Como aquele da montanha que sonha ter um igarapé aos seus pés,
pertencendo à mesma paisagem.
No entanto, nada pode o igarapé fazer para realizar o sonho da montanha.
O percurso das suas águas obedecem ao declive natural da paisagem desenhada por Deus.
Como o da formiga, que junto às suas irmãs cortam folhas, constrói caminhos e ninhos no solo, distante do céu infinito onde voa a destemida águia.
Quando em um descanso ela pousou em um galho e a formiga que por ali passava, em busca de mais uma folha, uma carona pegou em sua pata.
Lá das alturas não pode avistar o chão, pois não fora abençoada, como a águia, pelo dom da visão. Teve certeza, então, que seu lugar era no chão.
Desencontros são destinos predestinados pelos planos de Deus.
É nos desencontros que os encontros acontecem.
A montanha encontrou o seu destino de ser o que é,
numa paisagem sem um igarapé no seu sopé.
O igarapé, em seu curso, enfeita outras paisagens,
sem medir a distância do sopé.
A formiga sem amigas nada é,
feliz com seu destino caminha aos nossos pés.
Enquanto isso a águia transborda seu olhar no infinito horizonte,
tão longe de sopés, igarapés e dos nossos pés.