terça-feira, 20 de abril de 2010
Assim é a vida...
As rosas perdem seu perfume, suas pétalas caem... para dar lugar à uma nova rosa.
Assim é a vida.
Se no passado me machuquei nos espinhos, hoje a vida oferece novas oportunidades de lidar com os espinhos sem me machucar.
sábado, 17 de abril de 2010
POEMA DE MILAREPA
A pintura dourada se desbota com o tempo,
as lindas flores do campo logo fenecem, os pálidos raios da lua logo se devanecem,
o rio caudaloso dilui-se no mar,

o filho querido cresce e logo se vai para sempre.
Isto mostra a transitoriedade de todas as coisas. Isto prova a impermanência de todas as coisas. Pense e você tomará consciência.
Estas são as comparações que canto,
espero que você se recorde sempre.
Preocupações e sofrimento sempre existirão, então deixe-os de lado,
e viva segundo esta grande consciência.
segunda-feira, 22 de março de 2010
A Jibóia, Guardiã do Nixi Pae (Ayauaska) entre os Huni Kui(Kaxinawás)
O mito do
surgimento da Ayauaska, contado entre os Huni Kui (Kaxinawás) em
várias versões, narra a história de um indio caçador e de uma mulher
encantada.
Em uma de
suas caçadas o indio caçador chega a beira de um lago onde
encontrou um pé de jenipapo, fruta muito procurada por diversos
animais. Parou, e ficou de tocaia esperando a caça que aparecesse.
Depois de um longo tempo apareceu uma anta (awa). Ao invés de comer
as frutas, a anta pegou três delas e se dirigiu para o lago onde as
jogou para baixo, para cima e no meio. Logo começou a sair muita
espuma do meio do lago. No meio da espuma boiou uma mulher clara de
cabelos compridos e lisos e muito bonita. Era uma mulher jibóia que
subiu para a terra, abraçou, beijou e teve relações com awa.
Na
tocaia o homem descobriu o segredo de awa e somente observando
apaixonou-se pela mulher encantada.
Quando
awa foi embora a mulher sumiu dentro do lago. O caçador então saiu
de dentro da tocaia e fez do mesmo jeito que awa. Pegou três frutas,
jogou dentro do lago. Demorou pouco tempo e começou a sair a
espuma e novamente apareceu uma linda mulher que subiu para o beira
do lago.
Encontrando
o caçador começaram a conversar. Ele falou, contou que viu tudo que
a anta fez e que decidiu fazer o mesmo. Ela disse: - Eu não sou
daqui, moro muito longe e perguntou: - Você tem mulher? Ele
respondeu: - Tenho. E você tem marido? Ela falou: - Somente um
namorado. Então ele pediu: - Vamos namorar? Namoram, fizeram
amor e ela gostou muito e não quis mais deixa-lo. Ela chamou ele
para morarem juntos e ele aceitou.Foi com ela para a terra da jibóia,
debaixo da água, no outro mundo.
Chegando
lá foi apresentado aos parentes dela que gostaram muito dele. Morou
lá por doze anos e teve três filhos com a jibóia.
Um dia a
mulher jibóia começou a preparar cipó para tomar com seu povo. Ele
quis saber o que era e ela disse que era um chá para ver coisas
bonitas. Então o caçador disse que ia tomar
também. Ela disse que era muito forte e ele era muito novo ali e não
poderia tomar. Ele insitiu e tomou.
Quando a
miração chegou ele viu que seu sogro era uma jibóia e o estava
engolindo. Então começou a gritar, e enquanto gritava contava sua
vida. Então dentro da miração descobriu que sua mulher era uma
jibóia e que ele estava encantado.
Quando a
miração acabou ele ficou muito triste e desconfiado. Os parentes da
mulher jibóia não ficaram mais gostando dele. Então o caçador
descobriu que sua mulher jibóia estava planejando mata-lo e fugiu
pra junto de sua antiga família deste lado do mundo. Contou tudo que
se passara com ele e ficou morando com seu cunhado.
Depois
de um tempo ele voltou a caçar na beira do lago. Seus filhos com a
jibóia preocupados com seu desaparecimento passaram a procura-lo e o
encontraram na beira do lago e então começaram a engoli-lo. Não
conseguiram e chamaram sua mãe. Quando ela estava engolindo ele até
a cintura ele começou a gritar chamando seus outros parentes do mundo
de cá:
-Venham
parentes. As jibóias estão me engolindo!

Na outra
versão, os parentes matam a jibóia. O caçador, então, antes de
morrer, pede que os enterrem um a lado do outro. Fala que na sua
sepultura nascerá um cipó e na sepultura da jibóia nascerá uma
árvore. Desenho
do Professor Isaias Ibã Sales Kaxinawá
Diz,
então: - Tira o cipó, corta um palmo de comprido, bate com um
pedaço de pau, tira a casca,bota água junto com a folha da árvore e cantando pode cozinhar por um tempo. E diz também: - Quando
tomar o chá eu e a Jibóia estaremos dentre dele ensinando e
explicando tudo pra você.
Enterraram o caçador e a jibóia. Depois de seis meses, o cunhado
foi na sepultura, encontrou o cipó e a árvore. Fez tudo como o
caçador havia dito. Mirou muito e viu o futuro, o presente e o
passado.
Os
Kenes são ensinos da Jibóia
Os kenes são desenhos
geométricos que lembram os a pele da jibóia. São pintados na
cerâmica, no corpo e tecidos nas roupas, redes, cestos, bolsas e
acessórios. Segundo um dos mitos do povo Huni Kui (Kaxinawás) o
kene é um conhecimento das mulheres e vieram de Yube, a jibóia
encantada.
“ Yube
é o dono desses desenhos e foi ele quem os deu para meu povo. É a
nossa identidade, força e proteção”. (...) São vinte e quatro
Kene básicos no corpo da jibóia. Nesses desenhos estão
representados vários elementos da natureza. Eu comparo esses Kene
com as letras do ABC, que servem pra formar palavras. Cada um deles
tem um nome. As mulheres vão combinando esses kene básicos entre si
e dando origem a outros kene. (...)
O
kene é como um espírito visível dos trabalhos das mulheres. Nós
acreditamos que tudo que tem na natureza tem espírito. Na nossa
língua chamamos yuxim. Quando uma mulher trabalha com kene ela
trabalha com vários yuxim da natureza....da água, do fogo para
tingir o algodão, da palha para tecer, do barro para fazer
utensílios. O kene é o espírito visível de todas as forças da
natureza.
E
nós podemos conversar e trabalhar com outros yuxim porque também
somos yuxim.”Agostinho Muru Kaxinawá, pesquisador
indígena da TI dos rios Breu e Jordão (CPI, OPIAC,S/D)
Texto:
Marisa Fontana, historiadora e
pós graduanda em psicopedagogia.
Referências
bibliograficas:
CUNHA,
Manoela Carneiro da, ALMEIDA, Mauro Barbosa de.(Organizadores)
Enciclopédia da floresta.São Paulo: Companhia das Letras.
2002. Página 382.
MAIA,
Dedê.(Organizadora) Huni Meka: cantos do Nixi Pae. Rio
Branco: Comisão Pró-Indio, 2007.
quarta-feira, 10 de março de 2010
Aviso da lua que menstrua
Moço, cuidado com ela!
Há que se ter cautela com esta gente que menstrua...
Imagine uma cachoeira às avessas:
cada ato que faz, o corpo confessa.
Cuidado, moço
às vezes parece erva, parece hera
cuidado com essa gente que gera
essa gente que se metamorfoseia
metade legível, metade sereia.
Barriga cresce, explode humanidades
e ainda volta pro lugar que é o mesmo lugar
mas é outro lugar, aí é que está:
cada palavra dita, antes de dizer, homem, reflita..
Sua boca maldita não sabe que cada palavra é ingrediente
que vai cair no mesmo planeta panela.
Cuidado com cada letra que manda pra ela!
Tá acostumada a viver por dentro,
transforma fato em elemento
a tudo refoga, ferve, frita
ainda sangra tudo no próximo mês.
Cuidado moço, quando cê pensa que escapou
é que chegou a sua vez!
Porque sou muito sua amiga
é que tô falando na "vera"
conheço cada uma, além de ser uma delas.
Você que saiu da fresta dela
delicada força quando voltar a ela.
Não vá sem ser convidado
ou sem os devidos cortejos..
Às vezes pela ponte de um beijo
já se alcança a "cidade secreta"
a Atlântida perdida.
Outras vezes várias metidas e mais se afasta dela.
Cuidado, moço, por você ter uma cobra entre as pernas
cai na condição de ser displicente
diante da própria serpente
Ela é uma cobra de avental
Não despreze a meditação doméstica
É da poeira do cotidiano
que a mulher extrai filosofando
cozinhando, costurando e você chega com a mão no bolso
julgando a arte do almoço: Eca!...
Você que não sabe onde está sua cueca?
Ah, meu cão desejado
tão preocupado em rosnar, ladrar e latir
então esquece de morder devagar
esquece de saber curtir, dividir.
E aí quando quer agredir
chama de vaca e galinha.
São duas dignas vizinhas do mundo daqui!
O que você tem pra falar de vaca?
O que você tem eu vou dizer e não se queixe:
VACA é sua mãe. De leite.
Vaca e galinha...
ora, não ofende. Enaltece, elogia:
comparando rainha com rainha
óvulo, ovo e leite
pensando que está agredindo
que tá falando palavrão imundo.
Tá, não, homem.
Tá citando o princípio do mundo!
Elisa Lucinda
terça-feira, 9 de março de 2010
Sonhos da Menina
A flor com que a menina sonha
está no sonho?
ou na fronha?
Sonho
risonho:
O vento sozinho
no seu carrinho.
De que tamanho
seria o rebanho?
A vizinha
apanha
a sombrinha
de teia de aranha...
Na lua há um ninho
de passarinho.
A lua com que a menina sonha
é o linho do sonho
ou a lua da fronha?
Cecília Meireles
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010
Alexandre, o Grande e Diógenes, o Filósofo mendigo
Gosto muito da lendária história de um diálogo entre o Imperador Alexandre e Diógenes o filósofo mendigo.Diz a história que:
Alexandre, o Grande, que, ao encontrar Diógenes, ter-lhe-ia perguntado o que poderia fazer por ele. Acontece que devido à posição em que se encontrava, Alexandre fazia-lhe sombra. Diógenes, então, olhando para Alexandre, disse: "Não me tires o que não me podes dar!" (variante: "deixe-me ao meu sol"). Essa resposta impressionou vivamente Alexandre, que, na volta, ouvindo seus oficiais zombarem de Diógenes, disse: "Se eu não fosse Alexandre, queria ser Diógenes."
Dedico essa história à todos 'imperadores' do momento.
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010
De Marina pra Marisa, De Marisa Pra Marina
Marina, passou seu aniversário e eu numa correria grande, lembrei de você apenas em minhas preces.
Nesse feriado fui limpar um baú onde guardo coisas antigas pra livra-las do cupim e da umidade. Achei essa poesia que fizestes pra nós. Resolvi dedica-la a você pela passagem do seu aniversário. Ela, com certeza, será um bom escudo nesse ano de cabo de guerra. Muitos vão esquecer seu nome ou elogiando demais ou depreciando-a. Nessas horas lembre da poesia e de seu nome verdadeiro.
De Marias, Amélias e Madalenas
Marina Silva
Marina Silva
No sofrimento somos Maria,
mãe de um Deus assassinado.
Marias sem alegria,
dor sem futuro ou passado.
Na renúncia somos Amélia,
de uma triste verdade.
Amélias dem sonho,
desejo ou vontade.
No preconceito, Madalena,
nas praças apedrejada.
Madalenas: ao pecado
e à culpa predestinadas
Só no amor temos nomes
E as formas de nossa estima
Velha mãe, jovem formosa.
E, eternamente, menina.
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