segunda-feira, 11 de março de 2013

O espírito feminino do REDE



Estamos vivendo um novo tempo na política com a criação de um partido de nome Rede Sustentabilidade. http://www.brasilemrede.com.br/Novo não é só o nome, mas as possibilidades práticas de avançarmos rumo a realização de alguns sonhos de democracia, ética, dignidade, justiça social e relação harmoniosa com a natureza, dentre outros que atualmente se encontram somente no plano das utopias e ideais humanos.

A ideia de Rede nasce principalmente dos batalhadores pela sustentabilidade ambiental a partir da experiência de construção de políticas públicas transversais para essa área. No entanto, para mim, sempre que se fala em Rede, baixa da memória, em certa medida, uma feminista. Explico o porquê: ao longo da minha vida sempre participei das lutas pela promoção e garantia dos direitos das mulheres, da harmonia entre os gêneros, pela superação de realidades de discriminação, preconceito, injustiças e desigualdades de gênero. Na busca de entender o que leva a essa realidade costumo manter o foco nas relações de poder, como se constituem e se modificam, suas questões ontológicas, suas histórias, dentre outras questões relacionadas a isso.     

Ocorre-me sempre que aprendemos relações de poder desde o útero materno.  Lá somos mobilizados pelas sensações oriundas do estado psicoemocional de nossas mamães. Esse estado é comumente construído a partir das relações que ela está vivenciando no mundo, particularmente na geração de um novo ser onde participa sempre o sexo oposto.  Esse fato nos marca nas profundidades de nossa psique nos dando “régua e compasso” para lidar com as relações de poder no mundo.

Os movimentos de mulheres, as feministas e hoje em dia a sociedade em geral, percebe que as relações de poder em nossa sociedade são marcadas por relações baseadas em estruturas verticais e hierárquicas e essas hierarquias em geral favorecem desigualdades diversas entre os seres humanos e destes para com a natureza. Portanto mudar as estruturas hierárquicas sempre foi um dos propósitos feministas e dos movimentos de mulheres.  As estruturas de rede sempre foram idealizadas como alternativas ao modelo hierárquico e por consequência como estruturas adequadas à superação de desigualdades. Estão sempre presentes nas formas de organização dos próprios movimentos. Minhas primeiras experiências em pensar e por em prática estruturas horizontais vem dos movimentos de mulheres.   Posteriormente na construção de políticas públicas em atenção às mulheres em situação de violação percebemos que atendimento em rede é a estratégia ideal.

A inspiração das mulheres para o feitio das estruturas de rede nasce de suas lutas e resistências cotidianas, de seus fazeres sempre na linha do cuidado com crianças, idosos, enfermos e feridos (enquanto os homens vão para a guerra). Nasce também da experiência singular de gestar, onde divide seu próprio corpo, suas esperanças e aflições, a sede, a fome, a saciedade, o prazer, o próprio ar que respira com outro ser. Nessa experiência aprende outra matemática, onde dividir é igual a somar.

Ao olharmos com profundidade uma situação de violação em que uma mulher está submetida, percebemos múltiplos fatores gerando uma agressão física, por exemplo, ou um assédio sexual no trabalho. Diante disso demanda-se a múltiplas intervenções na erradicação das mesmas, assim a constituição de redes torna-se uma opção natural nos processos de erradicação da violação e atuação consequente.

No entanto, a mudança das estruturas por si só não garantem as mudanças significativas que precisamos. Precisamos nos atentar à alma, aos valores de quem constitui redes para que elas não se tornem embalagens modernas de vícios antigos.

Construir redes é reelaborar-se cotidianamente numa perspectiva sistêmica de pensar e fazer, numa mimese da natureza que assim é.        

segunda-feira, 4 de março de 2013

O Melhor carnaval da minha vida


Os melhores carnavais para mim foram aqueles que ocorreram na adolescência, uns dois ou três anos talvez, quando eu juntava pedaços de retalhos e algumas roupas gastas pelo uso e confeccionava uma “fantasia” para ir à matinê num dos clubes de Rio Branco no AC, com entrada franca. A inocência, alheia à situação política do país da década de 1970, nem sonhava que enquanto eu brincava algumas pessoas também suavam em lugares ermos, buscando um refúgio além da fronteira para continuarem vivas, nem precisariam poder brincar.
A segunda-feira de carnal de 2013 superou a alegria do passado, esse sem dúvida foi o melhor carnaval da minha vida.
Em Nova Iguaçu, RJ, bairro de Cabuçu, na casa de Lírian Tabosa, a poeta e professora de 80 anos e homenageada pela Grêmio Recreativo da Escola de Samba Império de Cabuçu, nos dava o prazer de ouvir fragmentos de sua história de vida, relatados num misto de lágrimas e bom humor, como ela foi abraçada aos 9 anos de idade pelo Cavalheiro da Esperança, Carlos Prestes; como viu o Comandante Che Chevara pela primeira vez na União Nacional dos Estudantes – UNE, que, funcionava no bairro do flamengo, no rio de Janeiro e pela segunda vez em La Paz capital da Bolívia, país em que ela foi exilada.
Relatou também, como foi sua prisão de trinta e três dias em La Paz, quando Che, ícone da Revolução Cubana foi assassinado por capangas do imperialismo; e mais, como foi a sua longa caminhada para sair do Brasil rumo ao exílio, escondendo-se em matagais e tendo como último recurso para atingir seu intento, saltar para o “trem da morte”, já em movimento e ficar escondida em um vagão, que por sorte estava completamente vazio. Esses momentos inspiraram Lírian a escrever muitas poesias como “A Fuga”:
Encontro-me em um lugar
onde só se escutam
músicas sentimentais paraguaias.
Já entrei em cena e como ator ou atriz
                        encontro-me também
                        no palco do drama do exílio.
A fuga é triste,
é  uma bambolina
de solidão e saudades,
contudo, seguirei o caminho
para que mais longe do Brasil,
com lágrimas me afaste.
O hino de 2013 da Escola de Samba Império de Cabuçu ressalta aspectos da vida de Lírian dizendo que, “seus livros são a voz de liberdade Mao Tsetung, Che Chevara, inspiração, seus poemas encantam corações”. Poemas que foram feitos, por uma história de perdas, como amores, a liberdade e o emprego no antigo Departamento de Estradas e Rodagens – DNER, que hoje lhe permitiria ter uma vida financeira melhor, pois para ela ter um conforto a mais, que a idade requer, conta com o apoio de familiares mais abastados. Essas perdas nos fazem compreender o trecho de seu poema, 
“Estático Tempo:*
Vou enfraquecendo,
Enfraquecendo...
As rugas mostrando
tais fenômenos
até um dia, eu matéria
apodrecer também
e o EU personalidade
imortal, alhures, olhares,
em outras dimensões
não terei saudades
deste mundo onde paguei.
O encontro deu espaço a muitas cantorias, que Lírian dedilhava no violão, músicas que ela cantava nos bares da Bolívia durante o exílio, para ganhar um dinheirinho, até que ela começasse a dar aulas de reforço de física, química e matemática. Segundo ela esta habilidade foi desenvolvida numa pequena sala, que seu pai preparou com um quadro negro (verde), observação dela, onde auxiliava seus irmãos e sobrinhos a se prepararem para o vestibular. Ainda durante o encontro podemos ouvir o Hino da Internacional Socialista, cantado por Jorge Carlos (Mané do Café) e assistir o documentário “O regresso”, sobre o corteja aos restos mortais de Che Chevara, em Cuba. Por diversas vezes Lírian chorou vendo o filme que ela já assistiu muitas outras vezes, mas o amor pelo Comandante Che a emociona toda vez que fala seu nome.
Estes foram os motivos que me levaram ontem, à Avenida Marechal Floriano Peixoto, em Nova Iguaçu, que se situa na tão sofrida baixada fluminense, para desfilar e cantar até faltar o fôlego, o hino da Império de Cabuçu, na companhia de Lírian e dos amigos dela que integravam a Ala dos Artistas.
O desfile foi na verdade um protesto contra a Prefeitura daquele município, que negara o justo apoio financeiro às Escolas de Samba, havendo repassado um valor insignificante, na opinião do Presidente da Escola. Em Nova Iguaçu não teve disputa, jurados e nem notas, enquanto o luxo escorria no sambódromo da Sapucaí. Mas tivemos dois justos motivos para suar na avenida – a poesia de Lírian Tabosa e a indignação por uma política viciada que sobrevive ao longo de toda a história do Brasil, reforçando as desigualdades.

Eliana de Castela 

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Canção


Todos vivemos,
em alguma medida,
o pé na senzala
e a delícia das asas.
Nessa tensão
se vai a vida,
revezando silêncio
e som,
como canção,
nas cordas de um violão.


terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Dádiva Divina

Ah, se Deus me desse
a dádiva de te dar um presente:
um amor diferente.

Livre,
dos fetiches que nosso ego constrói,
que flua do peito tal qual fonte que jorra
água cristalina e corrente.

Que sobreviva,
às intempéries
e as tempestades,
à distância e
à proximidade.

Que exale de mim
como cheiro de flor,
como calor.

Que seja assim este amor,
a vibração de meu ser.

Ps. Escrito em novembro de 1999. 

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Vigias, vigilias...

Cercas vigiam,
Olhos vigiliam,
Fecham caminhos,
Trancam portas e portões.
O coração no interior da flor.
Semente do bem.
Viaja  para além.
Na estrada o sol clareia, horizontes...
Infinita liberdade,
em terras que se perdem da vista,
de olhos que vigiliam,
de cercas que vigiam.
 

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Para 2013

Pai amado,
Estou dando os primeiros passos em um novo ano... Peço para ele a tua bênção e a tua luz, para que eu o transforme em dias plenos de felicidade, não apenas para mim, mas para todos aqueles que estarão em contato comigo a partir de agora!...
Que eu saiba administrar o novo tempo conforme tua lei e vontade e o receba com respeito e gratidão, como preciosa oportunidade de progresso, praticando sem restrição as virtudes que enobrecerão a minha vida e a vida de todos ao meu redor.
Neste novo ano, que eu pelo menos tente seguir mais a tua lei de amor e verdade e menos as frágeis e volúveis convenções humanas, que me conduzem quase sempre primeiro à ilusão e depois ao sofrimento...
Que eu seja sincero em minhas afeições e honesto em minhas relações... Que a mentira não manche minha consciência para que a vergonha mais tarde não me martirize o coração!...
Que eu saiba ser tolerante com o modo de ser de toda e qualquer pessoa, seja no âmbito afetivo, pessoal, racial ou social.. Não podendo ainda aceitar ou compreender, que eu ao menos abdique de censurar ou condenar aquilo que venha por ventura a me escandalizar...
Todos somos de Deus, desde o menor até o maior. Não me cabe portanto julgar a Criação, mas colaborar para que ela seja harmoniosa e pacífica dentro de todas as minhas possibilidades.
Que eu saia ao encontro de meus irmãos recebendo-os em meu coração tal qual são, sem o impulso de modificá-los ou de adaptá-los ao meu jeito de ser...
Que eu tente amar sem condições ou exigências e experimente assim a felicidade de querer bem sem esperar retribuição ...
Que eu consiga olhar nos olhos dos outros com toda a ternura de que sou capaz, sem esperar que me fitem com a mesma intensidade e carinho...
Que eu ajude, que eu perdoe, que eu compreenda, que eu tolere, que eu ame, enfim! O mundo perfeito, de paz e conciliação não começa nos outros, começa em mim mesmo!
Que eu não queira ser grande apenas, que eu queria ser grande e bom!
A melhoria em todas as áreas é obrigação nossa perante a vida, mas de que vale esse crescimento se destituído de bondade e compaixão?
Que eu seja, em Teu Nome, consolo, fé e esperança.
Que eu seja paz, equilíbrio e segurança!
Que eu seja teu servo fiel, o teu trabalhador incansável...
Que eu supere meus medos mais recônditos e acredite em Ti, acima de qualquer risco ou temor!...
Que eu seja, Pai, neste novo ano e em todos os demais, o aprendiz sincero do Amor Maior do qual nos originamos e para o qual retornaremos um dia, plenos de luz e sabedoria, para encetar, ainda com o Teu amparo, novos e gloriosos vôos espirituais.

Assim seja!...

Psicografia do Instituto André Luiz, 31.12.2011 e publicado no site na mesma data. (Com registro BNB)

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Multiuniverso da nudez



"E penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e com os pés
E com o nariz e com a boca.
(...)
O essencial é saber ver,
Saber ver sem estar a pensar,
Saber ver quando se vê,
E nem pensar quando se vê
Nem ver quando se pensa.
Mas isso (tristes de nós, que trazemos a alma vestida!),
Isso exige um estudo profundo,
Uma aprendizagem de desaprender."

                                                                                                                                   FERNANDO PESSOA