sexta-feira, 1 de julho de 2011

Marcha das Vadias no Rio de Janeiro – Por que marchamos?

Carta Manifesto

No Rio de Janeiro, marchamos porque apenas nos primeiros três meses desse

ano foram 1.246 casos registrados de mulheres e meninas estupradas, uma

média de quatorze mulheres e meninas estupradas por dia, e sabemos que

ainda há várias mulheres e meninas abusadas cujos casos desconhecemos;

marchamos porque muitas de nós dependemos do precário sistema de

transporte público do Rio de Janeiro, que nos obriga a andar longas

distâncias sem qualquer segurança ou iluminação para proteger as várias

mulheres e meninas que são violentadas ao longo desses caminhos;

marchamos porque foi preciso a criação de vagões femininos no trem e no

metrô para que não fossemos sexualmente assediadas durante o uso desses

transportes.

No  Brasil, marchamos porque aproximadamente 15 mil mulheres são estupradas

por ano, e mesmo assim nossa sociedade acha graça quando um humorista

faz piada sobre estupro, chegando ao cúmulo de dizer que homens que

estupram mulheres feias não merecem cadeia, mas um abraço; marchamos

porque nos colocam rebolativas e caladas como mero pano de fundo em

programas de TV nas tardes de domingo e utilizam nossa imagem semi-nua

para vender cerveja, vendendo a nós mesmas como mero objeto de prazer e

consumo dos homens; marchamos porque vivemos em uma cultura patriarcal

que aciona diversos dispositivos para reprimir a sexualidade da mulher,

nos dividindo em “santas” e “putas”, e muitas mulheres que denunciam

estupro são acusadas de terem procurado a violência pela forma como se

comportam ou pela forma como estavam vestidas; marchamos porque a mesma

sociedade que explora a publicização de nossos corpos voltada ao prazer

masculino se escandaliza quando mostramos o seio em público para

amamentar nossas filhas e filhos; marchamos porque durante séculos as

mulheres negras escravizadas foram estupradas pelos senhores, porque

hoje empregadas domésticas são estupradas pelos patrões e porque todas

as mulheres, de todas as idades e classes sociais, sofreram ou sofrerão

algum tipo de violência ao longo da vida, seja simbólica, psicológica,

física ou sexual.

No mundo, marchamos porque desde muito novas somos ensinadas a sentir

culpa e vergonha pela expressão de nossa sexualidade e a temer que

homens invadam nossos corpos sem o nosso consentimento; marchamos porque

muitas de nós somos responsabilizadas pela possibilidade de sermos

estupradas, quando são os homens que deveriam ser ensinados a não

estuprar; marchamos porque mulheres lésbicas de vários países sofrem o

chamado “estupro corretivo” por parte de homens que se acham no direito

de puni-las para corrigir o que consideram um desvio sexual; marchamos

porque ontem um pai abusou sexualmente de uma filha, porque hoje um

marido violentou a esposa e, nesse momento, várias mulheres e meninas

estão tendo seus corpos invadidos por homens aos quais elas não deram

permissão para fazê-lo, e todas choramos porque sentimos que não podemos

fazer nada por nossas irmãs agredidas e mortas diariamente. Mas

podemos.

Já fomos chamadas de vadias porque usamos roupas curtas, já fomos chamadas

de vadias porque transamos antes do casamento, já fomos chamadas de

vadias por simplesmente dizer “não” a um homem, já fomos chamadas de

vadias porque levantamos o tom de voz em uma discussão, já fomos

chamadas de vadias porque andamos sozinhas à noite e fomos estupradas,

já fomos chamadas de vadias porque ficamos bêbadas e sofremos estupro

enquanto estávamos inconscientes, por um ou vários homens ao mesmo

tempo, já fomos chamadas de vadias quando torturadas e curradas durante a

Ditadura Militar. Já fomos e somos diariamente chamadas de vadias

apenas porque somos MULHERES.

Mas, hoje, marchamos para dizer que não aceitaremos palavras e ações

utilizadas para nos agredir enquanto mulheres. Se, na nossa sociedade

machista, algumas são consideradas vadias, TODAS NÓS SOMOS VADIAS. E

somos todas santas, e somos todas fortes, e somos todas livres! Somos

livres de rótulos, de estereótipos e de qualquer tentativa de opressão masculina à nossa vida,

à nossa sexualidade e aos nossos corpos.

Estar no comando de nossa vida sexual não significa que estamos nos abrindo

para uma expectativa de violência, e por isso somos solidárias a todas

as mulheres estupradas em qualquer circunstância, porque tiveram seus

corpos invadidos, porque foram agredidas e humilhadas, tiveram sua

dignidade destroçada e muitas vezes foram culpadas por isso. O direito a

uma vida livre de violência é um dos direitos mais básicos de toda

mulher, e é pela garantia desse direito fundamental que marchamos hoje e

marcharemos até que todas sejamos livres.



Somos todas as mulheres do mundo! Mães, filhas,

avós, putas, santas, vadias…todas merecemos respeito!

Para ver mais:
http://marchadasvadiasrio.blogspot.com/

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