta, qualificou o debate e abriu novas perpectivas para a politica.
Valeu Marina!! Que este seu aniversário se repita ainda por muitos e muitos anos. Parabéns.