segunda-feira, 6 de outubro de 2014

O rumo da mudança

Outra Marina, a Colasanti, inspira o rumo da mudança, porque um dia já sonhei junto com o PT:

"Acordava ainda no escuro, como se ouvisse o sol chegando atrás das beiradas da noite.  E logo sentava-se ao tear.

          Linha clara, para começar o dia.  Delicado traço cor da luz, que ela ia passando entre os fios estendidos, enquanto lá fora a claridade da manhã desenhava o horizonte.

          Depois lãs mais vivas, quentes lãs iam tecendo hora a hora, em longo tapete que nunca acabava.

          Se era forte demais o sol, e no jardim pendiam as pétalas, a moça colocava na lançadeira grossos fios cinzentos do algodão mais felpudo.  Em breve, na penumbra trazida pelas nuvens, escolhia um fio de prata, que em pontos longos rebordava sobre o tecido.  Leve, a chuva vinha cumprimentá-la à janela.

          Mas se durante muitos dias o vento e o frio brigavam com as folhas e espantavam os pássaros, bastava a moça tecer com seus belos fios dourados, para que o sol voltasse a acalmar a natureza.

          Assim, jogando a lançadeira de um lado para outro e batendo os grandes pentes do tear para frente e para trás, a moça passava os seus dias.

          Nada lhe faltava.  Na hora da fome tecia um lindo peixe, com cuidado de escamas.  E eis que o peixe estava na mesa, pronto para ser comido.  Se sede vinha, suave era a lã cor de leite que entremeava o tapete.  E à noite, depois de lançar seu fio de escuridão, dormia tranquila.

          Tecer era tudo o que fazia.  Tecer era tudo o que queria fazer.

          Mas tecendo e tecendo, ela própria trouxe o tempo em que se sentiu sozinha, e pela primeira vez pensou em como seria bom ter um marido ao lado.

          Não esperou o dia seguinte.  Com capricho de quem tenta uma coisa nunca conhecida, começou a entremear no tapete as lãs e as cores que lhe dariam companhia. E aos poucos seu desejo foi aparecendo, chapéu emplumado, rosto barbado, corpo aprumado, sapato engraxado.  Estava justamente acabando de entremear o último fio da ponto dos sapatos, quando bateram à porta.

          Nem precisou abrir.  O moço meteu a mão na maçaneta, tirou o chapéu de pluma, e foi entrando em sua vida.

          Aquela noite, deitada no ombro dele, a moça pensou nos lindos filhos que teceria para aumentar ainda mais a sua felicidade.

          E feliz foi, durante algum tempo. Mas se o homem tinha pensado em filhos, logo os esqueceu.  Porque tinha descoberto o poder do tear, em nada mais pensou a não ser nas coisas todas que ele poderia lhe dar.

          — Uma casa melhor é necessária — disse para a mulher.  E parecia justo, agora que eram dois.  Exigiu que escolhesse as mais belas lãs cor de tijolo, fios verdes para os batentes, e pressa para a casa acontecer.

          Mas pronta a casa, já não lhe pareceu suficiente.
     — Para que ter casa, se podemos ter palácio? — perguntou.  Sem querer resposta imediatamente ordenou que fosse de pedra com arremates em prata.

          Dias e dias, semanas e meses trabalhou a moça tecendo tetos e portas, e pátios e escadas, e salas e poços. A neve caía lá fora, e ela não tinha tempo para chamar o sol. A noite chegava, e ela não tinha tempo para arrematar o dia.  Tecia e entristecia, enquanto sem parar batiam os pentes acompanhando o ritmo da lançadeira.

          Afinal o palácio ficou pronto. E entre tantos cômodos, o marido escolheu para ela e seu tear o mais alto quarto da mais alta torre.
          — É para que ninguém saiba do tapete — ele disse. E antes de trancar a porta à chave, advertiu: — Faltam as estrebarias. E não se esqueça dos cavalos!

          Sem descanso tecia a mulher os caprichos do marido, enchendo o palácio de luxos, os cofres de moedas, as salas de criados.  Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.

          E tecendo, ela própria trouxe o tempo em que sua tristeza lhe pareceu maior que o palácio com todos os seus tesouros.  E pela primeira vez pensou em como seria bom estar sozinha de novo.

         Só esperou anoitecer. Levantou-se enquanto o marido dormia sonhando com novas exigências. E descalça, para não fazer barulho, subiu a longa escada da torre, sentou-se ao tear.

          Desta vez não precisou escolher linha nenhuma. Segurou a lançadeira ao contrário, e jogando-a veloz de um lado para o outro, começou a desfazer seu tecido. Desteceu os cavalos, as carruagens, as estrebarias, os jardins.  Depois desteceu os criados e o palácio e todas as maravilhas que continha. E novamente se viu na sua casa pequena e sorriu para o jardim além da janela.

          A noite acabava quando o marido estranhando a cama dura, acordou, e, espantado, olhou em volta. Não teve tempo de se levantar.  Ela já desfazia o desenho escuro dos sapatos, e ele viu seus pés desaparecendo, sumindo as pernas.  Rápido, o nada subiu-lhe pelo corpo, tomou o peito aprumado, o emplumado chapéu.

          Então, como se ouvisse a chegada do sol, a moça escolheu uma linha clara.  E foi passando-a devagar entre os fios, delicado traço de luz, que a manhã repetiu na linha do horizonte."

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Lavoisier, Pessoa e eu

Lavoisier, reconhecido como o "pai" da química moderna disse ... Na Natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma. ” ...

"O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente."
Fernando Pessoa

Copiando e criando....

"O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é amor
O amor que deveras sente."
Marisa Fontana

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Par ou impar?




Mães e filhos
Pães e milho
Lua e karmosa sina
Doutrina fina
afina os olhos da menina
Na menina dos olhos
a doçura ensina.


segunda-feira, 9 de junho de 2014

Sobrevivente

Os fantasmas nos porões da memória.
Fantasmas de lutas inglórias.
Se acelera o coração.
Aumenta a frequência da respiração.
O assombro cria a indecisão:
Num passado que não mais existe, estarão lá?
No destino desviado, estarão cá?
No redemoinho do labirinto da memória, naufrago.
Na superfície do inconsciente, boio e nado.
Na praia contemplo as estrelas e a lua graciosa.
Sinto o vento nos cabelos e respiro aliviada.
Sou sobrevivente.

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Entre guerras e amores

Palavras arrastam sensibilidades miúdas para as regiões pantanosas da existência;
Lutas pela sobrevivência confrontam conceitos, palavras, discursos e teorias;
Aos poucos, nas asas do amor e da dor, concretidões recuperam perfumes, cheiros, sentimentos e alegrias;
O silêncio  remenda corpos em frangalhos e costura fragmentos de alma.
A ciência do bem separa as palavras mal-ditas (maldições) das palavras ben-ditas (bênçãos).
Espero, apreciando o horizonte.

terça-feira, 28 de maio de 2013

Indagações Filosóficas?


Todo o instinto pode ser sublimado? Inclusive o da dor? Até que ponto? Buscando respostas e novas dúvidas no dialogo com:

http://www.cefetsp.br/edu/eso/filosofia/freudchaui.html

http://br.answers.yahoo.com/question/index?qid=20070222171055AAcHyBD

http://www.psicoloucos.com/Psicanalise/sublimacao.html

http://psiqueativa.blogspot.com.br/2009/06/arte-da-sublimacao.html

http://lucasnapoli.com/2009/12/16/o-que-e-sublimacao/ 

Uma das respostas iniciais:
 A psicanálise criou novas formas de entender, explicar, organizar e contar as histórias. 

Novas dúvidas:
 Que novas formas são essas?
Pão e circo é sublimação coletiva? De quê mesmo?